Copenhague: quando ir, como circular, passeios, hotéis e mais
Por Patrícia Figueiredo
“Nunca se deve tentar ser mais, tentar ser diferente ou considerar-se mais importante do que os outros.” Andando pelas ruas de Copenhague dá para entender porque este ditado, também chamado a Lei de Jante (ou Janteloven, em dinamarquês), é quase um código de conduta implícito no dia-a-dia do país. Criado pelo escritor Aksel Sandemose em um romance de 1933, o ditado não tem força de lei, mas dá para ver como ele é vivido, na prática, no jeito que se os locais se vestem, sempre casuais e com roupas meio parecidas, ou se locomovem, a pé ou de bicicleta, em um trânsito perfeitamente respeitoso, pelas ruas planas da capital. Ninguém parece querer ser mais marcante que o próximo, e a ideia de se mesclar parece muito mais atrativa do que a de chamar atenção.
Esta sensação cotidiana de igualdade e equilíbrio é só um dos diferenciais de Copenhague, que também ganha os turistas pela arquitetura e gastronomia. Basta um raio de sol no céu para a cidade exalar ainda mais vida – a lógica por ali parece ser a de que nenhum minuto ensolarado pode ser desperdiçado, até porque são poucos – e para os locais rumarem em peso para os bares e parques da cidade.
Uma das principais áreas verdes de Copenhague, o Langelinieparken é famoso por abrigar uma estátua da Pequena Sereia, personagem do conto do dinamarquês Hans Christian Andersen que ficou famosa quando a Disney transformou-a em princesa. Mas a estátua de bronze é pequena e fica encarapitada em uma rocha no mar, a alguns metros da orla. Sinceramente? Há coisas melhores a se fazer por lá. Mais legal é gastar algumas horas caminhando pelo parque e ao redor do Kastellet, uma fortaleza amuralhada em formato de estrela, e terminar com um piquenique caprichado nos gramados, com pães e doces locais.
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A incensada padaria Juno the Bakery fica a alguns minutos a pé do parque, no igualmente descolado bairro de Østerbro. Por lá, dá para experimentar um rolinho de cardamomo, iguaria tipicamente escandinava, e também comprar folheados perfeitamente laminados recheados com frutas da época, além de um croissant de deixar até os franceses impressionados.
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Plana e compacta, a cidade de 600 mil habitantes ferve mesmo no turístico bairro de Nyhavn, uma antiga região portuária ladeada por dois calçadões com casinhas coloridas que, hoje em dia, abrigam bares e restaurantes (o filme A Garota Dinamarquesa recria como era aquele pedaço nos anos 1920). A área é conectada pela moderna ponte Inderhavnsbroen ao bairro de Christianshavn, que reúne várias pequenas ilhas e também a comunidade independente de Christiania.
Criada nos anos 1970 por um grupo de hippies em uma antiga base militar, a comunidade é aberta a turistas, mas tem uma rigorosa política de não permitir fotografias. Hoje já consolidada, a área tem regras próprias – a maconha, por exemplo, é tolerada, embora seu comércio não seja legalizado no país – e atrai viajantes interessados em conferir de perto esse experimento social, tirar fotos nos murais coloridos (isso, sim, pode) e tomar uma cerveja nos bares decorados com elementos do movimento rastafari.
Pelas águas de Copenhague
Outro passeio popular quando o tempo está bom é ver a cidade de dentro de um dos cruzeiros que percorrem os canais da cidade. Por pouco mais de 110 coroas dinamarquesas (cerca de € 15) dá para fazer um tour de uma hora com operadoras como a Canal Tours Copenhagen e ver de dentro d’água atrações como o Palácio de Christiansborg, sede do Parlamento Dinamarquês, o Børsen, edifício da bolsa de valores construído no século XVII, e até dar uma espiada na parte externa do Palácio de Amalienborg, a residência oficial da família real dinamarquesa.
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Navegando pelos canais também dá para entender porque Copenhague tem fama de precursora de tendências na arquitetura. Em 2023, a cidade deve receber ainda mais eventos ligados ao tema, já que foi nomeada Capital Mundial da Arquitetura pela Unesco.
Os barcos passam por baixo de pontes como a The Circle Bridge, composta por cinco plataformas circulares que se movem para a passagem de navios maiores, e na frente de edifícios contemporâneos como o da Biblioteca Real da Dinamarca, que foi apelidado de Black Diamond por seu brilhante revestimento de granito preto. Apesar da arquitetura ultramoderna, o prédio foi inaugurado há mais de 20 anos, quando a capital dinamarquesa vivia um renascimento cultural após um período de crise econômica e êxodo urbano nos anos 1980.
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Também à beira do canal, os modernos edifícios da Royal Danish Playhouse e da Copenhagen Opera House seguem a mesma cartilha arquitetônica, e também podem ser vistos de dentro d’água, em passeios operados por agências.
