Como é a visita à Caverna do Diabo, no interior de São Paulo

A maior caverna do estado fica na cidade de Eldorado e guarda salões amplos, estalactites de cair o queixo e até cachoeira

Por Duda Vasconcellos
Atualizado em 22 Maio 2024, 18h29 - Publicado em 14 abr 2024, 18h00
O rio que passa dentro da caverna guia visitantes até a cachoeira (Luan Alves Chaves/Wikimedia Commons)
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Praticar ecoturismo costuma ser o principal objetivo de quem visita Eldorado, a cerca de 240 km da capital paulista. Afinal, a cidade abriga o Parque Estadual da Caverna do Diabo, com trilhas, mirantes, cachoeira e a maior caverna do estado de São Paulo.

Com oito quilômetros de extensão, a Caverna do Diabo ostenta grandes salões com estalactites, estalagmites e colunas rochosas que podem lembrar as construções de Gaudí.

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Estalactites lembram o interior da Sagrada Família, em Barcelona  (Duda Vasconcellos/Viagem e Turismo)

Há diferentes opções de roteiros na caverna, sendo que todos exigem o acompanhamento de guias credenciados das empresas Amamel ou Caverna do Diabo Aventura. O mais procurado é o Roteiro Tradicional (1.2 km ida e volta, uma hora de duração), em que o visitante caminha por passarelas e escadas de madeira, passando pelos salões superiores da caverna.

Todo o percurso é iluminado e acessível para pessoas com deficiências visuais e com dificuldade de locomoção: o parque disponibiliza a cadeira de rodas Julietti, desenvolvida especialmente para realização de trilhas em montanhas e cavernas.

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Passarelas são amplas, bem iluminadas e contornadas por corrimões (Luan Alves Chaves/Wikimedia Commons)

Caverna do Diabo modo Survivor

Indicada para atletas, aventureiros, montanhistas e destemidos em geral, o maior roteiro é o Travessia, em que os visitantes atravessam toda a extensão da caverna, em um percurso de mais de oito quilômetros.

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Eu fiz o Roteiro do Rio (2.5 km ida e volta, quatro horas de duração), percurso que segue o leito do rio que corta a caverna e chega à cachoeira Garganta do Diabo. Voltar limpo desse programa é impossível – mas dificilmente alguém se arrepende. Vale uma alerta: não é um passeio relax.

Celulares, relógios e outros equipamentos que não são resistentes à água devem ficar no carro, já que o parque não tem guarda-volumes. Vá com roupas que possam ser molhadas e que você não se importe de sujar, além de um calçado confortável: dê preferência à sapatilhas aquáticas, um sapatinho de neoprene que pode ser molhado e garante firmeza no pé (dá para comprá-las pela Amazon). Repelente e lanterna com pilhas extras também são essenciais.

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Siga este rio para encontrar a cachoeira (Duda Vasconcellos/Viagem e Turismo)

Antes de encarar a trilha, é preciso se paramentar com o capacete acoplado de lanterna e casaco corta-vento oferecidos pelo parque. Foi neste momento que percebi onde é que eu estava literalmente me enfiando. Pedi para que a guia apertasse o meu capacete e, assim que ela olhou para mim, perguntou a minha altura. Respondi, com orgulho de ser baixinha, que meço 1.58m. A próxima pergunta veio com um “vixe”: “Sabe nadar? Os trechos mais alagados chegam a ter 1.65 metro de profundidade”.

Ainda estava digerindo a ideia de ficar submersa na água dentro de uma caverna quando um novo medo foi desbloqueado. Alguém do grupo perguntou se havia animais ali dentro e a resposta foi enfática: “Apenas aracnídeos e sapos”. Ok. Respira fundo e vai!

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As lanternas acopladas nos capacetes possuem três colorações: branca, amarela e vermelha (Duda Vasconcellos/Viagem e Turismo)

Começamos o passeio pelo roteiro tradicional, explorando os salões superiores, que não são alcançados pelo rio. As paisagens são impressionantes. Depois de dar um rolê, chegou a hora de mergulhar caverna abaixo. A temperatura ambiente é sempre a mesma: 22°C, mas a água é congelante. Além do corta-vento, eu usava uma lycra de manga longa e calça legging de tecido bem grosso. Mesmo assim, passei frio. Vale investir em roupas de neoprene.

O caminho é labiríntico, passamos por rochas enormes, corredeiras, poços, túneis estreitos e as tais das aranhas e sapos. As únicas intervenções humanas são as cordas horizontais, posicionadas estrategicamente em momentos em que o nível da água atinge mais de 1,60m. O visitante segura na corda e posiciona os seus pés sobre as rochas, sem precisar mergulhar.

