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Centro Histórico de Porto Alegre: cultura gaúcha sobrevive às enchentes

Coração da capital gaúcha retoma gradualmente a normalidade após tragédia climática. Saiba o que já pode ser visitado

Por Clarice Sena e João Antonio Streb
Atualizado em 9 set 2024, 18h50 - Publicado em 27 ago 2024, 18h00
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Após pior enchente da história, região central de Porto Alegre reabriu quase todos os espaços turísticos para visitação (Giulian Serafim/Prefeitura Municipal de Porto Alegre/Divulgação)
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O bairro do Centro Histórico, em Porto Alegre, abriga as principais instituições culturais da capital gaúcha e alguns dos seus pontos turísticos mais famosos. Durante as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em maio de 2024, muitos deles foram afetados e chegaram a ficar submersos. Após a baixa das águas, operações de limpeza e obras de reparo, os principais símbolos da cidade voltaram a receber visitantes.

Com Porto Alegre retornando gradualmente à normalidade, confira abaixo o que já voltou a pleno funcionamento no Centro Histórico, quais lugares ainda estão fechados e algumas histórias para conhecer em cada um deles.

Mercado Público de Porto Alegre

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O primeiro mercado público do Brasil é um dos maiores símbolos da capital gaúcha, mas não foi tão fácil tirar o projeto do papel. Inaugurado em 1869, foram cerca de 20 anos entre os primeiros esboços e a finalização das obras. Ao longo de mais de 150 anos de história, o local se tornou uma parte essencial da região, o que rendeu o apelido de “coração pulsante do centro histórico”.

Temperos, frutas, legumes, queijos, carnes e, claro, erva-mate da melhor qualidade para o chimarrão, tudo isso pode ser encontrado por lá. Com o tempo, o local se tornou um centro comercial generalista, abrigando também lojas de artesanato, floras, padarias e restaurantes que já estão marcados na história da cidade, como o Gambrinus, a doceria Banca 40, a Confeitaria Copacabana e muitas outras.

O Mercado Público de Porto Alegre, que chegou a ter 1,70m de água acima do chão, ficou fechado por 41 dias, com uma retomada gradual das atividades desde o dia 14 de junho. Apesar dos danos extensos, segue vento em popa e não houve desistências ou saídas entre os permissionários. Saiba mais no site oficial.

Praça da Matriz

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Rodeada pelos edifícios administrativos do estado e pela Catedral Metropolitana, Praça da Matriz é o centro da vida pública no Rio Grande do Sul (Evoefotografia/Wikimedia Commons)
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A Praça da Matriz é um dos locais mais antigos e importantes da cidade. O nome pelo qual é conhecida é uma denominação extraoficial, graças à presença da catedral. A nomenclatura oficial do espaço é Praça Marechal Deodoro, nome que substituiu o de “Praça Dom Pedro II” após a proclamação da República, em 1889.

A praça ganhou grande importância a partir de 1773, quando a capital do Rio Grande do Sul foi transferida da vizinha Viamão para Porto Alegre e teve ao seu redor instalados os principais edifícios da administração pública do estado. Em um ponto mais elevado, a área não foi diretamente afetada pelas águas.

Além da questão do batismo, a relação da praça com a política se estende a estes edifícios ao redor dela: o Palácio da Justiça, o Palácio Piratini – residência oficial do governador –, a Assembleia Legislativa do Estado e o Palácio do Ministério Público. Destacam-se ainda a presença de outros importantes bens culturais à sua volta, como o Museu Júlio de Castilhos, o Theatro São Pedro, a Biblioteca Pública e a Pinacoteca Ruben Berta. Aproveite para fazer uma parada no Salão Nobre – Café da Catedral, que fica nos jardins da Catedral Metropolitana e que pode até lembrar um cenário da Toscana. A entrada é pela rua Dom Sebastião, entre a igreja o Palácio Piratini. Confira no Instagram o horário de funcionamento porque pode fechar para o público quando há eventos.

