Há muitas notícias boas – e uma nem tanto – sobre Vancouver, a terceira maior cidade do Canadá, com 2,2 milhões de habitantes. De início, os invernos parecem não ser muito canadenses: é raro a temperatura ficar abaixo do zero; a metrópole, que ocupa uma península, é belíssima, com praias, picos nevados e enormes áreas verdes, em parte cortesia da chuva constante (essa a notícia não tão boa: são 166 dias de precipitações por ano). Pelo menos no verão, agora no meio do ano, os dias são mais secos.O clima ameno de Vancouver se deve às correntes quentes do Pacífico. Até as tempestades de neve, se é que dá para chamá-las assim, são mais cênicas do que qualquer outra coisa, enfeitando a cidade de branco por tempo suficiente para as suas fotos causarem comoção nas redes sociais. Não bastasse isso, Vancouver é uma das cidades com melhor qualidade de vida do mundo. No ranking anual da consultoria Mercer, é a quinta na classificação geral – e a primeira das Américas; já na lista da Economy Inteligency Unit, instituto da revista inglesa The Economist, é a vice-campeã entre 140 concorrentes (Melbourne, na Austrália, recentemente a destronou). Distante mais de 4 mil quilômetros de Toronto e de Montreal, Vancouver é um Canadá à parte, com fuso e agendas próprias, sem a influência e o oba-oba dessas capitais oficiosas do país. É difícil não sentir em Vancouver uma vontade de ir adiando a passagem de volta. Muitos chineses fizeram mais do que isso: ficaram de vez, dando a Vancouver um quê de Hong Kong. Os chineses na verdade estão lá há tempos. Eles já chegaram no século 19, na época da fundação da cidade, quando ajudaram a construir a ferrovia continental Canadian Pacific Railway. Não surpreende Vancouver ter a maior Chinatown do Canadá, colada ao Centro. Um portal monumental, o Millenium Gate, entre as ruas Taylor e Pender, serve como entrada. Uma vez em Chinatown, prove os famosos dumplings do restaurante Bao Bei, na Keefer Street, aclamado por seu approach contemporâneo da culinária chinesa. Coma-os por lá mesmo ou peça para embrulhar para viagem e almoce em um dos muitos parques espalhados pela cidade. O jardim Dr. Sun Yat Sen, o primeiro em estilo Ming construído fora da China, está ali ao lado. O vizinho bairro Gastown é o mais antigo de Vancouver, onde a cidade começou, em 1867. Ali fica o famoso relógio a vapor Steam Clock, uma das atrações mais fotografadas pelos turistas. A cada 15 minutos você verá uma explosão de vapor. Aproveite o clima meio passadista e dê uma parada para o chá da tarde no Café Medina – a sugestão aqui é trocar o chá pelo gostoso café orgânico 49th Parallel e os biscoitos pelos wafes com calda de chocolate meio amargo ou compota de futas vermelhas.Em Vancouver, come-se muito bem. Peixes e futos do mar são as grandes especialidades. A cidade é precursora do programa Ocean Wise, que visa ao consumo e à produção sustentáveis de peixes e futos do mar. Restaurantes participantes exibem, com orgulho, o símbolo do programa em seus cardápios, preparados com produtos de época. O pioneiro é o C Restaurant, coman- dado pelo premiado chef Robert Clark, de cujo salão se tem uma vista maravilhosa das águas do False Creek e da Granville Island, à fente. O menu degustação, muito recomendável, custa US$ 95. O vinho da vizinha região de Okanagan Valley cai bem como acompanhamento. Apreciadores de cerveja também estão em seu elemento em Vancouver. São mais de 200 rótulos, das tradicionais pale ale às encorpadas porter, fabricados na cidade. As águas cristalinas vindas das Montanhas Rochosas garantem a pureza. Cole a barriga no balcão da cervejaria Yaletown Brewing Co., no bairro chique de Yaletown, e prove tantas quanto for possível. É