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Um roteiro pela Normandia, de Giverny ao Monte Saint-Michel

A um pulo de Paris, a Normandia é feita de jardins, falésias, cidades bombardeadas reconstruídas, vilas medievais preservadas - e um monte mágico!

Por Raquel Beer
Atualizado em 3 set 2019, 13h12 - Publicado em 2 set 2019, 18h50

Com mais de 83 milhões de turistas por ano, a França é o país mais visitado do mundo. É um fetiche global se debandar para lá e espiar a Torre Eiffel piscando à meia-noite, caminhar pelos charmosos vinhedos de Bordeaux, relaxar nas chiquetosas praias da Côte d’Azur, zanzar pelos campos da Provence… Mas o bom é que o cardápio estelar de atrativos da terra dos brioches & queijos é um saco sem fundo. Quanto mais você conhece, mais tem coisas pra ver. 

No nordeste do país, e pertinho de Paris, a Normandia é uma das regiões francesas que merecem ser cascavilhadas mais a fundo. Destino de verão dos próprios parisienses, é um ponto no mapa com litoral não tão bombado nem tão caro quanto as praias do sul, com cidades incríveis e com uma história frenética. Já foi ducado viking, viu a morte da heroína Joana d’Arc, foi palco do sangrento Dia D. Oui, mes amis, explorar a Normandia é uma viagem encantadora por uma França ainda autêntica!

Giverny: mundo das fadas

A Casa de Monet, em Giverny (Pierre Adenis/Laif/Reprodução)

É comum ver turistas boquiabertos na Casa de Monet  repetindo o clichê: “É como mergulhar em um quadro!” E é mesmo. No velho casarão no pequeno vilarejo francês de Giverny, no Vale do Sena, o mestre impressionista morou com a esposa e oito filhos – e produziu loucamente boa parte de seus quadros. A casa é uma graça, mas são os pontos coloridos do jardim, planejado e criado pelo próprio pintor, que transportam os visitantes para um estado quase alucinógeno.

A primeira parte, Clos Normand, tem corredores com 60 espécies de flor. Obcecado pelos efeitos da luz na paisagem, Claude Monet distribuiu as mudas pensando nas fases do sol: os tons mais frios estão na parte leste, onde ele nasce; no centro, ficam as flores amarelas; e a oeste, onde o sol se põe, nascem as vermelhas. Haja autocontrole para resistir à tentação de capturar em fotos a beleza do lugar – um pouco como Monet fazia com os seus quadros.

Mas Clos Normand é um preâmbulo para a parte mais famosa do jardim: o lago cheio de ninféias e as pontes japonesas. O único detalhe que destoa dos quadros do pintor é a multidão de turistas que se espreme sob as glicínias (flores lilás hiperfotogênicas, por sinal) para tirar a foto perfeita. Era dali que Monet gostava de pintar e, em êxtase, definiu: “Vivo em um lugar que parece do mundo das fadas. Não sei para onde olhar; tudo é soberbo”.

O jardim da Casa de Monet, uma imersão impressionista (Tim Gartside/Agbphoto/Reprodução)

A visita termina na casa em que o mestre morou até a sua morte, em 1926, uma construção com paredes rosa e persianas verdes. Na sala de jantar, cujas paredes Monet pintou de amarelo para ressaltar os raios de sol, há uma grande mesa onde já se sentou uma turma de bambas, como Pissarro, Rodin e Cézanne. Depois do almoço, Monet e seus camaradas costumavam ir tomar aperitivos no porão, onde há réplicas dos quadros que dali saíram para museus do mundo inteiro. No andar de cima, fica o quarto onde o pintor morreu.

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Pertinho da casa, está o Musée des Impressionnismes, que mostra a influência de Monet sobre outros pintores. Saia dali e siga pela rua, chamada (surpresa!) Rue Monet – com cafés, restaurantes e galerias de arte. Para fazer uma boa refeição, a dica de Renoir e Sisley seria o restaurante do Ancien Hôtel Baudy, que tem jardim agradável, mesas no terraço e gastronomia tradicional francesa. Mais adiante, fica a pequenina Igreja Sainte-Radegonde, que abriga o túmulo do pintor e de seus filhos.

Rouen: história na veia

Joana D’Arc, onipresente em Rouen (Agaeta/iStock)

Se visitar Giverny é mergulhar em um quadro, ir a Rouen é viajar nas camadas da história francesa. A charmosa cidade no Vale do Sena foi fundada pelos celtas, invadida pelos germânicos, comandada pelos vikings e retomada pelos franceses no século 13. Na Guerra dos Cem Anos, foi disputada a unha pela França e pela Inglaterra – chegou a fazer parte da coroa inglesa entre 1419 e 1449. Foi nesse período que Joana d’Arc foi queimada viva em praça pública. Em outro capítulo dramático, Rouen foi ocupada pelos alemães na Segunda Guerra Mundial. Hoje totalmente reconstruída, é a sexta cidade francesa com mais monumentos históricos, visitada por quem quer encontrar vestígios desse estranho enredo por suas ruas medievais.

Para começar a visita, vale saber que, na Idade Média, Rouen se limitava à parte à direita do Rio Sena – e é nessa banda que até hoje estão os principais pontos turísticos. Entre eles, a Igreja Saint-Maclou, cuja construção começou na Guerra dos Cem Anos. O templo é uma beleza. Tem estilo gótico flamboyant, com uns ornamentos florais que lembram a forma do fogo. Mas ostenta também traços renascentistas, como as esculturas que decoram as portas de madeira. Bombardeada na Segunda Guerra, levou 60 anos para ser toda restaurada.

