Continua após publicidade

Roteiro de 48 horas em Belém do Pará

Um roteiro pelos parques verdejantes, gastronomia singular e construções históricas em Belém, na capital paraense

Por Fernando Leite
Atualizado em 16 set 2021, 17h55 - Publicado em 20 jun 2012, 17h08
Fim de tarde em um dos restaurantes na Estação das Docas em Belém (PA)
Fim de tarde em um dos restaurantes na Estação das Docas em Belém (PA) (/)
Continua após publicidade

Em nenhuma outra metrópole brasileira a comunhão entre o povo indígena e o colonizador português foi tão feliz como na segunda cidade mais importante da Amazônia. O resultado é sentido na fala dos paraenses de pele amendoada onde os pronomes de segunda pessoa são proferidos quase que musicalmente. Na culinária, o pato no tucupi e a maniçoba são os grandes exemplos. Nesse roteiro de 48 horas emBelém, você conhecerá o essencial da cidade, um tour que será feito na maior parte do tempo usando apenas o solado do calçado. Só não esqueça o guarda-chuva – todo dia chove na cidade.

DIA 1

Primeiro motivo para acordar cedinho: mesmo não tendo nenhum grande deslocamento, o dia será intenso. Segundo (e principal) motivo de começar as atividades nas horas iniciais do dia: pegar o Mercado Ver-o-Peso em seu momento mais nervoso. Dentro da construção azul, cuja estrutura de ferro veio da Europa, pescadores negociam desde as primeiras horas do dia o valor de suas mercadorias: pirarucus, filhotes, pescadas, tucunarés e mais uma leva de peixes amazônicos. Na área externa, às margens da Baía do Guajará, um labirinto de barracas estimulam os sentidos do visitante. O cheiro das ervas, o sabor das frutas, as coloridas garrafadas, o bom papo dos vendedores, a culinária típica (açaí, tacacá, maniçoba). Só é preciso muito cuidado com bolsas, carteiras e máquinas fotográficas – o registro de assaltos é constante na feira.

Mercado Ver-o-Peso em Belém, Pará
Mercado Ver-o-Peso. Foto: Marcelo Soares ()

A cinco minutos de caminhada, a Cidade Velha exibe os casarões mais antigos da cidade, com influência marcadamente portuguesa. Pena que em poucos a conservação esteja a contento. Uma série de atrações aparece em sequência nesta parte de Belém conhecida como Feliz Lusitânia. A primeira é o pequeno Museu do Círio, que não está a altura da grandiosa Festa do Círio de Nazaré, mas explica de forma didática a importância e a dinâmica do evento. A Igreja de São Francisco Xavier e o Colégio de Santo Alexandre abrigam o Museu de Arte Sacra, um dos melhores do país, com um representativo acervo de 300 peças – é a visita mais demorada da Cidade Velha.

Ao lado do complexo, o Forte do Presépio (1616) tem uma das melhores vistas para o Rio Guamá e o Mercado Ver-o-Peso. Os canhões originais são um belo cartão de visitas, completada pelo Museu do Encontro, que reproduz a colonização portuguesa na Amazônia.

Continua após a publicidade

Próxima parada: a Casa das Onze Janelas, uma antiga residência de um senhor de engenho transformada em centro cultural. Pelos aposentos da casa – localizada às margens do Rio Guamá – estão espalhadas obras de modernistas brasileiros, do quilate de Tarsila do Amaral. Instalada no píer da Casa das Onze Janelas, a Corveta Solimões, uma embarcação que desbravava os rios amazônicos, teve suas dependências abertas ao público e virou um museu que agrada a família inteira.

Finalizando o tour matinal, vale uma rápida visita à Catedral da Sé, onde o barroco e o neoclássico convivem em perfeita sintonia. Repare nos candelabros de bronze que iluminam a nave central. A catedral é importante também por ser o ponto de partida no último dia da Festa do Círio, quando a imagem de Nossa Senhora sai em direção à Basílica da Sé.

Após uma manhã intensa (mas lembre-se: sem grandes deslocamentos), é hora de pensar no almoço. Retorne até o Mercado Ver-o-Peso e rume em direção à vizinha Estação das Docas. Um abandonado armazém no Porto de Belém foi transformado num efervescente centro de entretenimento. O bonaerense Puerto Madero apareceu em sua mente? A ideia é mais ou menos semelhante. Muitos restaurantes estão de frente para a Baía de Guajará, mas não pense duas vezes em escolher o Lá em Casa para provar as receitas típicas paraenses, como o pato no tucupi ou o filé marajoara. Paulo Martins – antigo chef e proprietário do restaurante, falecido em 2010 – apresentou as maravilhas culinárias gastronômicas para o mundo e hoje Alex Atala e os renomadíssimos chefs espanhóis bebem dessa fonte.

Guarde um lugar no estômago para a sobremesa. Ainda na Estação das Docas funciona uma das unidades da Sorveteria Cairu, onde fazem sucesso desde a década de 50 os sorvetes com sabores amazônicos.

