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Madri: o que fazer, roteiros, restaurantes e achados

A capital espanhola deve ser saboreada bairro a bairro, com calma. De preferência com paradas para um vermut, croquetas e muito jamón

Por Fabricio Brasiliense
Atualizado em 5 jun 2024, 09h44 - Publicado em 19 set 2022, 19h15
Gran Via, Madri, Espanha
Gran Vía, parada obrigatória para quem visita Madri. (Jorge Fernández Salas/Unsplash)
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Uma visita ao Museu do Prado e ao Reina Sofia, uma voltinha pela Gran Vía, quem sabe um drinque em La Latina, e pronto, Madri está ticada. Nada mais injusto do que dedicar apenas um par de dias à capital da Espanha. A cidade vive grande efervescência na alta e na baixa gastronomia, na noite, nos mercados de rua e nos coletivos culturais. Há alegria nas ruas, os restaurantes sempre cheios. Madri merece uns quatro, cinco dias. Como você verá neste roteiro pelos bairros mais bacanas da cidade.

Paseo del Prado e Gran Vía

O Paseo del Prado é o principal boulevard de Madri, reúne museus que são clássicos e, claro, vive cheio. O Thyssen-Bornemisza exibe um pouco de tudo: Hopper, Lucian Freud, Kandinsky, Rothko, Gauguin. Ao lado do Thyssen, na Plaza de las Cortes, está um dos hotéis mais chiques, o Westin Palace, onde o escritor Ernest Hemingway se hospedou muitas vezes. Don Ernesto, como era chamado na cidade, gostava de ficar ali para estar perto do Museu do Prado, que está do outro lado da rua, e também pelos martínis que ele entornava no bar do hotel, aberto ao público.

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Atrás do Prado está a área verde mais agradável da cidade, o Parque del Retiro, com suas alamedas bem-cuidadas e até um lago, que é a “praia” dos madrilenhos. A 700 metros do Prado, a Plaza de las Cibeles guarda a fonte mais famosa de Madri, e o melhor jeito de observar o lugar é desde o Palacio de las Comunicaciones. No sexto andar do edifício ficam o elogiado restaurante Palacio de Cibeles e também a Terraza Cibeles, perfeitos para curtir o visual da fonte mais famosa da cidade a bordo de um drinque. Aliás, a região é pródiga em azoteas, como são chamados os terraços (tá bom: rooftops) espanhóis. Ao entrar na Calle de Alcalá, que logo bifurca e vira a Gran Vía, busque pelo número 42, onde está o Círculo de Bellas Artes. Construído em estilo art déco, o topo do edifício é uma preciosidade, com vários recantos e muitas day beds confortáveis para deitar e curtir a vista.

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Mais adiante na Gran Vía, em frente ao metrô Callao, está a sensação gastronômica Gourmet Experience, que fica no último andar da tradicional loja de departamentos El Corte Inglés. Na nona planta foram montados 11 restaurantes, um empório variadíssimo e uma varanda com mesas que reservam bonitas vistas da cidade. Dentre os restaurantes, vale dedicar esforços nos pintxos do Asador Imanol, nas pizzas do Al Cuadrado e nos pratos típicos do La Máquina (se você curte dobradinha, peça pelos Callos a la Moda de Oviedo, que chegam fumegando).

Plaza Mayor e La Latina

Em vez de um city tour, que tal embarcar em um food tour? Foi o que eu fiz com a Devour no segundo dia em Madri, e recomendo. Começamos pela pastelería La Mallorquina, doceria em uma das esquinas mais turísticas de Madri, na Puerta del Sol com a Calle Mayor. À primeira vista parece um lugar pega-turista; não é. Ela está ali desde 1894 e faz alguns doces incríveis, como napolitana de chocolate e creme, um folhado divino. Dali seguimos até o número 43 da Calle Mayor, onde está a Vicens, uma loja de turrones da Catalunha que vende uma linha da iguaria desenvolvida por Albert Adrià. A próxima parada foi a Plaza de la Villa, que atravessamos para pegar a pequena Calle del Codo em busca do Monasterio dei Corpus Christi. Tocamos o interfone no prédio de número 3 onde estava escrito “Monjas”, mas fomos alertados que às vezes elas não atendem. Atenderam, e entramos. O lugar, também conhecido como Convento de las Carboneras, é um mosteiro de freiras enclausuradas que vendem biscoitos aos passantes. Dobramos algumas esquinas dentro da construção até dar de cara com uma portinha, na verdade um torno onde antigamente crianças eram deixadas para serem criadas pelas monjas. Por detrás do torno, sem que víssemos o rosto, uma freira cantou os sabores disponíveis do dia, e logo ela virou a portinha onde estavam as caixas empilhadas. Escolhi o amanteigado de jérez, depositamos o dinheiro, e mais uma vez a portinha girou. O inusitado da coisa é mais interessante que o sabor, apenas comum. Falta dulçor.