essa a região dos melhores pubs e restaurantes, que lotam nos fins de semana. O jardim Dr. Sun Yat Sen, em VancouverO notável jardim Dr. Sun Yat Sen – Foto: Getty ImagesSe Vancouver lembra muito Hong Kong por seu shape arquitetônico (e humano), tem também algo de San Diego. Como na Califórnia, os locais são adeptos fervorosos de esportes e atividades outdoor: ioga, pilates, hóquei, corrida. O calçadão Seawall, que vai do Stanley Park – o parque com área equivalente a três Ibirapuera – à Kitsilano Beach, precisou ser dividido em duas pistas distintas para evitar congestionamento de esportistas: na pista beirando o mar, só caminhada e jogging; na mais próxima ao asfalto, bikes e patins.Ao norte da cidade, Vancouver ostenta uma atração radical. A Capilano Bridge é para despertar o Indiana Jones que hiberna dentro de você. Com 137 metros de extensão, é a mais longa ponte suspensa para pedestres do mundo. Construída no final do século 19, hoje tem cabos de aço capazes de suportar o peso de dois Boeing 747. Quando estiver bem no meio, olhe para baixo e tente não tremer muito para não estragar a foto do belo Rio Capilano, 70 metros (algo como um edifício de 23 andares) sob os seus pés.Com suas muitas saídas para o mar (o Pacífico ali é domado pela grande Ilha de Vancouver, a oeste), Vancouver é um lugar fácil para se orientar. Funciona bem o sistema de transporte público SkyTrain, que os locais teimam em dizer que não é metrô porque tem trilhos de superfície. Não os contrarie e aproveite sua eficiência. A linha Canada Line liga o aeroporto internacional ao centro da cidade. Vancouver é um lugar que exala prosperidade, com sua limpeza impecável, seus parques deliciosos e seu transporte eficaz. As Olimpíadas de Inverno de 2010 impulsionaram ainda mais esse cenário, aquecendo o mercado imobiliário e ajudando a colocar mais edifícios no skyline. O Canadá já foi mais competitivo para compras, mas agora o dólar canadense tem exatamente o mesmo valor do americano, o que encarece seus produtos. Mesmo assim vale conhecer o Pacific Centre Mall, na região de Robson Street, o shopping chique da cidade, com lojas como Michael Kors, Hugo Boss, Stuart Weitzman e Max Mara. Para não estourar o budget existem as mais populares H&M, Hollister, Nine West e Aldo, ótimas para sapatos, bolsas e acessórios. Há ainda as lojas de grife da própria Robson Street, a Beverly Hills da cidade. Ali costuma ocorrer congestionamento de madames na Louis Vuitton, na Coach e na Burberry, algumas entre as favoritas das fashionistas (especialmente das chinesas fashionistas).Em um sábado ou um domingo, pegue o ônibus-barco Aquabus, que conecta diversos pontos da cidade, e desembarquena Granville Island, a ilha que fica ao sul da Granville Street, uma das grandes áreas de entretenimento ao ar livre de Vancouver, com muita música, comida, artistas de rua e o Mercado Público. Dá para ficar umdia inteiro ali, fuçando as cerca de 200 lojas que vendem de tudo, de bijuterias a artesanato, flores, chocolates e até iates. No fim de semana, os vancouverites que não estão na praia, pode ter certeza, estão ali se divertindo.No fim das contas, dá para entender perfeitamente por que tanta gente vai a Vancouver e acaba ficando. Uma música dos anos 1960 do compositor Adolph Mueller, Vancouver’s Paradise, já dizia que a cidade, em uma tradução livre, é “onde mora a felicidade” – e “onde os céus são sempre azuis”. Até mesmo, ao que parece, quando chove.
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Vancouver é uma das melhores cidades do mundo. Tem praias, parques enormes, montanhas nevadas, restaurantes de frutos do mar e pontes vertiginosas
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