Continua após a publicidade
Sorvete de Mestiço feito com açaí, tapioca e taperebá, da sorvetria Cairu em Belém (PA)
Sorvete de Mestiço, feito com açaí, tapioca e taperebá, da Sorveteria Cairu. Foto: Marcelo Soares ()

Muito provavelmente, durante o seu almoço, caiu a famosa chuva vespertina de todos os dias. Saciado com o que a Amazônia oferece de mais saboroso, suba a Avenida Presidente Vargas em direção à Praça da República. No meio da frondosa praça, o Theatro da Paz é o símbolo mor do Ciclo da Borracha. Suas linhas neoclássicas mostram a inspiração do milanês Teatro alla Scala. Pelo seu palco, passaram grupos teatrais que faziam sucesso na Europa do século 19.

Theatro da Paz, Belém, Pará
Theatro da Paz. Foto: Marcelo Soares ()

Última parada antes do regresso ao hotel: Basílica de Nazaré, a neoclássica igreja construída onde foi achada a imagem de Nossa Senhora e ponto derradeiro da Festa do Círio de Nazaré. Repare nos belíssimos vitrais laterais da igreja.

Continua após a publicidade

A Estação das Docas é um lugar tão especial que merece uma nova visita. Mas agora todo iluminado à noite. Quem busca uma refeição mais elaborada, a encontra no Restô das Docas que funde a cozinha conhecida como internacional aos ingredientes paraenses. Se a intenção for bebericar e jogar conversa fora, seu point é a Amazon Beer, uma cervejaria artesanal com um inusitado chopp com aroma de bacuri – mas de teor alcoólico baixíssimo.

DIA 2

Depois de um exaustivo dia explorando as construções da área central de Belém, é momento de desbravar seus parques, cuja fauna e flora amazônica são as grandes protagonistas.

Novamente na Cidade Velha, mas um pouco afastado da Feliz Lusitânia, o Mangal das Garças tem um incrível borboletário com 600 espécimes como destaque principal. Mas caminhar em um viveiro repleto de aves amazônicas e subir em um mirante com 47 metros com vista para Belém e a Baía do Guajará também emocionam o visitante.

Encare uma corrida de táxi e atravesse a zona central de Belém em direção ao bairro Marco. Durante o percurso, não há como deixar de notar as mangueiras que parecem funcionar como um guarda-chuva na hora da tempestade. Chegando ao destino, é hora de passar momentos agradáveis no centenário Bosque Rodrigues Alves, alçado à categoria de Jardim Botânico em 2002. Ocupando uma quadra inteira da Avenida Almirante Barroso, é praticamente um pedaço da selva no meio da cidade: são 2 500 espécimes da flora amazônica e uma profusão de animais, seja em cativeiro ou vivendo em liberdade pelas árvores e solo.

Continua após a publicidade

Aproveite que já está no bairro para fazer um almoço inolvidável. Situado numa vila de casas da Travessa Barão do Triunfo – a duas quadras do Bosque Rodrigues Alves, o restaurante Remanso do Peixe remete a um daqueles grandes achados. A casa aposta nos peixes amazônicos – não titubeie em pedir a caldeirada de filhote. O jovem chef Thiago Castanho é o sucessor nato de Paulo Martins, do Lá em Casa.

Parque Emílio Goeldi em Belém (PA)
Parque Emílio Goeldi. Foto: Marcelo Soares ()

Após a perfeita sinfonia de peixes amazônicos, a última parte da tríade dos parques belenenses. Mais uma atração centenária, o Parque Emílio Goeldi. Você pode fazer a digestão caminhando até o local ou pegar um táxi. Inaugurado em 1895, o parque funciona como um centro de pesquisas da fauna e flora amazônicas. Por suas alamedas observamos animais da região – alguns deles, ameaçados de extinção. Um aquário com peixes amazônicos hipnotizam a garotada.

Pertinho do Emílio Goeldi, a partir das 16 horas, os herdeiros da falecida Dona Maria montam a mais famosa barraca de tacacá de Belém, bem em frente ao Colégio Marista. Como sair de Belém sem provar o caldo de goma de mandioca, camarão seco, jambu e tucupi é um pecado mortal, acrescente mais essa iguaria ao roteiro.

Continua após a publicidade

Umarizal: eis o endereço certo para quem curte uma boa balada na cidade. Pelos arredores da Avenida Visconde de Souza Franco, um, dois bares aparecem a cada quarteirão. Tradicional, o Roxy Bar homenageia a sétima arte na decoração e no nome dos pratos, como o Camarão Francis Coppola – exorbitante igual o diretor.

Falta ainda uma experiência importante antes de deixar a cidade: dançar o brega e sua vertente mais moderna, o tecnobrega, nacionalizado nos sucessos da Banda Calypso e de Gaby Amarantos. Saindo do Umarizal é só seguir a Avenida Senador Lemos até o final e chegar na A Pororoca. Apesar do local suspeitíssimo, a diversão é garantida.

Se você tem mais dias em Belém

– Atravesse a Baía do Guajará e faça um bate-e-volta até a Ilha de Marajó. Consulte antes os horários da travessia para ver se vale a pena ir e voltar no mesmo dia. Considere também a possibilidade de ficar mais um dia na ilha.

– Conheça o distrito de Icoaraci, a 25 quilômetros do Centro, bom local para comprar artesanato marajoara.

Busque hospedagem em Belém do Pará

Leia tudo sobre Pará

Publicidade