Achados

Adriana Setti escolheu uma ilha no Mediterrâneo como porto seguro, simplificou sua vida para ficar mais “portátil” e está sempre pronta para passar vários meses viajando. Aqui, ela relata suas descobertas e roubadas
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Bodega 1900, o “boteco” de Albert Adrià em Barcelona

Climinha de boteco, pero no mucho

Por Adriana Setti
Atualizado em 26 set 2019, 15h12 - Publicado em 9 out 2015, 10h50

Após encerrar a era El Bulli, em 2011, o chef Ferran Adrià deu muitas entrevistas nas quais disse que gostaria de fazer um tipo de cozinha acessível a um número maior de pessoas. Comer no restaurante com o qual ficou mundialmente famoso, de fato, era para pouquíssimos. Não apenas pelo preço do menu degustação, que passava de € 200, mas também pela longa e obscura fila de espera (que podia durar anos sem sucesso). Com a ideia de “ir pra galera”, Ferran e seu também genial irmão Albert abriram o brilhante bar de tapas Tickets. Mas o objetivo pop não chegou a ser atingido: as reservas continuam sendo disputadíssimas e o preço, ainda que valha cada centavo, é salgado para a maioria dos mortais (mais de € 80 por cabeça sem bebida para sair de lá satisfeito). Então eles tentaram de novo. Com a Bodega 1900, conseguiram finalmente chegar perto de serem realmente mais acessíveis.

O “boteco” é o estabelecimento mais relax do império que os irmãos Adrià (com Albert à frente) ergueram entre Sant Antoni e o Poble Sec, em Barcelona, uma região que eles mesmos apelidaram de “Barri Adrià” (“bairro Adrià”). A ideia é que seja um bar de toda la vida, ideal para tomar um vermute (o aperitivo que é uma religião aqui na Catalunha) e beliscar comida de botequim. Mas aí é que está: comida de botequim da melhor qualidade possível e com um twist Adrià. Com eles, não tem ponto sem nó. Não tem lugar comum.

bodega1900fachadaA entrada da Bodega 1900  (Foto: divulgação)
bodega19006Climinha de boteco, pero no mucho (foto: divulgação)
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bodega-19002A sala onde dá pra ver o preparo dos pratos frios (eu sentei nessa mesinha da direita)

Assim como outros embutidos, o jamón é da marca Joselito, a Ferrari do presunto curado, com produção limitadíssima. A azeitona é a clássica esferificação (uma “bolha” recheada de azeitona líquida), que nasceu no El Bulli. As anchovas são as melhores do Mar Cantábrico. Os chips de batata são cortados como lâminas e fritos in loco com azeite de oliva. O pão com tomate é uma crostinha que estilhaça na boca e arranca lágrimas – um mísero pão com tomate esfregado, santo deus! O sanduichinho de lula vem com anéis minúsculos e crocantes, num pão que dissolve na boca e faz a pessoa ter vontade de sair engatinhando pelo chão de prazer. Sobremesa: figos suculentos, quase eróticos, com sorvete de mascarpone defumado.

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A pena, diante da perfeição da comida, é o vermute ser da Martini e a cerveja (como em todos os restaurantes da dupla) ser a porcaria da Estrella Damm (que desabou em qualidade nos últimos anos) – culpa de contratos publicitários, patrocínios e coisa e tal. O jeito, pra beber bem, é recorrer à boa e enxuta carta de vinhos. O preço dá aquela subida básica, mas você não precisa de uma Neosaldina depois do café.

Boteco, pero no mucho. O garçom serve o vinho gentilmente. O serviço é impecável. Cada prato é explicado. O staff, aliás, é um exército jovem, guapo e pilhado. Quem senta nas mesas da antessala (como eu fiz) pode acompanhar o preparo dos pratos frios ao vivo. Tem sua graça, ainda que o salão interno seja mais aconchegante.

20151008_224218Figos com sorvete de mascarpone defumado
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Reservar não é nenhum drama. É o único restaurante do grupo que aceita reservas por telefone (+34 993-252-659) e e-mail (reservas@bodega1900.com). Pelo sistema de reservas on-line também funciona de maravilha. E, veja só: tem vaga até para amanhã! Ou seja, se você for minimamente organizado, consegue.

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