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Lista de Patrimônios da Unesco teve 46 adições (e uma baixa)

Florestas, sítios arqueológicos, parques, afrescos e cidades termais foram contemplados; veja alguns destaques

Por Bárbara Ligero
Atualizado em 3 ago 2021, 11h34 - Publicado em 30 jul 2021, 10h00
Palácio de Cristal no Parque do Bom Retiro, em Madrid
O Parque do Retiro, em Madrid, é provavelmente o lugar mais turístico a entrar na lista de Patrimônios da Unesco em 2021. Na foto, o Palácio de Cristal. Crédito: (By Eve Livesey/Getty Images)
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A lista de Patrimônios Mundiais da Unesco em 2021 teve um acréscimo de 46 lugares: 5 pelos seus atributos naturais, 30 pelo valor cultural e 11 por uma candidatura conjunta que reconheceu as grandes cidades termais da Europa. As adições foram feitas durante a 44ª sessão do Comitê de Patrimônios Mundiais, que aconteceu online e presencialmente em Fuzhou, na China, entre os dias 16 e 31 de julho. Veja alguns locais que foram contemplados com o título: 

Atributos naturais

Complexo Florestal de Kaeng Krachan – TailândiaO complexo florestal fica no cruzamento dos biomas do Himalaia, da Indochina e de Sumatra, mas também é especial por abrigar plantas ameaçadas de extinção, uma considerável diversidade de pássaros e animais característicos da região, como o elefante asiático, a tartaruga-gigante asiática, o tigre e o leopardo.

Elefantes Asiáticos no Parque Nacionald e Kaeng Krachan, na Tailândia
Elefantes asiáticos em meio à floresta de Kaeng Krachan, na Tailândia. Crédito: (Thai National Parks/Divulgação)

Valor cultural

Área Cultural Himã – Arábia Saudita: Várias inscrições e pinturas rupestres foram deixadas pelas caravanas que atravessaram a Península Arábica ao longo de sete mil anos. A maioria desses desenhos representa cenas de caça e estão em perfeitas condições de preservação, segundo a Unesco. Durante sua passagem, esses antigos viajantes também deixaram para trás ferramentas de pedra que continuam sendo encontradas por arqueólogos, além de poços artesianos de três mil anos onde ainda é possível encontrar água doce.

Desenhos rupestres representando a caça na Área Cultural de Hima, na Arábia Saudita
Desenhos rupestres representando a caça na Área Cultural de Hima, na Arábia Saudita. Crédito: (Heritage Commission/Wikimedia Commons)

Sítio Roberto Burle Marx – Brasil: O Brasil conquistou o seu 23º Patrimônio Mundial. Localizado em Barra de Guaratiba, zona oeste do Rio de Janeiro, o sítio que foi adquirido por Roberto Burle Marx em 1949 possui 407 mil m² de área florestal e abriga mais de 3,5 mil espécies de plantas tropicais e subtropicais.Lista de Patrimônios da Unesco teve 46 adições (e uma baixa)Lista de Patrimônios da Unesco teve 46 adições (e uma baixa)Além dos jardins, sete edifícios e seis lagos fazem parque do espaço, onde os visitantes podem conferir um museu com peças de arte pré-colombiana, sacra e brasileira, incluindo algumas obras do próprio Burle Marx.

Lago no Sítio Roberto Burle Marx
O Sítio Roberto Burle Marx conta com seis lagos diferentes. Crédito: (Sítio Roberto Burle Marx,/Divulgação)

Quanzhou – China: A onze horas de carro de Xangai, Quanzhou prosperou com o comércio marítimo durante as dinastias Song e Yuan. A cidade preserva ruínas de docas, pagodes, templos, estradas e edifícios da época, além de uma das primeiras construções islâmicas do país, a Mesquita Qinjing.

Estátua em frente ao Templo Confuncionista de Quanzhou, na China. Crédito:
Estátua em frente ao Templo Confuncionista de Quanzhou, na China. Crédito: (KimJong/Pixabay)

Paseo del Prado e Parque El Retiro de Madrid EspanhaA ampla avenida arborizada do Paseo del Prato e os 125 hectares do Parque El Retiro, que já eram atrações de peso em Madrid, foram incluídas na lista de Patrimônios Mundiais da Unesco por representarem um “espaço de natureza urbana” criado no século 16 para proveito de todos os cidadãos, sem distinção de classes sociais. A entidade também destacou que os dois lugares incorporavam uma nova ideia de espaço urbano, que nasceu do sonho de uma sociedade utópica durante o auge do Império Espanhol.

