Tarija: vinhos de altitude colocam sul da Bolívia no mapa do enoturismo

Menos famosa quando o assunto é vitivinicultura, Bolívia tem seu próprio vale repleto de vinícolas – e até uma aguardente de uvas que só existe ali

Por Maurício Brum
5 Maio 2025, 16h00
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Condições de Tarija são ideais para a produção vitivinicultora (Bodega Campos de Solana/Divulgação)
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Em um continente onde Argentina e Chile são sinônimos de excelência quando se trata dos vinhos sul-americanos, a concorrência é pesada – e não costuma haver muita chance para outros lugares se destacarem no mercado.

Se você é a Bolívia, então, a situação talvez seja até mais complicada. Garrafas bolivianas raramente aparecem nas gôndolas e mesmo alguns apreciadores acostumados a descobrir vinícolas obscuras provavelmente nunca tiveram a oportunidade de encher uma taça com o líquido de uma garrafa vinda do Altiplano. Mas produtores de Tarija, no sul do país, vêm tentando mudar essa história.

Situada quase 900 km ao sul de La Paz, a região entre Tarija e Valle de Concepción concentra uma série de vinhedos centenários que se destacam como alguns dos mais altos do planeta: as parreiras crescem a altitudes entre 1,8 mil e 2,2 mil metros sobre o nível do mar, no platô andino próximo à fronteira com a Argentina. E, apesar da tradição secular na produção artesanal, o engarrafamento para o comércio só começou lentamente nos anos 1980, tornando os vinhos locais um segredo que ainda está por ser descoberto por muitos paladares.

Vinícolas de altitude

Quase 90% da produção de vinho boliviana vem dos vales ao redor de Tarija, que podem ser visitados em uma rota turística oferecida por guias locais: a Ruta del Vino y Singani, nome que faz referência tanto à bebida mais conhecida quanto à aguardente local (saiba mais sobre ela no final desse texto). Empresas como a Explora Tarija oferecem expedições pelas vinícolas da região.

A altitude, que mescla uma boa exposição solar a noites com temperaturas mais baixas, ajuda a produzir uvas consideradas ideais para garantir a qualidade do vinho local. Embora o enoturismo esteja apenas dando seus primeiros passos na Bolívia, alguns vinhedos mais estruturados já contam com boas alternativas de hospitalidade para acompanhar a produção e apreciar os sabores do que é feito em Tarija. A Bodega Campos de Solana, na zona de El Portillo, é uma das mais famosas.

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Outro destino imperdível da região é La Casa Vieja, lar dos vinhos Doña Vita, que opera em um antigo casarão – como o nome indica – de mais de 400 anos. As visitas guiadas pela rota vinícola também costumam incluir sempre uma parada pela Aranjuez, uma das adegas mais cultuadas da região. Premiada várias vezes como a fabricante do melhor vinho boliviano, a Aranjuez é pioneira no cultivo da casta Tannat no país, e faz questão de destacar a tradição.

Vai uma dose de singani?

Enófilos e apreciadores que passam por Tarija certamente vão encontrar no vinho local notas, aromas e sabores suficientes para se deliciar, mas uma viagem para esse pedaço da América do Sul não fica completa sem provar outro produto encontrado em praticamente todas as bodegas da região: o singani, uma aguardente de uvas criada nos vales locais.

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O nome provavelmente vem da expressão aimará siwingani e significaria algo como “lugar onde crescem os juncos”. Segundo a tradição, esse era o nome da fazenda onde o destilado teria sido produzido pela primeira vez.

Em busca de um sabor mais familiar, muitos estrangeiros comparam o singani com o pisco peruano. Mas a bebida boliviana segue um processo distinto e usa um tipo de uva bem específico: só pode ser feita com uvas moscatel de Alexandria. Desde 2016, a bebida é considerada um Patrimônio Cultural da Bolívia, além de ser uma denominação de origem protegida.

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