Circuito completo para conhecer o melhor do café colombiano
A Zona Cafetera tem montanhas forradas de cafezais, fazendas históricas, hospedagens tradicionais e uma linda vila colonial
“Tem de sorver, sentir e cuspir”, me explicaram os baristas da Finca La Morelia, uma das fazendas que oferecem degustação na Zona Cafetera colombiana. Levei então à boca o líquido cheiroso e amargo (não ouse pedir açúcar) e ensaiei um veredicto. Tinha visto os cafezais carregados e os grãos serem moídos antes de terminar nesse terraço com meia dúzia de xícaras na minha frente.
Graças a uma dedicada e decidida estratégia de marketing que remonta à década de 1960, o café se tornou parte importante da identidade da Colômbia e é considerado “o” sucesso de crítica, top de linha. O país está entre os cinco maiores produtores mundiais, segundo no tipo arábica, atrás do Brasil.
A Zona Cafetera, ou Eje (Eixo) Cafetero, compreendida entre os departamentos de Caldas, Risaralda e Quindío, é o coração das plantações. E, com o desenvolvimento do turismo no país, muitas fazendas têm aberto as portas aos visitantes, com bonitos espaços de degustação que se aproveitam das belíssimas vistas que a geografia montanhosa proporciona.
A melhor base é o município de Armenia, a uma hora de voo de Bogotá. Alugue um carro no aeroporto (é difícil visitar as fazendas sem ele; táxis são caríssimos), pule a cidade (não há nada interessante para se ver por lá) e siga por estradinhas de terra até uma hospedagem rural.
Pode ser em casas tradicionais coloridas como a Finca El Baso e a Hacienda La Cabaña, onde os donos te contam histórias sobre a cultura da região, ou opções mais luxuosas como a Hacienda Bambusa, com acomodações rústicas e chiques que, ora, bem que poderiam estar em Trancoso.
Por falar na arquitetura da região, precisamos falar do guadua. Esse tipo de bambu, que está presente em muitos pontos da região cafeeira, tem função estrutural para o povo local – é utilizado em móveis, lajes, cercas e, claro, suvenires pintados a mão. Curiosamente, o bambu guadua, que cresce cerca de 10 centímetros por ano e atinge 8 metros de altura, é tão flexível que pode suportar até terremoto.
De Armenia, um pulo leva a La Morelia e outras boas fincas. Veja, por exemplo, o Café San Alberto, premiado mundo afora, onde o tour termina em um terraço com vista sublime para as montanhas. Compete com o panorama que desponta do Mirador Hacienda La Mina, do cinquentenário Café Concorde, encravado lá no meio dos cafezais.
Se estiver com crianças, vale a pena passar no Parque del Café, um complexo temático dedicado ao ouro negro das terras colombianas.
Depois, reserve uma noite na minúscula cidadezinha colonial de Salento, atingida depois de 30 quilômetros rodados por uma estradinha vistosa desde Armenia.
Reduto de gringos e mochileiros, conta com ruas lotadas de lojinhas de artesanato, uma filial do ótimo Café Jesús Martín, que realiza workshops, e pequenos restaurantes que servem a típica bandeja paisa (uma mistureba deliciosa de feijão, linguiça, torresmo, arroz, abacate, arepas, ovos, presunto, alface e tomate).
Salento comparece com outras hospedagens adoráveis, como a Casa La Eliana, mais perto do centro, e El Rancho de Salento, nos arredores rurais.
Mais: Salento também é colada no Parque Nacional Valle del Cocora, cheio de majestosas e fotogências palmas de cera – palmeiras finas e compridíssimas que podem chegar a até 60 metros de altura.
Trilhas entre pequenas cascatas convidam a passar uma tarde zanzando por ali e a entrar de vez no ritmo lento e rural da região. Acelerado, somente o coração com tanto café gostoso.
Entre a cruz e a salsa… Logo ali fica Cali
Temperaturas calientes, montanhas, uma dança típica e sexy aqui e acolá e um Cristo abençoando essa malemolência lá do alto. Semelhanças nesse lifestyle remetem ao Rio de Janeiro, mas um detalhe ratifica a coisa apenas como semelhança: não há mar(!). Capital do departamento do Valle del Cauca e da salsa, Santiago de Cali, famosa pelo sobrenome, convive com uma brisa vinda do Pacífico que compõe o clima local, cálido à beça no verão.
Uma vez em Armenia, Zona Cafetera, 180 quilômetros conduzem à cidade do requebrado, a quarta mais visitada da Colômbia. Claro, estamos no Terceiro Mundo, e punguistas o habitam, legado do nefasto cartel de drogas dos irmãos Gilberto e Miguel Rodríguez Orejuela; portanto, fique esperto(a) nas ruas, como no Brasil.
Tanto calor livra o espírito das amarras, do superego, e contagia o quadril ao mínimo soar da salsa. É tipo assim: as pernas se cruzam com tamanha velocidade que parecem programadas há tempos para seguir o ritmo salseiro. E estão. A maioria dos moradores baila desde chiquito. Mais rápida que aquela dançada em Cuba ou na República Dominicana, a salsa caleña é ensinada em várias escolas, inclusive com programas para viajantes.
As escolas avisam, porém, que, em menos de uma semana, ninguém vai se tornar um pé de valsa. Ao ver o professor conduzir a aula com “Uno, dos, tres…” compassados, até parece fácil. Não é.
Agitos à parte, Cali é pacata, menos nas imediações das canchas do América e do Deportivo Cali, clubes futebolísticos com hinchas fanáticos, e nos caprichosos e turísticos exemplares religiosos. Curte? Bom plano é estacionar o carro na central Plaza de Cayzedo e admirar a arquitetura de La Catedral e das iglesias de La Merced, com museu arqueológico, e de San Francisco.
Já o Cristo está no topo de uma das muitas montanhas ao redor. É que a maior parte de Cali se mantém rural, e o povo dessa área recebe a gente orgulhoso de seu estilo de vida em casas/haciendas simples e ajardinadas.
Nem parecem comungar da mesma Cali de agitada noite, de quatro zonas gourmet (Granada, Perro, Ciudad Jardín e Peñon) e que sedia, creia, clínicas de cirurgia plástica famosas mundialmente.