A lindona igreja de Saint-Maclou (Walencienne/Getty Images)

Bem diante dela, está a Saint-Romain, uma das ruas mais charmosas da cidade, estreita e cheia de casas em estilo enxaimel (erguidas com hastes de madeira encaixadas). Há 2 mil dessas na cidade, construídas entre os séculos 15 ao 19. Por ali, estabelecimentos com adorável ar local, como o ateliê de cerâmica Fayencerie Augy e o Atelier St. Romain, de estampas japonesas, misturam-se a lojas de rede. Mais adiante fica o Historial Jeanne d’Arc, museu interativo inaugurado em 2015 no palácio episcopal que conta a história da heroína francesa.

No fim da Rue Saint-Romain está o principal ponto turístico da cidade, a Catedral Notre-Dame de Rouen, a “mais humana das catedrais” por ter fachada assimétrica, imperfeita como nós. É a igreja mais alta do país, com 151 metros de altura. Lá dentro estão as sepulturas de personalidades como Ricardo Coração de Leão. A beleza da catedral também conquistou Monet, que a retratou em 30 telas com variações de luz de acordo com o horário e a estação do ano.

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A Catedral Notre-Dame de Rouen, imperfeita como nós (Tim Gartside/Agbphoto/Reprodução)

Nesse ponto central da cidade, o passeio leva à Gros Horloge, a rua de pedestres mais antiga do país. Mesmo coalhada de lojas de rede, ela mantém seu charme – e muito graças ao lindo relógio manual que fica lá no alto de um arco, que já foi uma porta da cidade fortificada. É um monumento emblemático do Renascentismo e mostra a hora, o dia da semana e a fase da lua. Espiando com atenção, dá para notar também pequenas ovelhas que ressaltam a importância da lã para a economia da cidade.

O Gros Orloge mostra a hora, o dia da semana e as fases da Lua (clodio/iStock)

A três quadras dali, na Rue aux Juifs, fica o Palais de Justice, antiga sede do Parlamento. É um prédio fabuloso, com uma fachada que parece um bordado, cheia de claraboias. Mas a parte mais impressionante está escondida no subsolo. Uma discreta portinha de vidro sob a escada leva às ruínas de uma escola de rabinos de 1100. É o monumento judaico mais antigo do país.

Percorrendo a Rue aux Juifs até o fim, chegamos a um ponto cheio de carga histórica. Foi na Place du Vieux Marché que Joana d’Arc foi queimada em 1431 pelos ingleses, aos 19 anos. Na época, a praça era bem menor e tinha um mercado e duas igrejas cujas ruínas ainda podem ser vistas. Hoje uma grande cruz marca o lugar em que as execuções eram feitas e as duas igrejas deram lugar a uma nova: a Sainte-Jeanne-d’Arc, erguida em 1979 para homenagear a heroína francesa beatificada em 1909 e canonizada em 1920.

A Place Du Vieux Marche, cheia de história (FORGET Patrick/Agbphoto/Reprodução)

O prédio, projetado pelo arquiteto Louis Arretche, abriga os vitrais da antiga igreja renascentista Saint-Vincent e lembra um barco de cabeça para baixo. Bem ao lado dela, uma pequena feira livre funciona às terças, sextas e domingos, lugar bom para se abastecer de frutas e produtos locais. 

Entre os predinhos em estilo enxaimel que circundam a praça está o La Couronne, o mais antigo restaurante do país. Foi ali que a autora de livros de receitas e apresentadora de TV americana Julia Child fez seu primeiro jantar na Europa, experiência que descreveu como a “refeição mais excitante da minha vida” e que foi recriada por Meryl Streep no filme Julie & Julia. Por essas, o restaurante com jeitão tradicional e acolhedor criou o menu Julia Child, que reproduz a ceia da americana – uma festança, com ostras, linguado assado, salada verde e queijos.

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Mas o miolinho da cidade ainda tem muita coisa pra ver. O Musée des Beaux-Arts de Rouen, com entrada gratuita, tem uma coleção respeitável. A ala principal exibe obras impressionistas de Monet, Sisley, Caillebotte, Pissarro, Degas e Renoir. Entre elas está um dos quadros da Catedral Notre-Dame de Rouen pintados por Monet. A Praça Verdrel é uma boa parada para um sorvete antes de continuar explorando a cidade.

Lanches vip

“O melhor de Rouen é flanar nas ruelas. Na Rue des Bons Enfants, descubra os vestígios impressionistas e também da arte de rua. Mas não se pode visitar a cidade sem descobrir o salão de chás Dame Cake, um estabelecimento inaugurado em 2002 no lugar onde ficava o antigo ateliê de Ferdinand Marrou, um ferreiro francês famoso. Para fazer refeições leves, o Chez Ginette é a melhor opção, com smoothies refrescantes e cupcakes deliciosos. E, se quiser provar os produtos frescos da Normandia, a dica é o Marché Saint-Marc, com frutas, legumes, queijos e carnes da região.”

