Num mundo dominado pelo turismo de massa, Moçambique é um alento. E se qualquer lugar no país já é off the beaten track por definição, Ponta Mamoli é praticamente um enigma – nenhum dos viajantes que cruzei por outras bandas do país tinha ouvido falar do lugar. Tem pinta de fim de mundo. Mas está a apenas 25 quilômetros da fronteira com a África do Sul e a 18 quilômetros da Ponta do Ouro, um dos destinos clássicos (se é que se pode dizer assim) da rota moçambicana. Com areia dourada e coberta de verde, Ponta Mamoli é uma praia de um hotel só, o White Pearl Resort, um senhor destino de lua de mel, para casais que não querem nem passar perto do trivial.
Dá pra chegar lá por conta própria de 4X4 tanto de Maputo quando da África do Sul, pela fronteira de Kosi Bay. Ou seja, o acesso é relativamente fácil para os padrões africanos. Mas a maioria do “povo” chega lá em alto estilo, literalmente, de helicóptero. Foi o primeiro voo-glamour da minha vida e, entre o medinho e a euforia, achei uma coisa de louco sobrevoar a turbulenta Maputo e, em apenas meia hora (o trajeto de carro demora oito vezes mais), aterrissar no paraíso. Do alto, dá pra ver quilômetros e quilômetros de praias intocadas. Moçambique ainda tem tanto a oferecer…
Encontrei o White Pearl Resort via google enquanto pesquisava sobre mergulho no sul de Moçambique. E, ainda que a meca do esporte no país seja a famosinha Praia do Tofo, foi lá, supreendentemente, que fiz a melhor imersão da viagem. Depois de vencer a arrebentação num bote de borracha (uma operação divertidíssima, “com emoção”), vimos incontáveis tipos de arraias e uma família inteira do raríssimo tubarão-guitarra, além de outros tubarões de arrecife e tartarugas. Fernando, o dive máster, um magrinho elétrico e de bem com a vida, vibrava como se aquele tivesse sido o primeiro mergulho da sua vida (adoro gente assim!). Vira e mexe, também dá pra ver arraias-jamantas e tubarões-baleias por lá. E, na época certa (inverno), a região de Ponta Mamoli é frequentada por baleias. Tanto o mergulho quanto os ocean safaris (passeios para avistar os grandes cetáceos) estão incluídos no preço da diária para hóspedes que ficam quatro dias ou mais.
Ainda que o milagre da internet wi-fi se materialize nesse lugar tão remoto, e que as suítes tenham TV via satélite, Ponta Mamoli é um lugar para ficar off-line. Estive por lá na baixa temporada, em fevereiro, no fim do verão moçambicano, quando o hotel estava quase vazio, o que aumentava a sensação de estar em um mundo à parte. A natureza é onipresente. Seja da cama ou da banheira, a vista para o mar é panorâmica. Para ir do quarto às áreas comuns – duas piscinas de borda infinita, altas salas de estar, bar, restaurante e dive center –, os hóspedes caminham sobre plataformas de madeira mergulhadas no meio da vegetação. Não há uma bituca de cigarro sequer jogada na praia: quilômetros de areias virgens banhada pelo inigualável Oceano Índico. No fim da tarde, milhares e milhares de caranguejos cor de rosa perambulavam pela beira-mar. Passei horas correndo entre eles, que faziam uma espécie de “ola” ao contrário (recuando) na medida em que eu avançava. Modo férias no talo, digamos..
Todos os ambientes têm paredes enormes de vidro, para não desperdiçar a vista para o mar. Tudo é muito branco e clean, mas uma série de luminárias inspiradas na vida marinha (anêmonas, medusas, corais) aplacam a mesmice. As fotos dizem mais.
Meus amigos deram risada pelo fato de eu ter engordado na África (eu sempre engordo, gente!). É que eles não viram o tamanho dos camarões na manteiga servidos no White Pearl – quase sempre pela sorridente Maria, uma das nossas anfitriãs. Também não viram o café da manhã nababesco, com direito a benedict eggs perfeitos, iogurte caseiro, pães, bolinhos… E o que dizer dos samosas (pasteizinhos que representam a herança indiana na gastronomia local) que embalavam o gin & tonic da happy hour? Isso sem falar nas surpresinhas que nosso mordomo (sim, senhor), o doce Jonas, sacava da cartola: piquenique na praia, por exemplo, com direito a prego (sanduíche de filé herdado da colonização portuguesa), camarões, rissoles (outra dos portugas), salada, bolo e… uma champa. Como não engordar feliz?
Passeios a cavalo estão incluídos na diária. Mas eu, urbanoide que jamais montou um pônei de festa junina, me contentei enormemente com chafurdar nos pufes brancos da praia e, entre cortinas esvoaçantes, esperar a hora de ir para o spa. De carrinho de golfe.
*** As diárias, com todas as refeições, bebidas e atividades incluídas, custam a partir de US$ 570 por pessoa. Mas é possível passar só o dia por lá (se você vem de Ponta Mamoli), aproveitando bar, restaurante e piscinas por uma consumação mínima bem razoável.
Sem malária
A presença da malária é sempre uma preocupação de quem vai para grande parte dos países da África. Mas Ponta Mamoli está em uma das pouquíssimas regiões de Moçambique em que o risco é praticamente inexistente. Uma coisa bem importante a menos para se preocupar.
Kruger + Ponta Mamoli
Ponta Mamoli está mais perto da África do Sul do que da própria capital de Moçambique, Maputo. Por isso, é uma esticada bastante viável para quem está no Kruger Park. O hotel opera um voo que dura apenas 1h15 até Kosi Bay (outro lugar lindo!), ainda em território sul-africano, aonde você também pode chegar tranquilamente de carro. De lá, os hóspedes seguem em uma pick-up do hotel por mais uma hora.
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