Um roteiro pelas 7 cidades cervejeiras do Vale do Itajaí
Uma rota cervejeira por Blumenau, Gaspar, Brusque, Timbó, Pomerode, Jaraguá do Sul e Joinville, com museu, escola e 15 microcervejarias
O sonho de todo apreciador de cerveja é ir à Europa e conhecer países como Alemanha, Bélgica e República Tcheca, onde são produzidas as melhores stouts, bocks, weisses e pilsens do mundo.
Bem, temos uma boa e uma má notícia a respeito. A má (primeiro, claro) é que, para fazer o roteiro europeu, o entusiasta das fermentadas desembolsará uma quantia nada desprezível – e em euro. Agora, a boa: sem sair do Brasil, é possível degustar excelentes cervejas enquanto se conhece belos lugares.
Onde? Em Santa Catarina, mais especificamente em Blumenau e arredores, no Vale do Itajaí. Ali, há alguns anos, tem se formado um circuito de microcervejarias que elevou a qualidade da bebida brasileira, inclusive ao patamar internacional.
O boom dessas microprodutoras no estado tem raízes na colonização alemã. A primeira cervejaria da região é de 1860, e, até a Primeira Guerra Mundial, houve uma expansão natural de marcas artesanais.
Com o passar dos anos, e a dificuldade de adquirir insumos (lúpulo, por exemplo), elas foram fechando. Começaram a voltar na década de 1990 e, nos últimos anos, o crescimento foi exponencial: só no vale, são 15 cervejarias, em um raio de 70 quilômetros.
No início desse boom, as cervejarias seguiam estritamente a Reinheitsgebot, a Lei da Pureza da Cerveja. Criada em 1516 na Alemanha, ela proíbe o uso de conservantes e limita sua produção à utilização de apenas quatro ingredientes: água, lúpulo, malte e fermento.
Mas a nova geração de cervejeiros passou a ampliar os horizontes. “De uns seis anos para cá surgiu a escola americana, que trabalha com bebidas lupuladas, mais amargas, frutadas e aromáticas; isso foi essencial para o desenvolvimento”, explica Ulysses Kreutzfeld, sócio da Bier Vila, um dos principais estabelecimentos dedicados à cerveja em Blumenau, com mais de 400 rótulos em sua carta.
Kreutzfeld, também sócio da premiada Cervejaria Blumenau, salienta que o caminho foi árduo e que, entre os percalços, estava a resistência aos novos paladares e aromas por parte do consumidor. “O brasileiro não estava acostumado a tomar cervejas diferenciadas; para criar esse conceito, foram muitos anos”, diz.
Cerca de 10% dos municípios de Santa Catarina têm empresas ligadas ao segmento. São quase meia centena de microcervejarias, outras duas dezenas de marcas terceirizadas e brewpubs – bares que produzem cervejas de marca própria. É justamente no Vale do Itajaí que essa produção se concentra. Além de Blumenau, há municípios como Gaspar, Pomerode, Jaraguá do Sul, Brusque, Timbó e Joinville, que fica na fronteira com o vale.
Uma das responsáveis pela qualidade técnica dessas microcervejarias, a Escola Superior de Cerveja e Malte (ESCM) ajudou a criar o Festival Brasileiro da Cerveja e a Rota do Vale da Cerveja, que oferece vários roteiros. O principal deles é o do Vale Europeu, que inclui cinco cidades. Aqui, apresentamos a nossa sugestão de rota – contempla cidades em um raio relativamente próximo e pode ser traçada de carro (com motorista sóbrio, claro). Boa degustação!
1. BLUMENAU
A terceira cidade mais populosa de Santa Catarina (334 mil habitantes, diz o Censo de 2014) detém o título oficial de Capital Nacional da Cerveja, por obra de um projeto de lei aprovado em março de 2017. Ali, como em boa parte do Vale do Itajaí, a herança alemã evidencia-se na arquitetura e nas ruas margeadas pelo Rio Itajaí-Açu.