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Parque El Retiro, Madrid, Espanha
Junto com o Paseo del Prato, o Parque El Retiro é o novo Patrimônio Mundial da Espanha. Crédito: (SmartCustomer/Pixabay)

Farol de Cordouan – França: O Farol de Cordouan foi considerado uma obra-prima da sinalização marítima pela Unesco. Apesar de ter sido construído na virada dos séculos 16 e 17, ele foi projetado para remeter aos antigos faróis da antiguidade. Por isso, foi feito com blocos revestidos de calcário branco e decorado com colunas e gárgulas. Hoje, ele é o mais antigo farol francês ainda em funcionamento e recebe o apelido de “Versalhes do Mar”. Para visitá-lo, é preciso fazer um passeio de barco saindo das cidades de Royan ou Le Verdon-sur-Mer, na Nova Aquitânia.

Detalhes do Farol Cordouan, na França
Detalhes do Farol de Cordouan, mais novo Patrimônio Mundial da Unesco na França. Crédito: (Hreisho/Pixabay)

Nice – França: Apesar de ser a porta de entrada da ensolarada Riviera Francesa, Nice foi eleita Patrimônio Mundial pelo seu turismo de inverno. A Unesco justificou que, como as temperaturas amenas começaram atrair membros da aristocracia já no século 18, a cidade foi crescendo dentro de um planejamento urbano que a manteve sempre bela aos olhos dos franceses e estrangeiros, especialmente ingleses e russos. Isso, segundo a entidade, fez de Nice um “resort de inverno cosmopolita”.

Foto aérea de Nice, França
Nice, França (Danilo Pantalena/Unsplash)

Linhas de Defesa Holandesas – HolandaAs Linhas de Defesa Holandesas foram construídas entre 1814 e 1940 para impedir a entrada de invasores por meio da inundação controlada de algumas áreas. Elas consistem em um sistema de abastecimento de água e mais de mil fortificações, sistemas hidráulicos, canais e eclusas entre Fort Steurgat e Fort Naarden. Esse último, inclusive, é um dos exemplos mais bonitos do inusitado sistema de defesa militar, com formato de estrela.

Vista aérea de um pedaço do Fort Naarden, na Holanda
Vista aérea de um pedaço do Fort Naarden, um dos mais belos exemplos das Linhas de Defesa Holandesas. Crédito: (Malcolm Lightbody/Unsplash)

Templo Ramappa – ÍndiaO templo dedicado à Shiva começou a ser construído em 1213 e só foi concluído 40 anos depois. A estrutura principal é de arenito avermelhado, mas as colunas no interior da construção são de basalto negro e foram esculpidas com desenhos de animais míticos, dançarinos e músicos – peças que a Unesco considerou como sendo de alta qualidade artística. Fica a mais de 16 horas de carro de Mumbai.

Templo Ramappa, na Índia
O Templo Ramappa chama atenção pelo tom avermelhado do arenito usado na construção. Crédito: (Nirav Lad/Wikimedia Commons)

Afrescos de Pádua – Itália: Oito edifícios religiosos dentro da cidade murada de Pádua, a menos de uma hora de Veneza, abrigam uma coleção de afrescos pintados entre 1302 e 1397 que, para a Unesco, representam o início de uma evolução na pintura mural. Os mais famosos são os da Capella degli Scrovegni, que retratam cenas do Velho e Novo Testamento e foram produzidos por Giotto, um dos pais do Renascimento italiano.

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Afrescos dentro da Capella degli Scrovegni, em Pádua, na Itália
Os afrescos mais famosos de Pádua são os Capella degli Scrovegni (joergens.mi/Wikimedia Commons)

Pórticos de Bolonha – Itália: Dizem os italianos que é possível caminhar por Bolonha inteira em um dia de chuva sem nunca se molhar. De fato, 62 quilômetros do centro da cidade são cobertos por pórticos – alguns de madeira, uns de tijolos e outros de concreto. Os mais antigos são do século 12, época em que serviam como abrigo para comerciantes e artesãos trabalharem na rua.

