Interrompemos momentaneamente a nossa programação australiana porque já estou de volta à minha querida Barcelona e ontem estive no El Nacional, a grande novidade dos últimos tempos na capital catalã. Grande mesmo. Numa cidade em que predominam os “lugarzinhos”, soa como surto de megalomania. São quatro restaurantes e quatro bares num espaço de 2 400 metros quadrados (sem contar cozinha e bastidores, que esticam o espaço para 3500 metros quadrados) ao qual se tem acesso por um bequinho quase secreto no magnífico Passeig de Gràcia – que acabou de ter suas calçadas ampliadas e está mais arrasador do que nunca. O El Nacional tem capacidade para uma multidão de 770 comensais ao mesmo tempo. Ontem, quinta-feira, havia longas filas de espera em todos os restaurantes.
Postei uma foto no meu Instagram hoje e uma amiga perguntou: “Nossa, um navio de cruzeiros estacionado no centro de Barcelona?”. De fato, o lugar tem uma pompa e um brilho atípico para o estilão hipster-hippie (se é que você consegue imaginar uma mistura das duas coisas) que predomina na cidade. Mas está bem longe de descambar para o brega.
O edifício de pé direito de 8 metros é do final do século 19. As referências históricas não são muito precisas, mas sabe-se que a estrutura já abrigou um café-teatro, uma fábrica têxtil, uma loja de automóveis e, na Guerra Civil, serviu como galpão para coleta de alimentos. Mais tarde, foi um mero estacionamento, até ficar abandonado.
A colossal concepção do autoproclamado “maior espaço gastronômico da Espanha” demandou um investimento de 6 milhões de euros. Se nota: cerâmica valenciana, vitrais galegos, uma profusão de mármores, cadeiras de design, madeira nobre. É bonito de se ver, e fiquei com a sensação que muita gente vai lá pra isso mesmo. Os restaurantes ficam nas laterais e os bares são ilhas no meio do salão. Sentada no Oyster Bar, cheguei a ter vertigem de tanta gente andando ao redor, no maior estilo “vamos dar a volta no trio”. Além do bar das ostras, há um especializado em vinhos, um em coquetéis e outro em espumosas, na frente do qual vi várias pessoas munidas de potes de conserva cheios de cerveja (a pessoa que inventou que drinque em pote é moderno está rindo de nós neste momento).
O restaurante La Paradeta é um café com pratos leves; na Taperia estão as tapas, como o nome sugere; La Llotja é o cantinho dos peixes e frutos do mar; e da Braseria saem cortes de carne grelhados (além de um cheirinho irresistível de lenha). Tudo estava tão cheio que acabamos ficando no Oyster Bar para sempre. As ostras (mediterrâneas, galegas e francesas) estavam fresquíssimas – e eram caras, de € 3 a € 6,25 por unidade. A tábua de vestígios de queijo era ínfima (poderia facilmente ter engolido a porção em apenas uma bocada), a €13. O delicioso tartare de atum vermelhíssimo valeu minha noite por razoáveis € 12. Também achei bem aceitável o preço da bebida. Uma tacinha do excelente cava Juve y Camps por € 3,50 em pleno Passeig de Gràcia não está mal.
Apesar da comida correta, saí do “maior espaço gastronômico da Espanha” com a nítida impressão que o foco está menos no gastronômico e mais na própria grandeza. É definitivamente um lugar-espetáculo. É social até no banheiro, que é misto (a pessoa que inventou que banheiro misto é moderno está rindo de nós neste exato momento). Detalhe: na saída do banheiro há uma bizarra penteadeira-camarim dentro de um aquário de vidro. Não é uma sacada genial retocar a make-up e tirar o verdinho do dente em praça pública?
Implicâncias à parte, é a bola da vez em Barcelona. Como é novidade, ainda está sendo frequentado pelo povo daqui (os engomadinhos da cidade alta nunca chegaram tão perto do Centro). Mas se você vai visitar a cidade no verão, prepare-se para dividir o Nacional com uma multidão de turistas. No auge da temporada, o pulo do gato vai ser aostar em horários alternativos, aproveitando que as cozinhas funcionam sem interrupções do meio-dia até a 1 da matina.
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