A cidade continua muito associada às confecções, uma de suas principais atividades, e à Oktoberfest, a festa da cerveja que ocorre anualmente em outubro. Mas aos poucos vai virando também uma cidade moderna, cheia de boas surpresas. Veja 6 atrações cervejeiras em Blumenau:
Museu da Cerveja
Depois de meses fechado, o Museu da Cerveja em Blumenau será reaberto no dia 2 de setembro de 2022 no centro histórico da cidade. Fundado em 1996, ele aproveita as antigas instalações da cervejaria Fieldman – boa parte do acervo, inclusive, pertence à antiga fábrica. O espaço terá ambientes que falam sobre a história da bebida, os processos utilizados pelos primeiros colonizadores e a relação da cerveja com a cidade.
Container British Beer
Sabe aquela parte sobre Blumenau ser moderna e cheia de surpresas? Pois o pessoal da Container é um dos responsáveis por isso. Embora siga a tradição cervejeira da região, a Container foi por um caminho completamente diferente ao adotar os conceitos da escola britânica. Seu portfólio é formado por cervejas inusitadas e criativas, como a Bakerloo, a Wembley, a Joke e a Black Sheep. Vale uma visita ao seu pub, com decoração caprichada no melhor estilo inglês e programação musical voltada ao rock.
Cervejaria Bierland
Fundada em 2003, a Bierland é uma das maiores cervejarias da cidade. A fábrica possui um agradável bar anexo, com capacidade para 100 pessoas, que serve petiscos variados para acompanhar cervejas do tipo weizen, witbier, english pale ale, bock e american IPA, entre outras. Menores de 18 anos devem estar acompanhados pelos responsáveis.
Escola Superior de Cerveja e Malte
Criada em 2014, a primeira faculdade de cerveja e malte da América Latina é responsável pela formação de mão de obra na região. De lá pode-se sair com um diploma de mestre cervejeiro ou técnico. A escola promove passeio pelas suas dependências – dos laboratórios ao processo de fabricação em uma nanofábrica. Há também aulas, laboratório de degustação e Biergarten – área de convivência comum na Alemanha onde as pessoas se reúnem para beber cerveja. Menores de 18 anos só podem fazer o passeio com acompanhamento de responsáveis e, claro, não têm direito à degustação.
Cervejaria Eisenbahn
É a outra grande (dentro das proporções de uma fábrica de cerveja artesanal) cervejaria de Blumenau. Em 2002, quando foi criada, tinha três tipos de chope – pilsen, dunkel e pale ale. Hoje a Eisenbahn fabrica 15 tipos de cerveja, fora as edições especiais. Assim como a Bierland, há um bar anexo, que vende produtos da marca e cervejas importadas a bom preço.
Restaurante Bier Vila Blumenau
Fica dentro da Vila Germânica, no mesmo lugar em que acontece a Oktoberfest, e o restaurante é o local ideal para conhecer vários rótulos locais e internacionais – há mais de 400 deles em sua carta. O melhor é que se pode degustar pelo menos 30 delas em forma de chope. Para acompanhar, porções e pratos alemães típicos, como eisbein, kassler esalsichas, e regionais, como o marreco recheado. Tem música ao vivo, mas não se preocupe: é repertório de bar.
2. GASPAR
A 20 minutos de Blumenau, Gaspar é uma pequena cidade de 63 mil habitantes e uma das grandes produtoras de arroz do estado. Com acentuada colonização italiana, tem área rural com sítios, nos quais são vendidos produtos coloniais. Também é uma região propícia a esportes como o motocross e o salto de parapente, feito no Morro da Cruz. Na cidade mesmo, a principal atração é a Igreja Matriz São Pedro Apóstolo, de estilo gótico.
Cervejaria Das Bier
A cervejaria fica em um pesqueiro, o Schimitt Pesca e Lazer. O restaurante tem um deque com bela vista panorâmica e um playground. Durante o passeio é possível conhecer as dependências da fábrica e a cave onde as cervejas são guardadas. A carta de chopes próprios conta com 11 variedades, como a braunes ale, a stark bier e a wein mit bier (o chope de vinho). É também uma boa opção para almoço e jantar, com um cardápio que varia entre petiscos, carnes e peixe.
3. BRUSQUE
Cortada pelo Rio Itajaí-Mirim e a cerca de uma hora de Blumenau, a cidade é simpática – e é berço da indústria têxtil catarinense. Além da colonização alemã, ali se veem também influências italiana e polonesa. Com muitas lojas e confecções, tem turismo principalmente de compras.