Marion Tanquerel, Gerente do Hôtel de Bourgtheroulde

Forças refeitas e continuando na direção norte, você chega à Torre Jeanne d’Arc, parte remanescente do Castelo de Rouen, onde a santa ficou presa. Se estiver esperando uma certa liturgia histórica no que sobrou da construção, prepare-se para um toque de comicidade. Dentro do monumento, hoje, há um escape game, aqueles jogos em que um grupo precisa matar charadas para escapulir de uma sala. A atração se anuncia como “O primeiro jogo de escapar cultural e histórico na Normandia” e a trama se passa na Idade Média, quando o rei da França reconquistou a cidade. Pois é, Joana d’Arc, vida que segue.

A caminhada pela área desemboca na Place du Général-de-Gaulle. Ali estão o Hôtel de Ville, prédio da prefeitura desde 1800, e a gótica, imensa e bonitaça Abadia Saint-Ouen. Antigo monastério beneditino, a igreja tem 80 vitrais e um órgão cultuado por músicos do mundo todo – é um tesouro com 3 600 tubos que nunca foram inteiramente desmontados, por isso mantém seu timbre original – e é o último instrumento feito pelo construtor Aristide Cavaillé-Coll. Nos dias quentes, o jardim em volta da igreja é a escolha de famílias e casais para lagartixar sob o sol.

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A gótica Abadia Saint-Ouen (Frédéric BISSON/Flickr)

Termine o dia batendo perna na Damiette, a rua dos antiquários imortalizada pelo impressionista Camille Pissarro no quadro Rue Damiette, à Rouen. Entre as principais lojas da área está a Galerie de L’Astree, que vende objetos do século 18. A vida noturna fervilha nos bairros Saint-Marc e Saint-Nicaise, acima do rio – mas o coração mesmo do agito fica ao redor da fonte da Praça Croix-de-Pierre, entre as ruas Saint-Vivien e Saint-Hilaire.

Étretat: duas falésias, um ladrão

De calcário branco, as falésias surgem imponentes ao longo da costa e compõem com o mar azul uma paisagem de arrepiar. Além de bonito, o conjunto é divertido. Os visitantes ficam por ali atribuindo desenhos aos arcos esculpidos pelo vento – e o formato mais consagrado é o de um elefante mergulhando a tromba nas águas geladas para se refrescar. Parece mesmo.

A vista de Étretat, esculpida por falésias (Maëlick/Flickr)

A pequena cidade de Étretat era um vilarejo de pescadores até ser descoberta pelos parisienses como destino de verão no século 19. Hoje tem menos de 1 500 habitantes, mas recebe até 2 milhões de turistas por ano. Por causa do movimento, possui cassino, campo de golfe, 40 restaurantes, 14 hotéis e um camping. Ainda assim, a principal atração são elas, as falésias.

A orla da praia rende homenagem a artistas que celebrizaram o lugar em suas obras: Terrasse Gustave Courbet, Terrasse Monet, Terrasse Maurice Leblanc e Terrasse Eugène Boudin. E, logo em frente da orla, a praia point dos parisienses no verão se espreme entre dois paredões rochosos. Do lado esquerdo está a Aval, a mais famosa delas, com 80 metros de altura. O vão aberto pelas ondas no calcário vem acompanhado de uma “agulha”, uma pedra pontuda que emerge do mar e sobe a 55 metros, descrita pelo escritor Maurice Leblanc como um “obelisco monumental”.

A falésia D’Aval (Tim Geers/Flickr)

Embaixo dela, há uma gruta conhecida como “buraco do homem”, onde foi encontrado vivo um náufrago sueco após seu navio afundar, em 1792. A caverna é acessível na maré baixa, quando também é possível cruzar a falésia e chegar à praia ao lado, Jambourg. Se quiser se aventurar, acione a lanterna do celular. No caminho pelas rochas, é fácil encontrar camarões pequeninos e minicaranguejos. Também há resquícios de um parque de ostras construído em 1777 – elas eram “refinadas” com as águas doces de um rio que corria por ali e despachadas para Versalhes para serem consumidas por Maria Antonieta.

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Para espiar a falésia por cima, é só ir ao fim da praia e subir as escadinhas da beirada. Entre uma subida e outra há banquinhos bons para piqueniques e mirantes que garantem a foto perfeita. E, lá no alto, tem uma ponte de madeira que leva às ruínas de um antigo forte, o Fréfossé. Atrás da Falésia d’Aval está a de Manneporte, a mais larga de todas. A vista que se tem dali para a vizinha Aval e sua agulha vale a viagem.

No outro canto da Praia de Étretat, fica a Falésia d’Amont. Encarar a subida até o topo exige esforço: são 263 degraus. A turma mais prática vai de carro, pela Avenue Damilaville. É a mais miúda das três – e a que foi descrita até mesmo pelo escritor Guy de Maupassant como um elefante. Lá no alto, o que se tem a fazer é babar na paisagem desconcertante, garantir as selfies, visitar a igrejinha e decifrar uma flecha branca fixada no chão em homenagem a Charles Nungesser e François Coli, que, em 1927, tentaram ir de Paris a Nova York no avião L’Oiseau Blanc e foram vistos pela última vez justamente nos céus de Étretat.

A falésia D’Amont. Tá vendo um elefante com a tromba na água, ali na ponta? (stock_colors/iStock)

Continuando pelo caminho, veem-se campos bucólicos e restos de abrigos militares construídos na ocupação alemã. À esquerda, há uma escada de onde se tem outro vistão das falésias e da cidade de Fécamp, que aparece ao longe. Dali também é possível ver, emergindo do mar, a Rocha Vadieu e a Agulha de Belval. Vale um mergulho? Só se você for forte. O mar é lindão, mas é um gelo: 18 graus no verão, mesmo com sol no cocoruto. A praia tem pedrinhas brancas que obrigam a andar de chinelo ou com calçados especiais vendidos em barracas da cidade.