Um barco para chamar de seu
Se a viagem for em grupo, vale investir um pouco mais para alugar seu próprio barquinho e virar piloto por um dia. O esquema é oferecido por empresas como a GoBoat, que cobra 500 coroas dinamarquesas (cerca de € 67) por uma hora de aluguel e não requer experiência prévia. A princípio a aventura pode parecer um tanto arriscada, já que os pequenos barcos a motor dividem os canais com embarcações bem maiores, mas bastam alguns minutos de prática para se entender com o veículo e o trânsito.
A confiança dinamarquesa no potencial dos turistas marinheiros é tanta que a empresa permite inclusive que os até oito passageiros de cada barco levem cerveja ou vinho a bordo – mas limita a quantidade a duas unidades por pessoa, que é para ninguém passar do ponto.
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Tivoli, um clássico
Outro programa que combina com um dia de sol é o parque de diversões Tivoli Garden, o segundo mais antigo em funcionamento no mundo – o primeiro, o pequeno Bakken, também fica na Dinamarca, mas é menos impressionante. Inaugurado em 1843, o Tivoli já nasceu grandioso, em um terreno concedido pela família real, e hoje em dia é talvez a principal atração turística da capital.
O passeio conquista muito mais pela estética do que pela adrenalina, ainda que este último quesito tenha evoluído nos últimos anos com a adição de atrações mais radicais, como a montanha-russa Dæmonen, que chega a 72 quilômetros por hora. O brinquedo mais buscado, no entanto, ainda é uma montanha-russa de madeira construída em 1914 e operada manualmente. Puro vintage.
O ingresso básico do parque, que custa 155 coroas dinamarquesas (pouco mais de € 20), não inclui os brinquedos, mas é possível comprar uma pulseira com atrações ilimitadas ou pagar cada uma separadamente.
Uma das principais lendas que cerca o Tivoli é a de que o parque teria inspirado Walt Disney na criação da Disneyland da Califórnia. Não dá para saber se o mito procede, mas ali perto dá para ver, in loco, como a cultura dinamarquesa virou inspiração mundial em outro setor: a gastronomia.
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Não tem Noma, vá de hambúrgueres
O Noma, que anunciou em janeiro seu fechamento definitivo no final de 2023, foi o principal expoente da onda foodie da Dinamarca: ele revolucionou a alta gastronomia e foi copiado por inúmeros chefs pelo mundo. Depois de ser eleito, pela quinta vez, o melhor restaurante do mundo na lista The World’s 50 Best de 2021, o estabelecimento tornou-se inelegível a vitórias futuras para dar chance a outras casas.
Mas se o restaurante principal encerra suas atividades, as alternativas mais casuais criadas por ex-pupilos do chef René Redzepi seguem a todo vapor. É o caso do POPL, que tem o hambúrguer como carro-chefe. O cuidado com os ingredientes é notável: o brioche que envolve a carne, sempre orgânica e no ponto perfeito, é fofinho e cheio de sabor de manteiga. Ainda que o lugar, à beira do canal, tenha um ar casual, reservar é imprescindível. O preço? O hambúrguer, acompanhamento e bebida não saem por menos de 185 coroas (€ 25).
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A pé, em busca dos clássicos
Ainda que o passeio de barco pelos canais passe por várias atrações clássicas da cidade, outras ficam mais distantes da água, e rendem um roteiro a pé pelo compacto centro da capital. A rota pode começar no centro de um pequeno parque chamado Kongens Have (ou Jardim do Rei), onde está o Castelo Rosenborg, que abriga um museu com as joias da coroa dinamarquesa.
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Outro representante do legado real é o barroco Palácio de Charlottenborg, que desde o século 18 funciona como sede da Academia Real de Belas Artes da Dinamarca, além de espaço de exposições.
A pé, vale visitar também o Museu Nacional da Dinamarca, com suas mais de 250 mil peças, entre obras de arte e artefatos que datam desde a Era do Gelo; e o renascentista Palácio Frederiksberg, que abriga o Museu da História Nacional. Entre as igrejas, há que se dar uma espiada, pelo menos, na Igreja de Mármore Vor Frelsers Kirke. Apesar do nome, devido à crise financeira que rolou durante suas obras, no século 18, a construção é feita principalmente de blocos de calcário, cobertos por mármore apenas em alguns locais.
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ONDE FICAR
Além de ser o pedaço mais movimentado da capital, o entorno de Nyhavn é também a melhor área para se hospedar, e tem opções em conta como o básico e funcional Wakeup Borgergade e também o Nyhavn Hotel, com seus mais cem quartos aconchegantes distribuídos em dois edifícios, originalmente armazéns do século 18. Em Vesterbro, onde fica a estação central de trem, há hotéis de maior porte que vão desde o luxuoso Villa Copenhagen ao gigantesco hostel Next House, que conta com minigolfe, cinema, pizzaria e quatro bares. Por lá, tem ainda o Urban House Copenhagen. No Centro tem o novinho e moderno citizenM Copenhagen Radhuspladsen. Estilo completamente diferente – e outro patamar de luxo e preço – tem o Nimb Hotel, que abriga apenas 17 quartos dentro do Parque Tivoli. Busque outras opções de hospedagem em Copenhagen pelo Booking.
