Maldivas: tudo o que você precisa saber para organizar sua viagem

Por Adriana Setti Atualizado em 8 nov 2023, 13h04 - Publicado em 7 ago 2022, 15h16

Você intui que chegou ao paraíso quando o comandante da aeronave está de bermudas e pés descalços. “Ele não deve nem possuir um par de sapatos”, comenta o turista ao meu lado. Bronzeados e com o brilho no olhar de quem tem o emprego dos sonhos, os pilotos dos hidroaviões das Maldivas dão uma pista da atmosfera que se respira no circuito turístico desse país formado por 1200 ilhas coralinas repartidas entre 22 atóis, onde o mar atinge um turquesa quase histérico e a areia é branca de arder a retina.

É certo que, a médio prazo, o aumento do nível dos oceanos poderá varrer o arquipélago do mapa. Mas, por enquanto, a sensação de passar as férias em um resort maldiviano é a de estar em um lugar afastado dos problemas mundanos. E nem os pernilongos aparecem para incomodar, graças a um intenso trabalho de fumigação que é praxe nos bons hotéis. Nessas ilhas da fantasia, onde tudo conspira para o hedonismo, o maior perigo é, vá lá, que um pássaro surrupie um muffin do seu café da manhã flutuante (baseado em fatos reais).

+ Leia todas as reportagens da VT sobre as Maldivas

O hotel é o destino

Nas Maldivas, a maioria das ilhas são concessões privadas administradas por redes hoteleiras. Uma viagem padrão ao país consiste em escolher um único resort, do qual vai depender toda a sua experiência: logística de transporte, hospedagem, passeios, refeições e atividades.

À primeira vista, pode parecer pouco viajar ao outro lado do mundo para ficar apenas em um lugar. Mas a verdade é que não faz muito sentido ficar circulando. Em qualquer região do país, você terá paisagens semelhantes a seu redor ou a uma curta distância de barco: bancos de areia perdidos no meio do mar, praias alvíssimas pontilhadas de coqueiros, arrecifes saudáveis para observar a vida marinha e o Oceano Índico reluzindo a poucos metros da sua cama.

O que ter em conta ao escolher um hotel

Diante de mais de 160 hotéis espalhados por ilhas com nomes impossíveis, como Hulhumeedhoo ou Alidhuffarufinolhu, é normal ficar perdido. Por isso, o primeiro passo é decidir quanto você está disposto a investir e que tipo de hotel procura. No vasto cardápio das Maldivas, há desde grandes resorts com centenas de quartos e outras tantas opções de atividades até hospedagens mais simples e intimistas, sem artifícios como piscinas e restaurantes subaquáticos. No paraíso da lua de mel, alguns destinos são exclusivos para adultos. Mas também existe uma série de alojamentos familiares com oferta de programas infantis e lugares perfeitos para curtir em turma e/ou praticar esportes radicais.

Vale saber, também, que alguns hotéis são construídos sobre ilhotas artificiais e/ou protegidos por muros de contenção feitos de concreto para segurar a areia da praia, que já vem sendo ameaçada pelo aumento do nível do mar. Apesar de necessários, eles dão uma bela estragada na paisagem – ainda que a cor da água seja sempre impressionante. Conferir a vista aérea do hotel no Google e olhar as fotos do site com cuidado são boas formas de detectar a presença desses “intrusos”.

Surf e mergulho

Escolher com atenção um atol pra chamar de seu é mais relevante para mergulhadores, que costumam apostar no Baa Atoll, onde as arraias-mantas se congregam em Hanifaru Bay de maio a novembro. Outro point é o South Ari Atoll, no qual a chance de avistar os almejados tubarões-baleia é maior do que em outras regiões.

Surfistas fazem um bom negócio escolhendo um pouso próximo das ondas famosas, que se concentram ao sul e ao norte do Malé Atoll. Embarcar em um liveaboard, no entanto, é a melhor pedida para focar 100% da viagem em surf ou mergulho e sair em busca dos melhores picos, espalhados por todo o país.