#melhor clique

“Para tirar as melhores fotos das falésias, a dica é aproveitar a luz da manhã e ir direto para a ponta da praia à direita, na direção da Porte d’Amont. Dali é possível clicar não só toda a orla mas também a charmosa “agulha” em sua extremidade. Espere o fim da tarde para seguir, a pé, para a Falésia de Manneporte: é dali que se tem o melhor ângulo para fotografar a Falésia d’Aval. Só preste atenção à maré e a eventuais quedas de pedras.”

Laurent Bruneau, Fotógrafo e proprietário do Studio Grand Angle

Depois de ticar as falésias, a praia, as subidas e descidas, hora de comparecer aos restaurantes de frutos do mar e, depois, ao Mercado Coberto, na Praça Maréchal Foch, um bom lugar para xeretar frutas, legumes e peixes locais. Também no centrinho, a Maison Maurice Leblanc mostra lances da biografia do escritor e detalha a criação do seu personagem mais famoso: o adorável ladrão Arsène Lupin.

Le Havre: a ovelha negra

Olhando de relance, Le Havre carece do charme de suas vizinhas. A cidade tem pouco em comum com as estrelas da região por ter sido quase que totalmente devastada na Segunda Guerra Mundial. Tomada pelos alemães, foi alvo de 132 bombardeios das Forças Aliadas. E quando os nazistas bateram em retirada ainda destruíram os pouquíssimos monumentos que restavam de pé. O porto, hoje o segundo principal do país, foi arrasado. Depois da guerra, o governo da cidade encarregou o arquiteto belga Auguste Perret de reconstruí-la.

Modernista, pouco afeito a ornamentos, Perret apostou no concreto armado para os novos prédios. As construções são basiconas, parecidas, com paredes de concreto nu e janelas retangulares verticais para que a luz solar passe plenamente. Não há pinturas que poderiam descascar nem ladrilhos que poderiam cair. Perret contava com uma equipe nos projetos, mas se encarregou de alguns deles, como o prédio da prefeitura, com um a torre de 74 metros. 

 

Em frente a ela fica a Rue Paris, a principal da cidade desde o século 16. Para reconstruí-la, os arquitetos se inspiraram na Rue Rivoli, em Paris, e criaram pilares e varandas nos edifícios que servem como moldura para lojas e galerias. Duas quadras mais adiante está a Bacia do Comércio, onde está o toque brasileiro de Le Havre: o prédio Vulcão, idealizado por Oscar Niemeyer, onde antes ficava a Praça Gambetta, que reunia intelectuais e artistas. Uma das raras construções que sobreviveram à guerra está a quatro quadras dali: a Catedral Notre-Dame, com elementos góticos, renascentistas e barrocos.

Prédio Vulcão em Le Havre, projetado por Oscar Niemeyer (Hemis/Alamy/Fotoarena/Reprodução)

O caminho ao longo da costa pelo lado direito leva ao MuMa, ou Musée d’Arte Modern André Malraux. O lugar tem um baita acervo de mestres impressionistas e está perto do principal ponto turístico da cidade, a Igreja Saint-Joseph, projeto assinado por Perret para homenagear as vítimas dos bombardeios. O prédio é um bichão de concreto bruto com uma torre octogonal, a primeira coisa avistada por quem chega à cidade pelo mar. Dentro do templo, nada de pinturas. Há apenas uma estátua da Virgem Maria, outra de São José e painéis discretos que contam a história da reconstrução da cidade.

A arquitetura ganha vida graças aos 12 768 vidros geométricos instalados nas paredes e na torre. De sete cores diferentes, eles pintam a luz solar com 50 tons. A disposição foi pensada para ressaltar os pontos cardeais. Na parte leste, há lilás e verde, referência ao nascimento de Jesus. Ao sul, amarelo e laranja simbolizam a glória de Deus. No oeste, rosa e vermelho representam a ação e a força. E, no norte, o azul é a cor do manto da Virgem e do céu. O altar, no centro da igreja, é cercado por poltronas de cinema. Perret era ateu e a construiu com a ajuda de Raymond Audigier, um arquiteto religioso. A igreja é resultado da mistura das duas visões. Os amantes de arquitetura babam.

Efeito de luzes na Igreja Saint-Joseph (Alamy/Fotoarena/Reprodução)

A boa da noite

“Para aproveitar ao máximo uma noite em Le Havre, vá ao Du Vin sur la Planche, onde há especialidades de todas as regiões da França, ou ao A Deux Pas d’Ici se estiver em um clima mais romântico. De qualquer forma, a noite tem que terminar no melhor bar da cidade, o La Petite Rade, de frente para a praia, com a melhor vista para o pôr do sol.”

Kevin Castel, Anfitrião do Couchsurfing em Le Havre

No cruzamento do Boulevard François 1er com a Avenue Foch, fica a segunda principal via da cidade, La Porte Océane, a “Champs Elysées do mar”. Mas, lá na ponta, em vez do Arco do Triunfo, há dois prédios retangulares residenciais separados por um vão, por onde se vê o mar.