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ONDE COMER
Por décadas, séculos até, a gastronomia dinamarquesa foi marcada pela frugalidade. O uso intensivo de ingredientes sazonais, carnes, pescados e laticínios sempre foi a marca registrada do cenário local. A combinação destes produtos é encontrada em vários bons bistrôs, restaurantes despretensiosos e lanchonetes que servem deliciosos sanduíches abertos, os smørrebrød. Comidinhas simples e universais, como pizza, sanduíches e hambúrgueres estão disponíveis em portinhas espalhadas pelo centro, sempre convenientemente próximas às principais atrações. O hot dog tem status de paixão nacional na Dinamarca: vale provar a versão orgânica nos quiosques Den Økologiske Pølsemand, com duas unidades no centro de Copenhague. Caso não tenha conseguido uma reserva no incensado Noma, vale investir no Formel B e no Geranium, que também exigem reserva antecipada, mas são um pouco menos concorridos. A cidade vive ainda um boom de restaurantes de culinária coreana, de portinhas a casas comandadas por chefs renomados (saiba mais aqui).
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QUANDO IR
O verão europeu, que vai de junho a setembro, é o melhor período para visitar a Dinamarca. Como o país é pequeno e plano, o tempo costuma ter poucas variações de Norte a Sul. Mesmo no auge do verão, o calor não assusta, com máximas na casa dos 25°C. Os dias mais longos, com pôr do sol depois das 21h, são outra vantagem da temporada. No inverno, quando os dias são bem curtos e as temperaturas mínimas costumam ficar em torno de -1°C, vale a pena se programar para conferir as decorações de Natal. Mesmo nesta época, não dá para contar com a neve, que é escassa no país por conta da baixa altitude.
COMO CHEGAR
Não há voos diretos do Brasil para a Dinamarca, mas o aeroporto de Copenhague é bem conectado por companhias como a KLM, que voa para São Paulo com escala em Amsterdã, ou a Lufthansa, com escala em Frankfurt, além de frequências regulares da TAP via Porto ou Lisboa. Segundo maior aeroporto do país, Billund serve a região de Aarhus e também tem voos low-cost de empresas como a Ryanair. Veja as melhores opções de voos para Copenhague.
De trem, há rotas rápidas desde Copenhague até Hamburgo, na Alemanha, e para Malmö, na Suécia. Além disso, cruzeiros da DFDS Seaways ligam a capital dinamarquesa a Oslo, na Noruega, em uma viagem de 19 horas com frequências diárias.
COMO CIRCULAR
O aeroporto internacional de Kastrup, porta de entrada dos voos com destino à Copenhague, é servido por uma linha de metrô que passa pelo centro da cidade, a M2, e também por uma estação de trem que conecta a capital a várias outras cidades da Dinamarca.
O cartão de transporte Rejsekort pode ser usado em todo o país e garante descontos de até 20% nos sistemas municipais de metrô e ônibus. Ele pode ser comprado no aeroporto, na estação central de trem, em Copenhague, ou em outros pontos de venda espalhados pelo país, e custa 80 coroas dinamarquesas (cerca de € 10). Para planejar as rotas, o caminho é o app Rejseplan, que calcula também o valor da tarifa para os usuários do cartão oficial de transporte.
Copenhague é bem servida por um sistema de transporte público que inclui ônibus, metrô, trem e tram, todos integrados. Os bilhetes são cobrados pela distância percorrida, sob o sistema de zonas, nove no total.
Há vários tipos de bilhetes: viagem simples (cobrado conforme o número de zonas percorridas, cobrindo duas zonas e válido por duas horas); bilhete de um dia (viagens ilimitadas durante um dia para todas as zonas); City Pass (para as zonas 1, 2, 3 e 4, nas modalidades 24 horas ou 120 horas), todos com opções para crianças (grátis até 12 anos, meia até 16). E há o Copenhagen Card, que dá direito ao uso do transporte público, entrada franca em mais 80 atrações e descontos em restaurantes (a partir de 459 coroas dinamarquesas ou € 61).
Entre as grandes cidades, especialmente de Copenhague até Aarhus, o melhor meio de transporte é o trem, que é operado pela companhia nacional DSB. O site oficial, no entanto, não abre no Brasil, então é preciso comprar os bilhetes direto nas estações ou, com antecedência, no site internacional da ferrovia alemã Deutsch Bahn, que também emite passagens para trechos na Dinamarca.
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MOEDA
Embora faça parte da União Europeia desde 1973, a Dinamarca não adota o euro, e a moeda corrente no país é a coroa dinamarquesa. O país mantém uma política de taxa de câmbio fixa em relação ao euro, que equivale sempre a 7,46 coroas. Diversas casas de câmbio na capital trocam euros por coroas, em uma cotação próxima à oficial, mas muitos estabelecimentos do país são cashless, isto é, só aceitam pagamentos digitais. Por isso, o cartão de crédito/débito internacional é imprescindível.
DOCUMENTOS
Brasileiros não precisam de visto para até 90 dias de estadia. O passaporte deve ter validade superior a três meses quando da saída do país.
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Informações ao viajante
Línguas: Dinamarquês, mas o inglês é amplamente difundido