Roteiro de 48 horas em Belém do Pará
Um roteiro pelos parques verdejantes, gastronomia singular e construções históricas em Belém, na capital paraense
Em nenhuma outra metrópole brasileira a comunhão entre o povo indígena e o colonizador português foi tão feliz como na segunda cidade mais importante da Amazônia. O resultado é sentido na fala dos paraenses de pele amendoada onde os pronomes de segunda pessoa são proferidos quase que musicalmente. Na culinária, o pato no tucupi e a maniçoba são os grandes exemplos. Nesse roteiro de 48 horas emBelém, você conhecerá o essencial da cidade, um tour que será feito na maior parte do tempo usando apenas o solado do calçado. Só não esqueça o guarda-chuva – todo dia chove na cidade.
DIA 1
Primeiro motivo para acordar cedinho: mesmo não tendo nenhum grande deslocamento, o dia será intenso. Segundo (e principal) motivo de começar as atividades nas horas iniciais do dia: pegar o Mercado Ver-o-Peso em seu momento mais nervoso. Dentro da construção azul, cuja estrutura de ferro veio da Europa, pescadores negociam desde as primeiras horas do dia o valor de suas mercadorias: pirarucus, filhotes, pescadas, tucunarés e mais uma leva de peixes amazônicos. Na área externa, às margens da Baía do Guajará, um labirinto de barracas estimulam os sentidos do visitante. O cheiro das ervas, o sabor das frutas, as coloridas garrafadas, o bom papo dos vendedores, a culinária típica (açaí, tacacá, maniçoba). Só é preciso muito cuidado com bolsas, carteiras e máquinas fotográficas – o registro de assaltos é constante na feira.
A cinco minutos de caminhada, a Cidade Velha exibe os casarões mais antigos da cidade, com influência marcadamente portuguesa. Pena que em poucos a conservação esteja a contento. Uma série de atrações aparece em sequência nesta parte de Belém conhecida como Feliz Lusitânia. A primeira é o pequeno Museu do Círio, que não está a altura da grandiosa Festa do Círio de Nazaré, mas explica de forma didática a importância e a dinâmica do evento. A Igreja de São Francisco Xavier e o Colégio de Santo Alexandre abrigam o Museu de Arte Sacra, um dos melhores do país, com um representativo acervo de 300 peças – é a visita mais demorada da Cidade Velha.
Ao lado do complexo, o Forte do Presépio (1616) tem uma das melhores vistas para o Rio Guamá e o Mercado Ver-o-Peso. Os canhões originais são um belo cartão de visitas, completada pelo Museu do Encontro, que reproduz a colonização portuguesa na Amazônia.
Próxima parada: a Casa das Onze Janelas, uma antiga residência de um senhor de engenho transformada em centro cultural. Pelos aposentos da casa – localizada às margens do Rio Guamá – estão espalhadas obras de modernistas brasileiros, do quilate de Tarsila do Amaral. Instalada no píer da Casa das Onze Janelas, a Corveta Solimões, uma embarcação que desbravava os rios amazônicos, teve suas dependências abertas ao público e virou um museu que agrada a família inteira.
Finalizando o tour matinal, vale uma rápida visita à Catedral da Sé, onde o barroco e o neoclássico convivem em perfeita sintonia. Repare nos candelabros de bronze que iluminam a nave central. A catedral é importante também por ser o ponto de partida no último dia da Festa do Círio, quando a imagem de Nossa Senhora sai em direção à Basílica da Sé.
Após uma manhã intensa (mas lembre-se: sem grandes deslocamentos), é hora de pensar no almoço. Retorne até o Mercado Ver-o-Peso e rume em direção à vizinha Estação das Docas. Um abandonado armazém no Porto de Belém foi transformado num efervescente centro de entretenimento. O bonaerense Puerto Madero apareceu em sua mente? A ideia é mais ou menos semelhante. Muitos restaurantes estão de frente para a Baía de Guajará, mas não pense duas vezes em escolher o Lá em Casa para provar as receitas típicas paraenses, como o pato no tucupi ou o filé marajoara. Paulo Martins – antigo chef e proprietário do restaurante, falecido em 2010 – apresentou as maravilhas culinárias gastronômicas para o mundo e hoje Alex Atala e os renomadíssimos chefs espanhóis bebem dessa fonte.
Guarde um lugar no estômago para a sobremesa. Ainda na Estação das Docas funciona uma das unidades da Sorveteria Cairu, onde fazem sucesso desde a década de 50 os sorvetes com sabores amazônicos.