A largona Porte Océane (4 Andia/Alamy/Fotoarena/Reprodução)

Depois de cascavihar Le Havre, hora de curtir um fim de dia na praia e de bizoiar as famosas cabanas brancas instaladas ao longo da orla entre os meses de abril e outubro. As bichinhas têm status de imóveis. Uma cabana nova custa até € 2 500 e o aluguel chega a € 355 para as que ficam de frente ao mar. É mais negócio tirar uma fotinho e se juntar aos mortais, deitados em cangas mesmo…

Honfleur: a charmosuda

Sair de Le Havre e ir para Honfleur pode ser um choque. As cidades portuárias parecem ser de cantos diferentes do mundo. Se a guerra quase destruiu Le Havre, pouco atingiu a vizinha Honfleur, que manteve altíssimo grau de fofura. O cartão-postal do lugar é o Vieux Bassin, um porto pitoresco usado por quem navega pelo estuário do Sena – e um grande chamariz para 4 milhões de turistas que visitam a cidade todo ano. A graça dos barquinhos ancorados é incrementada pelos prédios do Quai Sainte-Catherine, construções estreitas e coloridas dos séculos 17 e 18. E o reflexo do casario na baía forma uma visual incrível.

Altíssimo grau de fofura no Vieux Bassin, em Honfleur (johannesvalkama/iStock)

O melhor jeito de começar a visitar Honfleur é justamente zanzar por ali. As casas de pescadores deram lugar a restaurantes, cafés e lojinhas. No fim do Quai Saint-Étienne, fica a prefeitura, construída no século 19. Alguns prédios à esquerda, está a Saint-Étienne, hoje Museu da Marinha. Um quarteirão depois, fica o Manoir de Roncheville, onde moraram os governadores de Honfleur desde o século 13. E, seguindo pela Rue de la Ville, chega-se à Igreja Saint-Léonard, numa praça gracinha típica de cidade pequena, cheia de flores.

De volta ao porto, do outro lado da ponte estão as ruínas de uma antiga fortificação. Na esquina da rua de trás do Quai, está o restaurante Chez Laurette (2 Rue des Logettes), conhecido pela música de Michel Delpech que diz: “Depois da aula nós íamos beber uma, quando entrávamos Laurette sorria. De repente, nossos problemas desapareciam quando ela nos beijava”. 

Subindo a rua, vê-se a parte de trás da Igreja Sainte-Catherine, a mais autêntica da cidade: uma casa de madeira feita, no século 15, por marinheiros, com técnicas de construção naval. Lá dentro, barcos em miniatura servem de decoração e a madeira deixa um cheirinho agradável, aconchegante.

O pequeno circuito turístico de Honfleur também rende homenagem aos seus filhos ilustres. A duas quadras da igreja de madeira, está o Musée Eugène Boudin, com obras do marinheiro e pintor francês. Mais adiante fica Les Maisons Satie, com a história do compositor Erik Satie.

Museu Eugène Boudin, em Honfleur (Alamy/Fotoarena/Reprodução)

Para além do naco histórico e cultural, a cidadezinha tem áreas verdes lindas, como o Jardin Public, pequenininho e gracioso, com corredores cheios de arcos de flores e esculturas. A orla abriga o Jardin des Personnalités – parque com bustos de personalidades que nasceram, viveram ou visitaram a cidade, como Baudelaire – e termina na Praia do Butin. Não é a mais incrível do mundo, mas rende um pausa em um dia de calor. 

Aproveite para descansar e ganhar fôlego para a última etapa da visita: a Igreja Notre-Dame-de-Grâce, em cima de uma colina que se eleva atrás da orla. Prepare as pernas. Ou, se estiver de carro, pode ser a ocasião de resgatá-lo. É uma caminhada de 25 minutos a partir da praia até chegar à igreja, a 95 metros de altitude. De carro, o percurso dura cinco minutos a partir do porto. O templo foi construído no século 17 por burgueses com ajuda de marinheiros. Vale a pena observar como é diferente da Igreja Sainte-Catherine: pequenininha, feita de pedra e cheia de ornamentos. Dali, siga para a Rue Côté de Grâce até o melhor mirante da cidade, onde há banquinhos que podem vir a calhar. Agora é só curtir a vista.

Deauville e Trouville-sur-Mer: gêmeas não idênticas

De tão frequentadas por parisienses, as cidades de Trouville-sur-Mer e Deauville são conhecidas como “Riviera parisiense” ou “o 21º Arrondissement de Paris”. A 1h30 de trem da capital, as duas têm coisas em comum, como cassinos e praias com passarelas de madeira. Mas guardam lá suas diferenças. Deauville é chiquetosa, exclusiva. Trouville é descontraída, barata, familiar.

O point de Deauville é a praia imortalizada no filme Um homem, Uma Mulher, clássico de 1966. É o lugar da paquera, especialmente em bares da orla como o Bar du Soleil ou o Bar de la Mer. A faixa de areia, cheia de conchas, se estende por uns 2 quilômetros. O maior símbolo da cidade são os guarda-sóis coloridos espalhados por ali e alugados, com duas cadeiras. Se o orçamento estiver curto, estique a canga em outro lugar – a maior parte da praia é pública.

