Espanha é hoje o país com o maior percentual da população completamente vacinada contra o coronavírus entre os 50 países mais populosos do mundo, de acordo com os dados da Universidade de Oxford. Até agora, 55,2 milhões de doses foram aplicadas e 56,3% dos 47 milhões de habitantes já está imunizada. Nos Estados Unidos, por exemplo, a marca atual é de 49,8% e, na Alemanha, 51%, segundo os dados do Our World in Data. Contraditoriamente, a nação ibérica também é um dos lugares mais afetados da Europa pela variante Delta, que começou a se espalhar entre os jovens no fim de junho, com as festas de San Juan e de final de curso, quando o programa de vacinação ainda não tinha chegado à faixa etária de menos de 30 anos (atualmente, toda a população com mais de 12 anos pode se vacinar se quiser). Aqui, conto um pouco de como está sendo viver entre esses dois cenários.
Em meados de junho, antes da Espanha inaugurar a que tem sido chamada de “quinta onda”, escrevi um post contando sobre o clima de fim de pandemia que reinava por aqui. De lá pra cá, a taxa de contágio deu uma bela piorada e a variante Delta tornou-se a predominante no país. Nos hospitais, o número de pacientes jovens é preocupante. O clima geral, no entanto, é de como se nada estivesse acontecendo.
Desde o fim de junho, o uso de máscara não é mais obrigatório em espaços públicos ao ar livre e calculo que menos da metade das pessoas estejam usando o “acessório” para andar na rua – ainda mais depois que o calor apertou. Em Barcelona, bares e restaurantes estão cheios e, ainda que a quantidade de visitantes esteja longe de ser a mesma de um ano normal, a sensação é de que o turismo saiu da UTI. Região mais afetada do país pela “quinta onda”, a Catalunha está com as medidas preventivas mais rígidas atualmente. Mesmo assim, elas parecem extremamente suaves se compararmos ao lockdown que tivemos: toque de recolher da 1h às 6h, casas noturnas fechadas, 70% de lotação máxima em lojas, teatros e outros espaços e reuniões de, no máximo, 10 pessoas.
Em Menorca, uma das Ilhas Baleares, onde estou agora, 95% dos hotéis estão abertos, as praias estão cheias e só me lembro que a pandemia ainda está entre nós ao ler o jornal ou colocar a máscara para entrar no supermercado. No resto do tempo, a sensação é de normalidade total. Por aqui, mais de 70% da população está totalmente vacinada e o governo local acaba de iniciar uma campanha mais agressiva para convencer o restante a se imunizar, já que milhares de doses ficaram encalhadas na última semana, mesmo com o número de casos entre não vacinados altíssimo para os padrões locais.
Totalmente vacinada desde junho, ainda tenho evitado restaurantes ou bares fechados e tomando os cuidados básicos. Me sinto meio nua andando sem máscara nos centros urbanos e achei esquisitíssimo que um conhecido, com quem tenho zero intimidade, tenha me cumprimentado com beijos dia desses.
Devido à alta de casos na Espanha, a França recomendou não viajar ao país vizinho este verão. Mas basta sair na rua pra ver que há mais franceses por aqui agora no que em Paris. A Alemanha e a Inglaterra, entre outros países, passaram a exigir quarentena das pessoas NÃO VACINADAS que retornem das férias na Espanha. Mas nada indica que fechamento de fronteiras ou outras medidas mais severas devam ser tomadas a curto prazo.
Entre os países da Europa, a França vem sendo o mais incisivo no sentido de condicionar o acesso a certos espaços, e até empregos, à vacinação, sendo seguida pela Itália e a Alemanha. Quem não está imunizado não poderá participar de festivais, ir a casas noturnas, frequentar museus e cinemas e até viajar em trens de longa distância. Essas medidas vêm gerando grande polêmica, mas já sinalizam como pode vir a ser o futuro em boa parte do mundo, com vacina não obrigatória na teoria, mas sim na prática. Vivendo um verão praticamente normal apesar do aumento do número dos casos, a Europa também pode ser vista como um laboratório de como será a convivência com o vírus nessa etapa mais avançada da pandemia, com boa parte da população vacinada, mas ainda tendo um longo caminho a percorrer. É um mundo perfeito? Não. Mas é o que temos para hoje. E é melhor do que tivemos ontem.