Muito provavelmente, durante o seu almoço, caiu a famosa chuva vespertina de todos os dias. Saciado com o que a Amazônia oferece de mais saboroso, suba a Avenida Presidente Vargas em direção à Praça da República. No meio da frondosa praça, o Theatro da Paz é o símbolo mor do Ciclo da Borracha. Suas linhas neoclássicas mostram a inspiração do milanês Teatro alla Scala. Pelo seu palco, passaram grupos teatrais que faziam sucesso na Europa do século 19.
Última parada antes do regresso ao hotel: Basílica de Nazaré, a neoclássica igreja construída onde foi achada a imagem de Nossa Senhora e ponto derradeiro da Festa do Círio de Nazaré. Repare nos belíssimos vitrais laterais da igreja.
A Estação das Docas é um lugar tão especial que merece uma nova visita. Mas agora todo iluminado à noite. Quem busca uma refeição mais elaborada, a encontra no Restô das Docas que funde a cozinha conhecida como internacional aos ingredientes paraenses. Se a intenção for bebericar e jogar conversa fora, seu point é a Amazon Beer, uma cervejaria artesanal com um inusitado chopp com aroma de bacuri – mas de teor alcoólico baixíssimo.
DIA 2
Depois de um exaustivo dia explorando as construções da área central de Belém, é momento de desbravar seus parques, cuja fauna e flora amazônica são as grandes protagonistas.
Novamente na Cidade Velha, mas um pouco afastado da Feliz Lusitânia, o Mangal das Garças tem um incrível borboletário com 600 espécimes como destaque principal. Mas caminhar em um viveiro repleto de aves amazônicas e subir em um mirante com 47 metros com vista para Belém e a Baía do Guajará também emocionam o visitante.
Encare uma corrida de táxi e atravesse a zona central de Belém em direção ao bairro Marco. Durante o percurso, não há como deixar de notar as mangueiras que parecem funcionar como um guarda-chuva na hora da tempestade. Chegando ao destino, é hora de passar momentos agradáveis no centenário Bosque Rodrigues Alves, alçado à categoria de Jardim Botânico em 2002. Ocupando uma quadra inteira da Avenida Almirante Barroso, é praticamente um pedaço da selva no meio da cidade: são 2 500 espécimes da flora amazônica e uma profusão de animais, seja em cativeiro ou vivendo em liberdade pelas árvores e solo.
Aproveite que já está no bairro para fazer um almoço inolvidável. Situado numa vila de casas da Travessa Barão do Triunfo – a duas quadras do Bosque Rodrigues Alves, o restaurante Remanso do Peixe remete a um daqueles grandes achados. A casa aposta nos peixes amazônicos – não titubeie em pedir a caldeirada de filhote. O jovem chef Thiago Castanho é o sucessor nato de Paulo Martins, do Lá em Casa.
Após a perfeita sinfonia de peixes amazônicos, a última parte da tríade dos parques belenenses. Mais uma atração centenária, o Parque Emílio Goeldi. Você pode fazer a digestão caminhando até o local ou pegar um táxi. Inaugurado em 1895, o parque funciona como um centro de pesquisas da fauna e flora amazônicas. Por suas alamedas observamos animais da região – alguns deles, ameaçados de extinção. Um aquário com peixes amazônicos hipnotizam a garotada.
Pertinho do Emílio Goeldi, a partir das 16 horas, os herdeiros da falecida Dona Maria montam a mais famosa barraca de tacacá de Belém, bem em frente ao Colégio Marista. Como sair de Belém sem provar o caldo de goma de mandioca, camarão seco, jambu e tucupi é um pecado mortal, acrescente mais essa iguaria ao roteiro.
Umarizal: eis o endereço certo para quem curte uma boa balada na cidade. Pelos arredores da Avenida Visconde de Souza Franco, um, dois bares aparecem a cada quarteirão. Tradicional, o Roxy Bar homenageia a sétima arte na decoração e no nome dos pratos, como o Camarão Francis Coppola – exorbitante igual o diretor.
Falta ainda uma experiência importante antes de deixar a cidade: dançar o brega e sua vertente mais moderna, o tecnobrega, nacionalizado nos sucessos da Banda Calypso e de Gaby Amarantos. Saindo do Umarizal é só seguir a Avenida Senador Lemos até o final e chegar na A Pororoca. Apesar do local suspeitíssimo, a diversão é garantida.
Se você tem mais dias em Belém
– Atravesse a Baía do Guajará e faça um bate-e-volta até a Ilha de Marajó. Consulte antes os horários da travessia para ver se vale a pena ir e voltar no mesmo dia. Considere também a possibilidade de ficar mais um dia na ilha.
– Conheça o distrito de Icoaraci, a 25 quilômetros do Centro, bom local para comprar artesanato marajoara.
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