Os guarda-sóis coloridos e as planches, símbolos da praia de Deauville (kodachrome25/iStock)

Para curtir o dia, uma opção é seguir ao centro náutico e alugar carrinhos movidos a vela, stand up paddles e caiaques. As ondas costumam ser boas, dá para surfar também. Outra marca registrada da cidade são as planches, caminhos de tábuas de madeira feitos, em 1923, para ajudar os ricaços parisienses a passear pela orla. Ali foram construídas 450 cabines separadas por cerquinhas onde se lê o nome de atores e diretores que já participaram do Festival de Cinema Americano, que acontece em setembro e, ao contrário de Cannes, é aberto ao público. A reserva das cabanas começa em janeiro, mas algumas ficam disponíveis no verão.

Atrás das planches, está o Jardin des Lais de Mer, parque em que banhistas jogam pétanque (espécie de bocha francesa), montam piqueniques ou fazem juras de amor pendurando cadeados em uma escultura em forma de coração. Andando pela área, se vê uma coleção de mansões e o Casino Barrière – um dos mais famosos do país, inspiração para o livro Casino Royale, da série James Bond – e chega-se à vistosa Rue Eugène Colas, recheada de restaurantes, casas de chá, grifes chiques e lojas como o imperdível antiquário Galerie Bugatty. É um passeio gostoso.

O imperdível antiquário Galerie Bugatty (Galerie Bugatty/Divulgação)

Uma parada memorável, por exemplo, pode ser na Rue du Général Lecrerc, número 75, para provar os doces da pâtisserie François Gayet. E, logo ali, no fim da rua, o tour leva até a Praça Morny, cercada por mansões da belle époque e lojas luxuosas que vendem de diamantes a bolsas de couro. Às terças, sextas e sábados (e domingos, na primavera e no verão), é cenário do mercado da cidade, ótimo lugar para comprar especialidades locais, como cidras e queijos camembert ou pont-l’évêque.

Lojas chiquetosas em Deauville (Mauritius Images GMBH/Alamy/Fotoarena/Reprodução)

Uma visita a Deauville é também uma oportunidade de prestigiar uma mania local: as corrida de cavalos nos dois hipódromos. Só no verão, são cerca de 40. Em agosto, o pessoal se esbalda na Meeting d’Été, no Hipódromo à Cagnes-sur-Mer, que reúne alguns dos melhores cavalos e cavaleiros do mundo. Um evento bacana mesmo para quem não curte cavalos, mas gosta de uma boa festa. Perto do Hipódromo de Deauville, fica outra ótima atração: a igreja de pedra Saint-Laurent, que passou por uma cuidadosa restauração com a ajuda do estilista Yves Saint-Laurent. Dali se tem uma das melhores vistas da cidade.

A etapa seguinte, até Trouville-sur-Mer, pode ser vencida a pé ou de balsa, se a maré estiver alta. Assim como em Deauville, o point da cidade é a praia, que, no século 18, era considerada “a rainha das praias” pelos parisienses – e também serviu de inspiração para uma penca de notáveis, Flaubert entre eles. Hoje, a orla é ocupada por famílias que se divertem em caiaques, jogando minigolfe ou assistindo aos pequenos darem uma volta em pôneis. O clima é menos ostentação, mais descontração.

Em Trouville-Sur-Mer, menos ostentação e mais descontração (Siempreverde22/iStock)

Alguns elementos chiques estão presentes, como o cassino à beira da praia e empreendimentos hoteleiros recentes, como o cinco-estrelas Cures Marines, instalado no estupendo prédio do antigo cassino, o loft de luxo Ancienne Poste, aberto no edifício desativado dos Correios, ou a casa de chás Jardin des Thés, que funciona em um velho antiquário.

Rolê sem erro

“A melhor época para vir a Deauville é entre junho e julho, quando os eventos nos hipódromos agitam a cidade. Para aproveitar bem a praia, caminhe pela passarela de pranchas, não deixe de tomar um coquetel no Bar du Soleil. Depois, você encontrará os frutos do mar mais frescos da cidade no restaurante Étoiles des Mers. Se quiser levar um souvenir único, a dica são os biscoitos parasols, que combinam os ingredientes típicos da Normandia: maçã, caramelo e manteiga salgada. E eles ainda são esculpidos na forma de guarda-sóis, símbolo de Deauville.”

Caroline Langlois, Da equipe de concierges do Hôtel Barrière Le Royal Deauville

Para aproveitar o dia em Trouville não há segredo: é curtir a praia (atenção ao mar que tem um fosso na área rasa) e depois partir para uma boa refeição, de preferência no mercado da cidade, que acontece às quartas e domingos e é um dos mais conhecidos da costa. A pedida são os frutos do mar fresquissimos, grelhados na hora.

À tarde, o passeio é até o farol de topo vermelho e ao Musée Villa Montebello, sobre uma colina com vista para o mar e acervo dedicado aos impressionistas que pintaram a cidade – há também um desenho de Salvador Dalí feito especialmente para o museu. Na hora de jantar, também não tem mistério: uma parada no Les Vapeurs (160 Boulevard Fernand Moureaux) é obrigatória. O restaurante, especializado em moules marinières, ou mariscos, é uma instituição local desde 1927.

Les Vapeurs, de frutos do mar, é uma instituição de Trouville desde 1927 (Hemis/Alamy/Fotoarena/Reprodução)

Praias do desembarque: o palco do Dia D

Em 6 de junho de 1944, soldados americanos, canadenses e ingleses partiram do Reino Unido para arrancar a Normandia do controle dos alemães. Depois de analisar fotos aéreas que mostravam a ocupação nazista ao longo da costa, conhecida como Muralha do Atlântico, as Forças Aliadas criaram um plano: invadir um trecho de 96 quilômetros da costa simultaneamente, dividindo a operação em cinco praias (Utah, Omaha, Juno, Gold e Sword), e avançar aos poucos até a cidade de Caen, ponto estratégico para controle da estrada até Paris. Batalhas decisivas em cenários que hoje atraem milhões de turistas.

