A estradinha morro acima é milimetricamente suficiente para um carro, e sobe num ziguezague que exige proeza do motorista. Escondido dos problemas do mundo entre vinhedos e milharais, o hotelzinho Liñares (€ 60 o casal em plena alta temporada) foi o meu grande achado durante a viagem ao norte da Espanha. Sob o comando de Manuel, um senhor infinitamente gentil que sorri com os cantinhos dos olhos, o lugar é uma ampliação (profissionalíssima, nada de puxadinho) da casa de sua família, instalada num grande terreno com piscina no alto de uma colina. Entre a linda cidade de Pontevedra e o vilarejo de Combarro (um lugar absolutamente inacreditável que renderá um post per se), o hotel tem vista para a Ría de Pontevedra. Na região galega das Rias Baixas, quase na fronteira com Portugal, as “rías” são braços de mar que avançam terra adentro formando paisagens absolutamente únicas.
Come-se estupendamente bem nas Rias Baixas – SERIAMENTE bem. Senhor Manuel disse tudo: “Como aqui o tempo não costuma ajudar, a gente ataca o Mediterrâneo com a gastronomia”. É a pura verdade, ainda que tenha sido brindada com dias impolutamente azuis por lá (obrigada, universo!). Mas poderia ter chovido esgoto na minha cabeça, e eu ainda ficaria imensamente feliz de ter estado lá, só por causa da gastronomia.
Nessa questão eu devo mais borbulhas de amor pelo senhor Manuel. Ali no seu pedaço, a cinco minutos do hotel, há dois magníficos restaurantes escondidos, literalmente – não há a menor chance de você chegar até eles sem explicações detalhadas e/ou GPS. Um deles é o superelegante O Eirado das Margaridas, onde fui às lágrimas com um espetinho de camarões e rape (um peixe de carne densa e saborosa). O outro é A Nova Cepa, cujas almêijoas foram um divisor de águas na minha vida… (acho que vale um post à parte… espera aí).
Fui parar nesse éden meio por acaso. Depois de pesquisar sobre hotéis em algumas cidades da região, especialmente em Pontevedra, e não sentir vontade de ficar em nenhum, entendi o espírito da coisa: Rias Baixas é um lugar de turismo rural. O melhor a fazer, sem dúvidas, é encontrar um lugar cercado de paz, no campo, e ter um carro à mão para circular.
Não há uma grande atração bombástica por lá (isso você deixa para Santiago de Compostela). E nisso reside o seu encanto. A delícia desta região é degustá-la em pequenas porções, saltando de vilarejo em vilarejo e, entre eles, garimpar os melhores mirantes, paisagens e praias. Ah… as praias.
Enquanto multidões se espremem no Mediterrâneo, as Rias Baixas têm praias que não cabem numa viagem só. A meia hora do hotel Liñares, passando por lugares belíssimos, a minha eleita foi a de Lanzada, nos arredores do vilarejo de O Grove: areia branca, pouca gente, nenhuma construção, água cristalina (e eletricamente gelada) e uma discreta barraquinha vendendo Estrella Galícia (a melhor cerveja da Espanha) e frutos do mar perfeitos.
Eu insisto: a felicidade é uma barraca de praia com Estrella Galícia, os melhores frutos do mar que humanidade pode almejar e a brisa fresca do Atlântico batendo no rosto.
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