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Palácio Piratini

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Sede do governo gaúcho reabre para visitas em setembro (Palácio Piratini/redes sociais/Divulgação)

O Piratini é a residência oficial do governador do Rio Grande do Sul e também abriga outros órgãos da administração do estado. Após obras de conservação e restauração, em 2021 foi celebrado o centenário da sua ocupação. A história do local se confunde com a da cidade e com a do próprio Rio Grande do Sul.

Para a construção do edifício atual, em 1908, o então presidente do Estado, Carlos Barbosa, organizou um concurso cultural na França para eleger o arquiteto responsável pelo projeto. O francês Maurice Gras foi o vencedor e com o projeto em mãos, o Palácio começou a ser erguido. Para a decoração, foram encomendadas obras do escultor Paul Landowski, também responsável pelo Cristo Redentor. A ala residencial foi ocupada pela primeira vez em 1928, por Getúlio Vargas.

Na história centenária do Palácio, muitas reformas e adições aconteceram. Nos anos 1950, por exemplo, 23 murais executados pelo pintor italiano Aldo Locatelli passaram a ornamentar os salões do segundo pavimento. Já nos anos 1960, o Piratini funcionou como sede do Movimento da Legalidade, encabeçado por Leonel Brizola, que visava a garantia da posse do presidente João Goulart. Por este motivo, o prédio foi ameaçado de bombardeio.

Uma visita pelo Palácio Piratini é um mergulho na história dos gaúchos, com requintes de luxo graças aos presentes de Estado, obras de arte e literárias, adornos, esculturas e mobiliário que compõem os interiores. Após um hiato, as visitas guiadas retornam no dia 2 de setembro e acontecem mediante agendamento de segunda a sexta-feira, às 11h e às 16h. Também é possível fazer um tour virtual pelo site do Palácio.

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Biblioteca Pública

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Edifício histórico é adornado por bustos de intelectuais e figuras históricas (Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul/Divulgação)

A Biblioteca Pública do Rio Grande do Sul é uma pequena joia encravada num ponto estratégico do Centro Histórico – logo ao lado da Praça da Matriz. Durante o período das enchentes, esteve fechada devido à falta de energia elétrica na região e pela impossibilidade dos seus funcionários se deslocarem até ela, mas não chegou a ser atingida pela água.

Na fachada da sede atual, erguida em 1915, estão os bustos de várias personalidades importantes, como Júlio Cesar, Gutemberg, Shakespeare e o filósofo René Descartes. O acervo é composto por obras de literatura nacional e internacional, com uma parte dedicada especialmente à literatura do Rio Grande Sul. Dentre as obras raras em sua coleção estão uma edição comemorativa de Os Lusíadas, de Camões, datada de 1819, e uma impressão limitada da Divina Comédia de Dante Alighieri, editada em 1921 por Conrado Ricci.

A biblioteca funciona de segunda à sexta-feira, das 10h às 18h. Saiba mais no site.

Cinemateca Capitólio

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Quem é apaixonado por cinema – ou simplesmente gosta de ver filmes – vai se sentir em casa na Cinemateca Capitólio. O encantamento começa pelo belo prédio histórico, que desde 1928 abriga um cinema que funcionou ininterruptamente até 1994. Após a interrupção das atividades, o prédio passou por grandes reformas para resgate e restauração das suas características históricas e foi reaberto em 2015.

Hoje, o Capitólio é um dos raros cinemas de rua que sobrevivem no Brasil tem uma ampla sala de exibição, um espaço expositivo no térreo e um café no segundo andar. Além dessas partes abertas ao público, o local também possui um centro de documentação e memória com filmes, biblioteca e arquivo histórico dedicados à memória audiovisual do Rio Grande do Sul e do Brasil. A Cinemateca funciona na rua Demétrio Ribeiro, 1085, e abre de terça a sexta, das 9h às 21h, e nos finais de semana, das 14h às 21h. Saiba mais no site.

Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS)

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Uma das instituições mais afetadas pela enchente, MARGS permanece fechado, mas parte do acervo pode ser vista na Fundação Iberê Camargo, em outra parte da cidade (Museu de Arte do Rio Grande do Sul/Divulgação)

Localizado na Praça da Alfândega, uma das áreas mais afetadas pela enchente, o MARGS é um dos principais destinos culturais de Porto Alegre. Fundada nos anos 1950, a instituição passou por duas sedes antes de chegar no seu prédio atual, onde antigamente funcionava a Delegacia Fiscal da cidade. Junto com outros prédios da região, compõe a área onde funcionou a primeira alfândega local, naquele que era o principal ponto de acesso da cidade.

No auge da enchente, a água superou os 2 metros de altura e afetou o subsolo e térreo do museu. Os setores administrativos foram completamente inundados, bem como obras armazenadas em mapotecas, mobiliários expositivos, equipamentos, sistema de rede elétrica e parte das casas de máquinas. Por isso, o museu permanece fechado para visitação, mas parte das obras do seu acervo podem ser apreciadas na Fundação Iberê Camargo, na Zona Sul da cidade. Em cartaz até novembro, a exposição Iberê e o MARGS: trajetórias e encontros é uma parceria entre as duas instituições para celebrar os 70 anos do MARGS e a carreira de Iberê Camargo, um dos mais importantes artistas gaúchos. A Fundação Iberê funciona de quinta-feira a domingo, das 14h às 18h, e durante o mês de agosto a entrada é gratuita.

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Informações adicionais sobre o MARGS podem ser consultadas no site oficial.

Memorial do Rio Grande do Sul

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Memorial é uma das instituições que ainda não normalizou atividades (Rodrigo H. Castilhos/Wikimedia Commons)

Com projeto de Theodor Wiederspahn, arquiteto responsável por outros prédios históricos de Porto Alegre, a construção foi inaugurada em 1914 e utilizada inicialmente como Central dos Correios e Telégrafos da cidade. Além de um acervo extenso de documentos públicos sobre a política gaúcha, o prédio, tombado desde 1981, abriga também o Museu Postal e uma sala do Museu Antropológico do RS (MARS).

Assim como os outros museus que circundam a Praça da Alfândega, o Memorial do Rio Grande do Sul segue lidando com as consequências da enchente e deve seguir operando com geradores até o final de setembro. A previsão da gestão é que o Memorial deve reabrir por completo apenas no final de 2025.

O Arquivo Histórico foi reaberto para atender pesquisadores e estudantes que necessitam ter acesso aos documentos para continuar seus trabalhos, mas com horário reduzido e necessitando de agendamento.

Casa de Cultura Mario Quintana

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Casa de Cultura funciona no antigo Hotel Majestic, onde viveu o poeta Mario Quintana, que hoje dá nome ao espaço (Casa de Cultura Mario Quintana/Divulgação)

A Casa de Cultura Mario Quintana é um dos espaços culturais mais importantes de Porto Alegre e também foi um dos mais atingidos durante o período de enchente. O centro cultural funciona em um icônico prédio rosa de sete andares em plena rua dos Andradas, a mais importante do Centro Histórico. No local, que ficou fechado para visitação por mais de três meses a partir de maio, a água atingiu todos os ambientes do térreo, duas salas de cinema, lojas e espaços de exposição.

Nesse momento de reconstrução, a Casa de Cultura dá os primeiros passos para a retomada completa da cultura na cidade. A instituição foi reaberta em 15 de agosto, com uma exposição do fotógrafo sul-africano Gideon Mendel, e quase todos os espaços voltaram a estar acessíveis. Das salas de cinema afetadas, uma delas já voltou a funcionar. Nos andares superiores da casa estão dois teatros, três bibliotecas, uma discoteca e várias galerias de exposição de arte. No prédio também há uma exposição de acervo sobre Elis Regina e um memorial dedicado ao poeta Mario Quintana, que dá nome ao centro cultural.

Na cúpula funciona o restaurante Lola Bar. A Casa de Cultura funciona na rua dos Andradas, nº 736, de terça a domingo, das 10h às 20h. A visitação é totalmente gratuita e com possibilidade de mediação que deve ser agendada pelo e-mail visitaccmq@gmail.com. Confira informações adicionais no site oficial.

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