Imagem Blog Além-mar Rachel Verano rodou o mundo, mas foi por Portugal que essa mineira caiu de amores e lá se vão, entre idas e vindas, quase dez anos. Do Algarve a Trás-os-Montes, aqui ela esquadrinha as descobertas pelo país que escolheu para chamar de seu
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Restaurante Boi Cavalo: belo segredo nas ruelas de Alfama

Um restaurante de técnica apurada e sabores surpreendentes no bairro mais tradicional de Lisboa

Por Rachel Verano
Atualizado em 6 mar 2020, 14h21 - Publicado em 31 Maio 2018, 22h13
À porta do restaurante Boi Cavalo: Alfama em seu melhor
À porta do restaurante Boi Cavalo: Alfama em seu melhor (Bruno Barata/Reprodução)

“Já sabe como funciona a casa?”, perguntam com uma certa dose de impaciência do outro lado da linha quando telefono para fazer a reserva. “É só um menu degustação e não pode mudar nada.” Já acostumada com as doses extras da, digamos, frontalidade europeia , encarei aquela frase como um desafio e segui confiante rumo a Alfama naquela noite de sexta-feira. Ainda bem.

O interior do restaurante: apertadinho, simples e informal
O interior do restaurante: apertadinho, simples e informal (Bruno Barata/Reprodução)

Visto do lado de fora, o número 70B da Rua do Vigário abriga apenas mais uma entre as muitas tascas do bairro mais tradicional da capital portuguesa. Mas basta passar pela porta para perceber que a primeira impressão está longe de ser a última que fica.

O começo da noite: escabeche de algas em uma casquinha crocante de wonton
O começo da noite: escabeche de algas em uma casquinha crocante de wonton (Bruno Barata/Reprodução)

Instalado em um antigo açougue (do qual preserva as lindas portas do que imagino ter sido a câmara frigorífica) e minúsculo, o Boi Cavalo é o playground do chef Hugo Brito, onde reinam as desconstruções, espumas e baixas temperaturas. O melhor? O clima despretensioso e o ambiente deliciosamente simples.

Filezinho de sarrajão com alface defumada e leite do peixe: a melhor surpresa do menu
Filezinho de sarrajão com alface defumada e leite do peixe: a melhor surpresa do menu (Bruno Barata/Reprodução)

Como já estava bem claro desde o telefonema, é o chef quem escolhe os pratos que vai servir ao jantar. Eles podem mudar todos os dias, de acordo com os ingredientes do mercado. A principal característica do menu (€ 40 por pessoa)? A surpresa. Nas texturas, nas temperaturas, nos sabores. Prepare-se para um jantar cheio de atitude.

Arroz de avelãs, amêijoas e toranja com espuma de coentros: leve amargor
Arroz de avelãs, amêijoas e toranja com espuma de coentros: leve amargor (Bruno Baraya/Reprodução)

No dia da minha visita, um delicado escabeche de wakame (um tipo de alga) acomodado em uma casquinha fina e crocante de wonton, uma massinha típica da região do Cantão, na China, abriu os trabalhos. Na sequência foi servido um saboroso filezinho de sarrajão em leite de peixe com uma alface defumada que, perdoem-me a simplicidade, roubou toda a cena.

O jantar teve ainda um saboroso arroz de avelãs, amêijoas e toranja, com espuma de coentros; uma pescada acompanhada de couve-flor fermentada com gel de limão e molho de entranhas de peixe assadas; e gostosas costeletas de coelho com favas e caracóis sobre uma espécie de waffle crocante. A surpresa da noite oferecida pelo chef foi um crème brûlée salgado montado sobre uma base de ruibarbo, com cobertura de pó de gema curada.

Crème brûlée salgado de ruibarbo com pó de gema curada
Crème brûlée salgado de ruibarbo com pó de gema curada (Bruno Barata/Reprodução)

Antes que a sobremesa chegasse, foi servido um queijo de cabra escoltado pelo pão de azeite feito na casa, picles de batata doce e mousse de nabo. Veio então a mousse de chocolate Valrhona com massa folhada e a orgia foi encerrada com um nougat de torresmo que me lembrou a Porco Porca da Casa do Porco Bar, do chef Jefferson Rueda, em São Paulo. Delícia.

Costeletas de coelho com favas e caracóis sobre uma espécie de waffle crocante
Costeletas de coelho com favas e caracóis sobre uma espécie de waffle crocante (Bruno Barata/Reprodução)

Quem quiser acompanhar o menu com a harmonização de vinhos paga mais € 25. A carta é enxuta mas tem bons exemplares do Douro. O serviço é bastante variável, mas não chega a afetar a experiência. E do lado de fora ainda tem Alfama em seu melhor para no fim caminhar pelas ruelas calçadas de pedras pelas noites quentes de primavera.

Do lado de foram, toda a tradição de Alfama
Do lado de foram, toda a tradição de Alfama (Bruno Barata/Reprodução)

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