Partindo de Honfleur, a primeira parada é Sword, com 8 quilômetros de extensão. A ofensiva ali foi protagonizada pelos ingleses com a ajuda da Força Naval francesa. O combate foi menos sangrento que os outros porque as tropas conseguiram desembarcar 21 de seus 25 tanques anfíbios – a praia estava cheia de minas, mas os britânicos avançaram e atacaram pontos fortificados do Exército alemão. Os nazistas tentaram contra-atacar e foram impedidos pela Terceira Divisão britânica. Apenas 100 soldados morreram no embate. 

É uma história recontada em lugares como o Musée de la Batterie de Merville, no caminho para a praia e uma das primeiras bases alemãs capturadas pelos britânicos, ou o Musée Le Grand Bunker Le Mur de L’Atlantique, já na ponta de Sword, onde se pode visitar os cinco andares do antigo bunker nazista, com ambientes recriados. Já no caminho para Caen, o Musée Memorial Pégagus recria a chegada dos primeiros libertadores britânicos e mostra a Ponte Pégasus, tomada por eles em ataques aéreos.

Exterior do Musée Le Grand Bunker Le Mur de L’Atlantique, (Musée Le Grand Bunker Le Mur de L’Atlantique,/Divulgação)

Ao lado de Sword fica Juno, faixa de areia de quase 10 quilômetros em que desembarcaram canadenses e britânicos. Os bombardeios que antecederam a chegada das tropas não fizeram muito estrago e os alemães estavam à espera. O mar agitado também atrasou a chegada dos barcos com armas que dariam cobertura às tropas – e, na primeira hora de assalto, 50% dos canadenses morreram. Duas horas depois, contudo, os sobreviventes ultrapassaram a praia. Ali foram 1 034 mortos. A contribuição do Canadá é contada no Centre Juno Beach, em um prédio em forma de folha de bordo, símbolo do país.

A praia seguinte é Gold, tomada pelos britânicos. Foi uma das poucas áreas em que o bombardeio que antecedeu à chegada das tropas de solo enfraqueceu a defensiva alemã. Mesmo assim, foram ao menos mil mortes entre os aliados. O Musée America Gold Beach explica como a inteligência inglesa preparou o ataque e o Musée des Epaves Sous-Marines mostra restos de navios de guerra – e até objetos pessoais – que afundaram no mar nas batalhas.

A próxima praia é a mais famosa: Omaha. Invadida pelas tropas americanas, ela teve as principais baixas no Dia D. O desembarque sangrento foi retratado no filme O Resgate do Soldado Ryan. Os bombardeios mal afetaram os bunkers alemães, os barcos encalharam em bancos de areia e 35 mil soldados tiveram de pular na água e andar 100 metros para chegar às areias. O tempo todo sob a mira dos alemães – posicionados nas colinas em torno da praia. Mas os nazistas ficaram sem munição no início da tarde, os americanos avançaram e tomaram alguns pontos fortificados. Mesmo assim, o número de baixas é estimado em 3 mil.

A famosa praia de Omaha (Rennett Stowe/Flickr)

Em homenagem aos combatentes mortos ali, a artista plástica Anilore Banon criou a imensa escultura de aço e concreto Les Braves, instalada na praia no aniversário de 60 anos do Dia D. Em frente à escultura, há um monumento às Forças Aliadas, sempre com pequenas bandeiras dos Estados Unidos deixadas por turistas. A 2,5 quilômetros da praia fica o tocante Cemitério Americano da Normandia, onde 9 387 cruzes representam soldados mortos no combate e há uma parede em que está escrito o nome de 1 557 desaparecidos.

Escultura “Les Braves”, em Omaha, em homenagem aos combatentes mortos (Joel Carillet/iStock)

Há ainda dois museus: o Overlord, perto do cemitério, que conta a história da Segunda Guerra Mundial, e o Omaha Beach Memorial, já na praia, com uniformes, armas e relatos de soldados sobre detalhes do desembarque.

Entre as praias Omaha e Juno está o Pointe du Hoc, rochedo onde ficava uma das maiores fortificações alemãs. A missão de uma das tropas americanas era ir até a área, escalar as falésias, chegar até a fortificação e destruir as armas guardadas ali. Enquanto eles subiam o penhasco, os alemães jogaram granadas e cortaram as cordas que usavam para escalar. Dos 225 soldados da missão, apenas 90 chegaram ao topo – mas as armas não estavam ali. Os sobreviventes, no entanto, seguiram o rastro de um veículo, encontraram as armas a 2,5 quilômetros dali e as destruíram. Depois, esperaram dois dias por reforços. Hoje, há na área um memorial onde se veem as crateras deixadas pelo bombardeios e vestígios da estrutura alemã.

Pointe du Hoc (Michel Dehaye/Normandia/Divulgação)

Por fim, a última praia do desembarque é Utah. Ela também era responsabilidade do Exército americano, mas ali as baixas foram menores: 197 vítimas. Parte das forças aterrisou quando ainda estava escuro e foi liberando as fortificações alemãs, com 28 tanques para abrir caminho na praia. Os aliados entraram na praia e ainda encontraram documentos que mostravam a organização da defesa alemã. Na praia há o Musée du Débarquement, que mostra o planejamento do Dia D, e o Musée Airborne focado no papel dos paraquedistas no conflito.