Pórticos de Bolonha
Quando estiver sob um pórtico de Bolonha, olhe para cima: alguns deles são decorados com belos afrescos (sinomaq/Pixabay)

Complexo Arqueológico de Arslantepe – TurquiaEvidências arqueológicas indicam que essa antiga cidade, a mais ou menos cinco horas de carro da Capadócia, já era habitada muito antes da Idade do Bronze e desenvolveu uma organização burocrática quando a escrita sequer tinha sido inventada. Também foram encontradas no sítio arqueológico as espadas mais antigas do mundo, o que sugere que naquela sociedade já havia formas de combate organizado. Ainda é possível, durante uma visita às ruínas, admirar pinturas nas paredes e desenhos esculpidos nas rochas.

Desenhos esculpidos na rocha nas ruínas de Arslantepe
Exemplo de desenho esculpido na rocha que ainda pode ser apreciado nas ruínas de Arslantepe. Crédito: (Zeynel Cebeci/Wikimedia Commons)

Grandes cidades termais da Europa

A Unesco também reconheceu como Patrimônio Mundial um conjunto de onze destinos termais da Europa, que ficam espalhados em sete países diferentes. São eles: Baden bei Wien (Áustria), Spa (Bélgica), Franti Kovy Lázn, Karlovy Vary e Mariánske Lázn (República Tcheca), Vichy (França), Bad Ems e Baden-Baden (Alemanha), Montecatini Terme (Itália) e Bath (Reino Unido). Todos se desenvolveram em torno de nascentes naturais e são um testemunho de que a prática de se banhar em águas com propriedades medicinais existe pelo menos desde o século 18.

Águas termais em Montecatini Terme, na Toscana, Itália
Ainda é possível se banhar nas termas de Montecatini, na Toscana (Gulzada Bektemirova/Unsplash)

Liverpool deixou de fazer parte da lista de Patrimônios Mundiais da Unesco

O centro histórico e as docas vitorianas de Liverpool, na Inglaterra, foram colocadas na lista de Patrimônios Mundiais da Unesco em 2004 por representarem o desenvolvimento do comércio mundial nos séculos XVIII e XIX. De lá para cá, no entanto, grandes incorporadoras tomaram conta da orla da cidade e começaram a construir edifícios comerciais modernos – que, segundo o comitê responsável, prejudicam a autenticidade e a integridade do lugar. Como forma de alerta, a Unesco inseriu a porção histórica de Liverpool na lista de Patrimônios Mundiais em Perigo em 2012.

Passados quase dez anos, a entidade considerou que a situação continua a mesma (há planos inclusive para a construção de um estádio de futebol no valor de £ 500 milhões) e decidiu remover definitivamente o título concedido à cidade inglesa. As autoridades de Liverpool ainda podem contestar a decisão. O prefeito Steve Rotheram expressou o seu descontentamento ao jornal britânico The Guardian, alegando que a decisão foi “tomada do outro lado do mundo por pessoas que parecem não entender o renascimento que ocorreu nos últimos anos”.

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Prédios ultramodernos em Liverpool, na Inglaterra
Para a Unesco, os prédios ultramodernos que agora fazem parte do beira-mar de Liverpool estão tirando a autenticidade do lugar. Crédito: (Atanas Paskalev/Unsplash)

Em toda a história, apenas outros dois lugares perderam o status de Patrimônios Mundiais da Unesco. O Santuário do Órix da Arábia, no Omã, saiu da lista em 2007, depois que o número desses animais caiu vertiginosamente e o governo reduziu o tamanho da área de proteção em 90%. Já o Vale do Rio Elba em Dresden, na Alemanha, teve o título removido em 2009 por causa da construção de uma ponte que corta a região. 

Veneza também estava correndo o o risco de perder o seu status de Patrimônio Mundial da Unesco, que detém desde 1987. A entidade internacional vinha ameaçando colocar a cidade italiana na lista de patrimônios em risco devido à erosão causada pela circulação constante dos navios de cruzeiros na Lagoa de Veneza. O governo da Itália conseguiu impedir que isso acontecesse por pouco, ao determinar que, a partir do dia 1º de agosto, as grandes embarcações estarão proibidas de adentrar o centro histórico da cidade. Veja a lista completa de Patrimônios Mundiais em Perigo aqui.

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