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A cor da água faz valer a temperatura baixa e os obstáculos enfrentados pelo caminho (Duda Vasconcellos/Viagem e Turismo)

Depois de mais de duas horas de caminhada, é chegada a Garganta do Diabo. A cachoeira fica em um cantinho estreito e muito fotogênico. Os mais corajosos podem entrar debaixo da queda d’água. Eu resolvi não arriscar.

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garganta do diabo
Eis a Garganta do Diabo (Murilo Ruocco/Fundação Grupo Boticário/Divulgação)

Pensam que acabou? Nada disso, agora é hora de voltar ao mundo exterior, seguindo o mesmo percurso da ida. Em determinado momento, minhas pernas pararam de me obedecer, me sentia fraca e sem força. Eu não fui a única com essa sensação. A baixa temperatura enrijece os músculos, dificultando a locomoção. Fizemos uma pausa para tomar um chá (sim, a equipe leva uma garrafa térmica com um chazinho quente para aliviar o frio). A bebida desceu como um abraço no meu corpo.

Enquanto o chá fazia efeito, resolvemos fazer a experiência do black-out. Todos apagaram suas lanternas e pudemos “enxergar” a verdadeira escuridão. Coloquei minha mão em frente ao meu rosto, mas não via nada além do breu. Foi incrível! Pode acontecer de algumas pessoas não curtirem nada desse modo Survivor, então para elas a dica é seguir o percurso básico e iluminado, que é facil, seco e também muito interessante.

A volta não demorou tanto quanto a ida (levamos cerca de uma hora e meia). Mas o percurso foi bastante cansativo e angustiante. Não se via nunca a luz no fim da caverna. Assim que saí, troquei de roupa e fui direto para o restaurante do parque, que serve pratos feitos de carne, peixe ou frango.

Por que a caverna é do diabo?

A lenda conta que moradores dos antigos quilombos da região a apelidaram dessa forma ao escutar vozes misteriosas vindas da caverna e constatarem que suas colheitas, postas na entrada do lugar, eram frequentemente remexidas pelo o que eles acreditavam ser criaturas de outro mundo. Em um dos últimos salões visitados no Roteiro Tradicional há um enorme paredão rochoso com o “desenho” de um rosto malígno, que reforça a teoria.

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Eldorado além da Caverna do Diabo

O Parque Estadual da Caverna do Diabo também conta com duas trilhas. Os dois percursos são autoguiados e já estão inclusos no ingresso de entrada no parque. De fácil acesso, a Trilha do Araçá (815m ida e volta) alcança três quedas d’água, sendo que em uma delas é possível tomar banho. Já a Trilha do Mirante do Governador (1,6 km ida e volta) tem nível de dificuldade médio, mas a recompensa é o visual panorâmico para o Vale do Ribeira.

Outra atração de Eldorado é a Queda de Meu Deus, que você pode conhecer no mesmo dia em que visita o parque estadual. Quando você chegar lá, vai entender o nome: vai ser impossível não exclamar um fatídico “meu deus!”.

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Imponentes 53 metros de queda d’água da Cachoeira de Meu Deus (Thomas Fuhrmann/Wikimedia Commons)

Modo de usar Eldorado

Eldorado fica a quatro horas de São Paulo e a três horas e meia de Curitiba. A distância desaconselha um bate e volta, tornando a opção de passar a noite na cidade mais viável. A oferta hoteleira é limitada e simples. Uma boa opção é o Chalé Recanto da Cachoeira, que fica a seis quilômetros da Caverna do Diabo. Busque outras opções de hospedagem em Eldorado na Booking.

Outra alternativa é hospedar-se em Iporanga, que tem melhor infraestrutura e localização estratégica para um rolê ecoturístico completão. A cidade fica a trinta minutos da Caverna do Diabo e a vinte minutos do PETAR – parque estadual que abriga a maior porção de Mata Atlântica preservada no Brasil e mais de 300 cavernas (apenas 12 abertas à visitação). Encontre hospedagens em Iporanga pela Booking.

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Serviço

Onde? O Parque Estadual da Caverna do Diabo fica em Eldorado, no extremo sul de São Paulo. Saindo da capital paulista, são 292 quilômetros pela BR-116 (Rodovia Régis Bittencourt). A viagem dura cerca de quatro horas. Quem sai de Curitiba percorre 255 quilômetros, também pela BR-116, e leva três horas e meia.

Quando? O Parque Estadual da Caverna do Diabo funciona de terça-feira a domingo, das 8h às 17h. Durante férias escolares e feriados prolongados, o parque abre também às segundas-feiras.

Quanto? O ingresso para entrada no parque custa R$ 19 e permite que o visitante faça as trilhas do Araçá e do Mirante do Governador. Os valores dos roteiros pela Caverna do Diabo variam de acordo com a empresa contratada. O Roteiro do Rio deve ser agendado previamente e custa R$ 80 por pessoa pela Amamel e R$ 130 pela Caverna do Diabo Aventura.

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