Um tempo atrás, publiquei uma lista de lugares aonde “não fui e não gostei”, falando sobre a implicância — algumas já reconsideradas — que nutria por certos destinos. Com Moçambique foi o contrário. Eu já havia gostado de lá muito tempo antes de ir. Tenho simpatia por lugares de história dramática – quesito que o país cumpre como poucos, infelizmente. E também me fascinava a ideia de poder estar num totalmente diferente do Brasil do ponto de vista cultural, e ao mesmo tempo me comunicar plenamente em português. Tinha tudo pra ser lindo. Mas a flechada foi muito além das expectativas. Depois de passar um mês nesse canto esquecido do mundo, à beira do Oceano Índico, minha lista para amar aquela terra não cabe num post. Mas aqui vão 10 pontos chave:
1. Pessoas. Pessoas. Pessoas
O lugar pode ser lindo, com paisagens de arrebentar o Instagram. Mas se o povo for desinteressado, cheio da marra ou antipático, a viagem dá uma bela brochada. Em Moçambique as pessoas são doces e abertas, mas sem aquela estridência do brasileiro, que já vai abraçando qualquer um e chamando de amigão. O moçambicano é mais recatado e se aproxima aos pouquinhos. Nesse sentido foi bom demais poder ficar bastante tempo e conseguir fazer amizades gostosas. Como turista, achei a abordagem dos locais sempre muito na medida (como em todos os demais países africanos que visitei, aliás).
2. O português é o idioma do paraíso
Moçambique tem mais de meia centena de línguas nativas e o português é o frágil elo entre elas. Frágil porque não é o primeiro idioma da grande maioria das pessoas. E uma parcela considerável da população (o índice de analfabetismo é de 48%!!!) tem dificuldade ou não consegue se comunicar no idioma. Ainda assim, mergulhar no jeito local de falar português foi uma das partes mais divertidas da viagem. Alguns exemplos? De graça é “na borla”; ônibus é “machibombo”; pé-de-pato (de mergulho) é barbatana; muito bom é “muito nice”…
3. As praias são fora da curva
Moçambique tem cerca de 2500 quilômetros de costa à beira do Oceano Índico, a maior indústria de paraísos tropicais do planeta Terra. Algumas são levemente douradas, com muitas dunas e ondas fortes. Outras são piscinas de água azul turquesa cercadas de areia banquíssima. Dois de seus arquipélagos, Quirimbas e Bazaruto, não fazem feio diante das Maldivas ou da Polinésia Francesa. O melhor de tudo? Uma enorme parte disso tudo ainda é totalmente virgem e intocada pelo turismo. O destino mais “famoso” do país, a Praia do Tofo, não é mais do que um simpaticíssimo vilarejo de ruas de terra com poucas pousadas e um punhado de restaurantes.
4. A comida é um espetáculo
Uma das fotos que postei no Instagram @drisetti deixou algumas pessoas loucas: praticamente um balde de espetinhos de vieiras (uma iguaria caríssima na Europa) pelo qual eu paguei cerca de US$ 5. É que a abundância de frutos do mar ainda é tanta, que coisas como camarões tigre e lagosta não são cercadas de frisson. Assim como Zanzibar (que está um pouco ao norte, na costa da Tanzânia), Moçambique também foi um entreposto comercial agitado no passado, recebendo mercadorias, pessoas e influências da Índia, do Oriente Médio e, claro, da Europa através dos portugueses. Por isso, a cozinha é condimentada com diversas pimentas e especiarias e pratos como o curry (que eles chamam de carril), fazem parte do cardápio local, assim como samosas, doces portugueses…
5. A variedade cultural é impressionante
Cerca de 20% da população de Moçambique é muçulmana, outra boa parte é de descendentes de portugueses (o país foi colônia lusitana até 1975!). Também há indianos e mais de meia centena de grupos étnicos que falam as suas próprias línguas e têm os seus próprios costumes. Por essas e outras, é normal que um moçambicano se vire em mais de sete idiomas. Os que receberam educação acabam tendo uma facilidade absurda para aprender (é surpreendente, num com educação tão defasada, a quantidade de gente que fala inglês). Tudo isso torna a viagem ainda mais interessante e enriquecedora.
6. O turismo ainda é um bebê
Nos dias de hoje é cada vez mais difícil encontrar algo realmente off the beaten track, onde não haja um Starbucks em cada esquina e um exército de turistas disputando espaço. Moçambique é uma joia rara nesse sentido, uma volta no tempo e, obviamente, um território fértil para viajantes com espírito de aventura.
7. A capital, Maputo, tem o seu charme
Em grande parte dos países africanos, as cidades grandes são lugares dos quais você desejaria manter distância. Maputo, a capital Moçambicana, é uma grande surpresa nesse sentido – guardadas as devidas proporções. Do alto, dá pra ver que a cidade é um mar de pobreza com uma pequena ilha de prosperidade. Mas esse pedacinho bonito da cidade vale pelo menos um ou dois dias. O Centro ainda mantém com certa dignidade alguns edifícios do período colonial e, além de um parque bonito recém restaurado, também tem bons restaurantes e uma vida noturna agitada.
8.É relativamente fácil viajar pelo país
A viagem até teve momentos de perrengue. Mas a “aventura” foi muito mais light do que eu esperava. Falarei das questões práticas mais adiante, mas definitivamente não é preciso ser um Indiana Jones para viajar por Moçambique.
9. É um dos melhores lugares do mundo para mergulhar
Com oceanos cada vez mais devastados, é um alento um lugar onde ainda haja abundância de corais intactos, peixes em quantidades industriais e grandes animais como arraia-jamanta, tubarão baleia entre muitos outros. A meca do esporte, no país, é a Praia do Tofo. Mas há muitos outros lugares a explorar.
10. É ideal para mochileiros e também para viagens de luxo
Você pode ser feliz em Moçambique com uma mochila nas costas viajando com pouco dinheiro. E também pode ir a um hotel de sonho aonde só se chega de helicóptero para se hospedar num bangalô cuidado por um mordomo. Eu fiz as duas coisas e vou contar para vocês nos próximos posts.
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