Hotel com house reefs é sempre melhor

Seja qual for a região escolhida, se você curte observar a vida marinha, é importante checar se a ilha em questão está próxima a um arrecife natural. Sair nadando do bangalô e avistar arraias, tartarugas e milhares de peixes pode ser uma das grandes maravilhas de uma viagem às Maldivas e, ainda que a cor da água seja sempre “aquela”, nem todos os resorts estão em zonas tão ricas em fauna. Os hotéis que têm um arrecife a poucos metros da praia ou dos quartos (os chamados house reefs) costumam alardear isso entre os atrativos no próprio site. Na dúvida, entre em contato e pergunte especificamente sobre isso.

Como escolher um bangalô

Ao reservar uma viagem para as Maldivas, você provavelmente estará sonhando com um bangalô de palafitas suspenso sobre o mar. Enquanto os viajantes europeus costumam preferir os quartos na praia, as suítes flutuantes são o objeto do desejo dos brasileiros. De fato, observar o trânsito de arraias enquanto toma um drink na sua piscina é uma experiência e tanto. Mas abrir a porta do quarto e pisar a areia mais branca do planeta também tem seu encanto. Em muitos hotéis, reservar uma beach villa ao invés de um overwater bungalow é uma forma de enxugar o orçamento sem perder em conforto.

Casais no auge da paixão também vão gostar de saber que as day beds das palafitas nem sempre proporcionam a privacidade esperada, já que nada impede alguém de remar um SUP ou passar nadando na frente do seu ninho de amor – em um país muçulmano, toda nudez será castigada, mesmo nos resorts. Muitas vezes, as suítes da praia estão mais protegidas pela vegetação dos olhares curiosos. Na dúvida, pode ser uma boa repartir a estada entre duas acomodações diferentes. Os bangalôs também costumam se dividir entre vista para o pôr do sol (mais caros) ou nascer do sol (um pouco mais em conta).

Café da manhã, meia pensão, pensão completa ou all inclusive?

Eis a questão mais crucial na hora de calcular o orçamento. Em um país onde uma refeição no McDonald’s no aeroporto para duas pessoas sai por US$ 35, os preços dos comes e bebes nos hotéis podem ser assustadores para os mortais, ainda mais fazendo conta em Real – calcule US$ 50 por um prato principal de preço médio em um lugar de alto nível. Uma vez que você dependerá dos restaurantes do próprio resort para fazer absolutamente todas as refeições, reservar pelo menos meia pensão é uma forma segura de controlar os gastos. O salto de meia pensão para pensão completa costuma valer a pena para quem não dispensa três refeições ao dia.

O que encarece de verdade uma viagem para as Maldivas são as bebidas alcoólicas – como em todo país muçulmano, o “goró” vem de fora e as taxas são salgadas. O preço com all inclusive costuma duplicar quando comparado ao valor de uma diária apenas com café da manhã – e só vale a pena para quem pretende beber bastante. Antes de fechar um pacote com tudo incluído, consulte o menu de bebidas do hotel e coloque tudo na ponta do lápis, adicionando 10% de taxa de serviço e 12% de taxas governamentais. Nessa hora, tenha em conta que algumas hospedagens não oferecem nem água grátis e que uma garrafinha pode sair por uns US$ 5 ou mais. Informe-se, também, sobre quais vinhos, cervejas e coquetéis entram no all inclusive.

Mesmo nos pacotes de pensão completa, as refeições especiais não estão incluídas na diária. Um café da manhã flutuante, ícone maldiviano que bomba no Instagram, sai por cerca de US$ 300, enquanto jantar em um restaurante subaquático custa uns US$ 350 por pessoa sem bebidas. Esses e outros mimos tentadores podem pesar bastante na conta final. 