Na sequência, fomos ao Mercado de San Miguel, o ponto turístico-gastronômico mais famoso da cidade. Ali tomei um vermute e comi azeitonas. Na sequência passamos em frente ao Palácio Real e fomos em busca da taberna La Bola, na Calle Bola, cuja especialidade é o Cocido Madrileño, feito com grão-de-bico, carnes, vegetais, tudo cozido em panelinhas de barro individuais, como vi na cozinha. Tomamos um caldinho e ganhamos a rua. Ainda teve degustação de azeites, de jamón, e fechei com chave de ouro com porções de batatas bravas, camarões e cogumelos. Valeu muito, ou, como dizem por lá, es uma pasada!

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Lavapiés e Rastro

Um bom roteiro para fazer num sábado de manhã é ir ao Museu Reina Sofia para ver Dalí, Miró e aproveitar para conhecer melhor a obra mais famosa do museu, a Guernica, de Pablo Picasso. Ao fim da visita, pegue a rua lateral do museu, a Calle Argumosa, e embrenhe-se por Lavapiés, o bairro que é a Brick Lane de Madri. Com forte imigração indiana, paquistanesa e africana, os bares, cafés e livrarias alternativas são a tônica do bairro. Um lugar que traduz a vibe do lugar é La Libre, um ambiente aconchegante e vintage que está mais para cafeteria do que para livraria. Sente em uma das mesinhas baixas e peça um bizcocho de banana, a deliciosa torta da casa. Com a glicose regulada, siga pela Argumosa até chegar ao metrô de Lavapiés, que na sequência dá lugar à rua de mesmo nome, onde se enfileiram os restaurantes indianos do bairro que espalham mesinhas nas terrazas. Pegando a Calle Tribulete, na altura do número 14 você chega à universidade UNED, lugar que já foi uma igreja. Construída no século 18 e depois bombardeada durante a Guerra Civil Espanhola, no seu interior hoje funciona a biblioteca da universidade; é só espiar pelas janelinhas. Quase colado ao prédio da universidade está o Mercado de San Fernando, um lugar bacana para comer algo rápido ou comprar algum presente dos artesãos locais. Outro lugar de Lavapiés que entrou no circuito das artes é a Tabacalera, uma antiga fábrica de tabacos gerida por um coletivo de artistas que promovem oficinas de arte, exposições e shows. Aos domingos, todos os caminhos levam ao El Rastro, o maior mercado de pulgas da Espanha, que acontece das 9 às 15 horas na Calle Ribera de Curtidores e adjacências. O bochicho é maior na altura na Plaza de Cascorro, onde se concentram muitos artesãos e também alguns bares decanos, caso do Los Caracoles, cujo carro-chefe são os caracóis.

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Malasaña e Chueca

No período pós-franquismo, entre os anos 1970 e 1980, Madri viveu uma época de efervescência cultural. Depois de anos de repressão, os madrileños passaram a flertar com o punk e ganharam as ruas e os bares de Malasaña e Chueca. Rock, psicodelia e irreverência foram o legado da Movida Madrileña, movimento que viu surgir Pedro Almodóvar. Por ali continuam acontecendo as noites mais animadas e liberais – e onde também estão as lojas dos jovens designers, as pracinhas mais charmosas e grande parte da comunidade LGBTQIA+.

