Desde que assumiu o mandato em 2015, a prefeita de Barcelona Ada Colau declarou guerra contra o aluguel ilegal de apartamentos por temporada através de plataformas digitais. Depois de conseguir um acordo com o HomeAway e o Booking para a retirada dos imóveis sem licença turística, a prefeitura da capital catalã chegou a multar o AirBnb, que resistia bravamente, em €600 mil. Sob a ameaça de uma segunda paulada no mesmo valor, a gigante californiana finalmente cedeu.
A partir de agora, o site se compromete a tirar do ar os apartamentos sem licença turística indicados pela prefeitura de Barcelona (que, pelo menos até agora, não tem acesso aos dados das transações que acontecem via AirBnb). Ou seja, para isso acontecer, o imóvel já precisa constar em uma suposta “lista negra”, muito provavelmente formada por aqueles que já foram denunciados por seus vizinhos e que são apartamentos utilizados exclusivamente para o aluguel turístico. A médio prazo, a ideia é excluir todos os ilegais, o que diminuiria drasticamente a oferta desse tipo de acomodação na cidade.
Ao menos por enquanto, nem o AirBnb e nem a prefeitura pretendem vetar as pessoas que, mesmo sem licença turística, disponibilizam as suas casas quando saem de viagem ou alugam quartos para viajantes – a proposta inicial da plataforma, afinal de contas. No entanto, não há uma regra clara para essa modalidade. O mais fácil, ao meu ver, seria limitar o aluguel a X dias por ano, o que deixaria de fora os especuladores. Mas não se sabe ao certo quando e se isso vai acontecer.
Não é a primeira vez que bato na tecla do efeito colateral causado pelas plataformas de aluguel de temporada. A questão é que vivo em Barcelona, provavelmente uma das cidades mais afetadas por esse fenômeno universal: aluguéis caríssimos, edifícios sem moradores fixos, bairros tradicionais desfigurados. Sendo assim, apesar de preferir me hospedar em apês ao invés de hotéis – e fazer isso frequentemente – estou cada vez mais consciente do problema que essa prática acarreta quando passa a ser uma nova forma de turismo em grande escala. Portanto, acho que é meu papel (como jornalista de viagem) levantar a discussão para que possamos encontrar uma forma de fazer isso de uma forma mais responsável.
A decisão do AirBnb no caso de Barcelona (vetar os especuladores mas manter os que realmente usam a plataforma para movimentar a “economia compartilhada”) pode até servir de exemplo para nós, viajantes. Ao alugar um apê pela plataforma em cidades que estão vivendo o mesmo tipo de conflito (Nova York, Miami e tantas outras), dar a preferência aos hospedeiros que genuinamente compartilham suas casas (basta perguntar: você mora no imóvel?), esquivando das empresas e dos especuladores, já é um bom começo.
Leia mais sobre o efeito colateral dos alugueis de temporada neste post e neste outro.
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