Cervejaria Zehn bier
A cervejaria é uma das que seguem à risca a Reinheitsgebot, a Lei de Pureza da Cerveja. A ZeHn (pronuncia-se “tzén”) produz chopes tipo pilsen e porter e cervejas pilsen, pilsen extra, weizen, porter e heller bock. As visitas à fábrica devem ser agendadas e duram cerca de 30 minutos. Em seu anexo fica o ZeHn Bier German Pub, que serve os rótulos da marca. No cardápio, petiscos de boteco, pratos alemães e hambúrgueres.
4. TIMBÓ
A 30 quilômetros de Blumenau (cerca de uma hora), a cidadezinha foi erguida na confluência dos rios Benedito e dos Cedros. Com um jeitão bucólico, algumas ruas cobertas por paralelepípedo e pontes com cara retrô, a “Pérola do Vale”, como é conhecida, é habitada por 40 mil felizardos.
Cervejaria Borck
Fundada em 1996, é uma das cervejarias mais antigas de Santa Catarina. Não tem restaurante em sua fábrica, mas aceita visitas, desde que, como de praxe, agendadas. Conhecê-la vale a pena por uma razão: a produção, que compreende quatro tipos de cerveja – red lager, pilsen, malzbier, weizenbier e IPA -, é distribuída apenas na região.
5. POMERODE
A cerca de 40 minutos de Blumenau, Pomerode orgulha-se de ser “a cidade mais alemã do Brasil”. A região foi ocupada por colonos vindos da Pomerânia, e as evidências estão nas ruas, em seus habitantes (não é raro ouvir alemão entre os moradores mais velhos) e na arquitetura – são mais de 100 casas no estilo pomerano tombadas. Se você procura aquele estilo folclórico alemão, com roupas, danças e músicas típicas, esse é o lugar. Veja um guia completo de Pomerode.
Cervejaria Schornstein
Fundada em 2006, a cervejaria fica em um dos prédios tombados, no qual se destaca uma chaminé (schornstein, em alemão) de 30 metros. Anexo à fábrica está o bar Schornstein Kneipe. O cardápio privilegia a culinária alemã que, claro, pode ser harmonizada com seis tipos de chope: pilsen natural, pilsen cristal, pale ale, bock, weiss e imperial stout.
6. JARAGUÁ DO SUL
Uma das cidades com melhor qualidade de vida do país, Jaraguá do Sul fica a cerca de uma hora e meia de Blumenau e a uma hora de Joinville. Com um entorno dominado pela Mata Atlântica remanescente, a região tem se transformado em um dos destinos dos praticantes de voo livre.
Cervejaria Karsten
Com uma pequena produção de 2 500 litros por mês, a fábrica não tem bar, mas agenda visitas (para até 20 pessoas), monitoradas por um mestre cervejeiro. O custo por cabeça é de 20 reais, com direito à degustação de chope acompanhado de frios – salame, copa, lombo defumados, linguiças, queijos, azeitonas, patês e pães.
Stannis Pub
Charmoso, o bar fica num subsolo sem janelas que lembra bastante os pubs britânicos. No cardápio, alguns dos melhores hambúrgueres da região e cervejas de seis tipos: blond marilyn, dark molly, red sonja, doppel nataly, gold amélia e white renate – todas servidas na pressão e em copos, ao melhor estilo pub. O bar tem também uma área de vendas de sua produção. Chegue cedo, porque lota.
7. JOINVILLE
Distante duas horas de Blumenau, Joinville é a maior cidade de Santa Catarina (562 mil habitantes, segundo o Censo de 2014) e a terceira maior da Região Sul. Possui uma vida cultural intensa e um dos índices de desenvolvimento humano (IDH) mais altos do Brasil. Tem apelidos como “Manchester Catarinense” e “Cidade da Dança”, porque também abriga um dos mais importantes festivais de dança do Brasil.
Opa Bier
A Opa, apesar de jovem (foi fundada em 2006), está inserida na tradição cervejeira da cidade e, como tal, segue a Reinheitsgebot. Tem um portfólio formado por nove tipos de cerveja, com variações tchecas, inglesas e alemãs. Entre lojas e bares, são 11 endereços da marca. Um deles, o Bar da Fábrica, fica entre a cervejaria e a distribuidora. Além de bar e restaurante, tem também uma loja com produtos e suvenires da marca.
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