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Um giro pela região pode começar pela Calle Fuencarral, que se inicia na altura da Gran Vía e é coberta de ponta a ponta de lojas bacanas. Quem busca presentes originais não pode perder a loja dinamarquesa Flying Tiger, que tem unidades em toda a Europa e vive forrada de coisas de que você nem precisa, mas se sentirá tentado a levar porque custam até 10 euros. Agora é hora de se embrenhar pelas ruazinhas que cortam a Fuencarral. Pegando a Velarde, logo depois do metrô Tribunales, você chega à Plaza Dos de Mayo. Ali, basta a primavera dar as caras para as terrazas ficarem tomadas por mesinhas e muita, muita gente. Agora vá três ruas pra baixo e veja que beleza é a Calle Espíritu Santo: da Plaza Juan Pujol até a Corredora Alta de San Pablo, a rua reúne o comércio de bairro mais fofo do planeta, como a livraria Libros para um Mundo Mejor e o aconchegante Lolina Vintage Café. Pegando a Calle Madera você chega a uma portinha vermelha onde está a Casa Julio, que faz as croquetas mais famosas de Madri. Na Calle Valverde, a Fábrica Maravillas produz cervejas artesanais de primeira. Nas noites de terça a domingo, a partir das 20 horas, um dos lugares mais bombados de Malasaña é um antigo prostíbulo na Calle Loreto y Chicote onde hoje funciona o Microteatro por Dinero. Na parte de cima há um disputado bar e, descendo as escadas, onde funcionavam os quartinhos acontecem peças teatrais de até 15 minutos. Cada salinha acomoda até 15 espectadores e são cinco peças acontecendo ao mesmo tempo. A distância de um braço separa o público do “palco” e, ao final, você pode até dar um abraço nos atores caso tenha gostado da peça.

Do outro lado da Calle Fuencarral, em Chueca, na Calle Augusto Figueroa, não deixe de conhecer o Mercado de San Antón, todo reformado e com bancas que vendem frutos do mar, frutas e os indefectíveis jamóns.

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Mercado de Motores e Matadero

É muito recomendável, para quem puder, tentar coincidir a viagem a Madri com o segundo fim de semana de cada mês, que é quando acontece o Mercado de Motores, um evento super descolado da cidade. No metrô Delicias, perto da estação Atocha, existe um museu de locomotivas que por si só já vale o passeio e é onde rola a função. Os vagões ficam dispostos em trilhos e são uma viagem no tempo, com cabines que lembram o passado opulento das viagens de trem. Nos dias de mercado, designers, artistas e artesãos montam suas bancas ao longo das plataformas, tudo de muito bom gosto. Espere encontrar objetos de decoração, quadros, carpintaria, vinhos, comida orgânica. Nos fundos, em uma área aberta, muitas barraquinhas de comida, shows ao vivo. A trilha sonora entre os vagões é bossa nova tocada ao vivo ao som de sax e violão. Como dizem os espanhóis, es tan cool que duele! A entrada é gratuita, mas é preciso pegar ingresso pelo Eventbrite.

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Uma estação de metrô depois de Delicias, em Legazpi, está o Centro Cultural Matadero. O imenso lugar já foi um antigo matadouro, e hoje os galpões estão convertidos em salas de exposições, de espetáculos e cinema (não deixe de conhecer a sala Azcona, onde funcionou o frigorífico do matadouro, com tubos de LED nas paredes e no teto). Também há aluguel de bicicleta para quem quiser explorar a beira do rio. Ora, um dia apenas para Madri…

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MENU BOM É MENU BARATO

“No Mercado de la Reina (Gran Vía, 12), turistas e executivos vão em busca do generoso menu do dia”, Lauren Aloise, fundadora da Devour Food Tour

CASAS-MUSEU

A Fundación Lázaro Galdiano é uma das coleções privadas mais impressionantes da Espanha. Na bela mansão há pintura, escultura, tapeçaria, prata, têxteis e obras de Goya e El Greco. Perto dali, o Museo Sorolla expõe obras do famoso pintor valenciano. O Museo de Artes Decorativas exibe cerca de 30 mil objetos do final do século 19.” Paloma Garcia, relações-públicas do Westin Palace

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MADRI E MAIS ALÉM

“A serra de Madri pode ser conhecida de balão com a The Balloon Company. Recomendo muito a visita a uma das melhores vinícolas do país, a Bodega El Regajal,a 50 quilômetros da capital.” Borja Martin, concierge do Hotel Ritz

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