Como se locomover

O transporte clássico das Maldivas é o hidroavião, um tipo de aeronave bimotor que decola e pousa na água. As duas principais companhias do país são a Maldivian e a Manta Air. Os resorts costumam ter acordo com uma das empresas e organizam o seu transfer conforme a hora de chegada e partida do voo internacional. Uma passagem interna de hidroavião custa entre US$ 350 e US$ 600 (ida e volta), dependendo da distância de Malé. Atenção: evite voos internacionais que cheguem à noite, já que os hidroviões não decolam depois do pôr do sol e você terá que passar uma noite em Malé, a capital mais densa do mundo, bem pouco atraente.

Algumas ilhas povoadas contam com pequenos aeroportos e recebem voos domésticos partindo de Malé, que saem um pouco mais em conta do que os de hidroavião. Quem opta por descer nas ilhas precisa pegar um barco até o resort escolhido. Para ilhas próximas a Malé, o transporte costuma ser feito de lancha, o que torna a chegada ao paraíso mais rápida e barata.

Perrengue chic

Saltar de ilha em ilha encarece muito a viagem, já que quase sempre é preciso voltar para Malé, a capital, e pegar outro hidroavião ou lancha até o destino. O traslado sempre acaba comprometendo pelo menos a metade do dia. Isso porque o horário dos voos, de avião ou hidroavião, são apenas uma referência e atrasos são praticamente uma certeza.
Caso decida saltar de ilha em ilha, prefira ir de hidroavião. Assim, pelo menos, você se poupa da passagem pelo caótico terminal de voos domésticos de Malé onde, muitas vezes, mal há lugar para sentar nas lotadíssimas salas de embarque. Os terminais de hidroaviões, em contrapartida, ficam a cinco minutos do aeroporto e são bem mais agradáveis.
Vale dizer, porém, que apesar da paisagem mais estonteante estar passando na sua janelinha, voar de hidroavião é um perrengue chic. O espaço dentro é extremamente reduzido (é impossível ficar em pé e o intervalo entre os assentos é minúsculo), o barulho é intenso e não rola ar condicionado. Ao chegar de um voo internacional, tenha em mão uma mudinha de roupa bem leve e prepare-se para suar em bicas mesmo assim.

Documentação para viajar

Ao chegar nas Maldivas, você receberá gratuitamente um visto de 30 dias de permanência. Para isso, basta apresentar um passaporte válido por seis meses a contar da data de entrada no país, passagem de volta e comprovante da reserva do hotel. Também é preciso preencher um formulário com até 72 horas de antecedência. Acesse o formulário e todas as informações sobre imigração neste link. Ao final do processo, você receberá um QR Code, que deverá apresentar no check-in ou na chegada ao país. Fique atento, porque as regras mudam constantemente!

Maldivas barato: isso existe?

O barato, nas Maldivas, é extremamente relativo. Para hotéis instalados em ilhas privadas, US$ 400 para duas pessoas com meia pensão pode ser considerado uma pechincha. Afinal de contas, as diárias de quatro dígitos são extremamente comuns e o céu é o limite. O custo tão alto se explica, em parte, pelo fato de praticamente tudo, de móveis a alimentos, passando pelo material de construção e os aparelhos eletrônicos, serem importados. “Operar a logística de um hotel neste país é mais complicado do que desvendar os mistérios do universo”, disse Philippe Wagenfuhrer, chef executivo do resort Anantara Dhigu.

Escolher um bangalô na praia ou no jardim ao invés de palafitas é uma boa estratégia para tornar o preço da viagem mais palatável. Moderar no álcool, optar por uma ilha acessível de lancha desde Malé e ficar em apenas em um resort são outras formas de economizar.

Turismo vida real

Recentemente, o governo das Maldivas liberou a construção de hotéis em algumas ilhas povoadas do país. Ainda que eles não sejam tão espetaculares como os das redes internacionais dos paraísos privados, costumam oferecer um bom nível de conforto por diárias a partir de US$ 100. Ficando em um vilarejo, você pode aproveitar para conhecer um pouco da vida real das Maldivas, provar a cozinha local sem gastar muito e ter uma experiência mais autêntica. Mas é preciso ser realista: as praias não são tão perfeitas como nos resorts e nem todas permitem o uso de biquíni. Fora isso, para circular nos povoados, sobretudo as mulheres precisam respeitar os costumes locais e cobrir ombros e pernas. O consumo de álcool não é permitido, nem nos hotéis, e as restrições devido à pandemia podem ser mais estritas, dependendo da situação. Viver essa experiência pode ser interessante para esticar a estada gastando menos. Mas viajar até lá só pra ficar nesse esquema acaba sendo um barato que sai caro.

Onde ficar

Com magníficas villas na praia e sobre palafitas, decoradas no estilo tradicional maldiviano, todas equipadas com piscina privada, o Anantara Kihavah Maldives Villas tem o melhor restaurante subaquático do mundo segundo o World Travel Awards. Também ostenta um dos mais belos house reefs (“arrecife da casa”, bem pertinho dos bangalôs) do país e está a uma curta viagem de Hanifaru Bay, onde é possível nadar com centenas de arraias-mantas de maio a novembro no Baa Atoll. Leia o relato de Adriana Setti no Anantara Kihavah Maldives Villas.

Um dos poucos resorts de luxo das Maldivas onde quebram ondas de altíssimo nível a poucos metros da sua praia é o Niyama Private Island, verdadeiro sonho dos surfistas – não à toa, foi o destino das últimas férias de Cauã Reymond. O lugar tem um menu incrível de restaurantes – um deles suspenso entre árvores imensas e outro subaquático –, duas ilhas interconectadas com praias perfeitas e diversas categorias de villas (incluindo palafitas com piscina) superespaçosas e com décor contemporâneo. Leia o relato de Adriana Setti no Niyama Private Island.

Uma viagem de meia hora de lancha conecta o aeroporto de Malé com o Anantara Dhigu Resort, um pouco mais em conta para os padrões maldivianos. Perfeito para famílias, tem menu completo de atividades para crianças, ao mesmo tempo que oferece sossego e privacidade para adultos em seus bangalôs sobre a água ou nas lindas villas pé na areia, que foram renovadas recentemente, ganhando piscinas e decoração com jeitinho de casa de praia moderna. O bufê de café da manhã é quilométrico e absolutamente fora de série. Para viagens a dois, o Anantara Veli Resort fica em uma ilhota ao lado do Dhigu, mas é exclusivo para adultos. O trio de hotéis “irmãos” se completa com o Naladhu Private Island, que foi totalmente reformado em 2021 e está tinindo de novo, com 20 residências de luxo de frente para o mar com um ou dois quartos, piscina e serviço de mordomo. Leia o relato de Adriana Setti sobre a hospedagem no Anantara Dhigu.

Procure outras opções de acomodação nas Maldivas

Quanto tempo ficar

Em termos de “coisas pra fazer”, uma semana costuma ser suficiente para aproveitar o que um bom resort tem a oferecer. Mas é importante levar em conta que uma viagem para as Maldivas implica dois voos longos, uma viagem de hidroavião, esperas em aeroportos e uma mudança radical de fuso horário. Ou seja, vale deixar uma margem de um ou dois dias para que você possa se recuperar.

Dinheiro

A moeda oficial das Maldivas é a Rúpia Maldívia (MVR). Mas só vale sacar a moeda local se a sua viagem incluir dias em Malé ou em alguma outra ilha habitada. Todos os serviços turísticos aceitam dólares (US$ 1 = 15 MVR). Dentro dos resorts, você só tocará na carteira para pagar a conta dos extras no final ou para deixar gorjetas – que são bem-vindas como em qualquer lugar do planeta.

Como chegar

A conexão mais “rápida” entre São Paulo e Malé é via Doha, com a Qatar Airways, ou Dubai, pela Emirates.

Busque outras hospedagens nas Maldivas

+ Leia todas as reportagens da VT sobre as Maldivas

Compartilhe essa matéria via:
Publicidade