Musée du Débarquement (Musée du Débarquement/Reprodução)

Monte Saint-Michel: que coisa mágica…

Já na estrada, os contornos se destacam no horizonte. O Monte Saint-Michel surge no meio da areia, imponente e lindo. É uma colina rochosa, com uma Abadia no alto e ruas estreitas na base – e que atinge o auge do encanto quando a maré sobe, geralmente três dias depois das luas cheia e nova, e a água transforma o morro em ilha. O reflexo do conjunto no mar é a cena mágica que faz do Monte Saint-Michel o lugar mais visitado da Normandia e um dos dez pontos turísticos mais populares do país – recebe 2,5 milhões de visitantes por ano. Desde 1979, a cidadela e sua baía são reconhecidas como Patrimônio Mundial pela Unesco.

Parece miragem! O Monte Saint-Michel é um dos pontos mais visitados de todo o país (bluejayphoto/iStock)

O Monte Saint-Michel fica bem na divisa entre a Normandia e a Bretanha – e se tornou célebre a partir do século 19, muito graças a escritores românticos como Guy de Maupassant. Merece cada grama da fama que tem. Visitá-lo é uma experiência única. Dá pra chegar até lá em um ônibus gratuito que sai da frente de um centro turístico no estacionamento – ou pode-se ir caminhando e passando sobre a ponte de pilotis que liga o continente à ilhota. Essa segunda opção é bem mais bacana: a experiência de ver o Monte crescendo a cada passo é indescritível – e é da ponte que dá para tirar as melhores fotos do lugar.

Quando chegar, há outro escritório de turismo logo na entrada, onde se pode pegar um mapa e dicas de coisas para ver. O melhor é ir direto até o topo para conhecer a magistral Abadia. A visita começa pelos terraços a 80 metros de altitude que servem de mirante, frequentados por gaivotas que, de tão acostumadas com turistas, parecem até posar para as fotos. Lá no topo está a escultura do Arcanjo Miguel, ameaçando, com a sua espada, um dragão que representa o mal. A estátua de 520 quilos e 4,5 metros foi instalada ali em 1897 e recolocada em 2016 após uma restauração que durou dez meses. A construção da Abadia que existe hoje começou no século 10. 

Sombra do Monte Saint-Michel, vista lá do alto da Abadia (brytta/iStock)

Ao longo do tempo, o prédio gótico foi visitado por reis da Inglaterra e da França, sobreviveu a incêndios, manteve-se firme em desabamentos e nos combates entre ingleses e franceses na Guerra dos Cem Anos. Desde em 2001, o lugar é lar de monges da Fraternidade Monástica de Jerusalém. É uma delícia andar pelos salões e, de vez em quando, dar uma olhadinha pela janela para checar a vista.

Um passeio pelo interior da Abadia (Joel Carillet/iStock)

Depois da Abadia, o programa é flanar pelas ruas estreitas e medievais. La Grande Rue é a principal via. Ali, lojas de suvenir se misturam a creperias. Mas o mais bacana é sair do circuito principal, emburacar em uma das várias ruelas estreitas, em que apenas uma pessoa consegue passar por vez, e ver aonde ela vai dar.

Quem opta por dormir por ali, vê o Monte mudar de identidade. Com o fim do dia, quase todos os turistas vão embora e a cidadela – que hoje tem apenas 36 habitantes – fica meio fantasma. Mas também se torna mais fácil imaginar como as coisas deveriam ser na Idade Média… A aura mágica do célebre Monte Saint-Michel se torna ainda mais encantada com o pôr do sol, quando vem a certeza de que conhecê-lo é um privilégio.

Uma voltinha pela Grande Rue, a via principal (DaLiu/iStock)

Guia VT

• GIVERNY

Como chegar

A cidade fica a 74 km de Paris, de onde sai um trem da estação Saint-Lazare para Vernon, trajeto feito em 45 minutos. Em Vernon, um ônibus leva a Giverny. De carro, o trajeto dá 1h.

Comer

Pelo restaurante do Hotel Baudy já passaram Renoir, Cézanne, Sisley, Rodin etc. Refinado, o Le Jardin des Plumes é comandado pelo chef estrelado Eric Guérin.

• ROUEN

Como chegar

De Paris, ônibus saem do Terminal Jules Verne e fazem o percurso em 1h30. Já os trens partem da estação Saint-Lazare, viagem de 1h10. De Giverny a Rouen de carro pela A13 leva 1h. De trem, o trecho Vernon-Rouen custa a partir de € 7.

Ficar

Bom custo/benefício, o Hôtel des Arcades tem quartos simples, mas está no centro histórico. Charmoso, o Vieux Carré fica em predinho enxaimel com jardim fofo. O chique Bourgtheroulde, ocupa um prédio do século 15 e tem spa, piscina, academia e quartos em estilos diferentes.

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Comer

O La Couronne, mais antigo albergue do país, serve receitas locais como o pato à rouannaise, e a Brasserie Paul, de 1898, era frequentada por Monet.

• ÉTRETAT

Como chegar

A cidade fica a 1h15 de Rouen pela A150 – que vira A29, em que é preciso pegar a saída 7. Não há ônibus diretos entre Rouen e Étretat. O jeito é ir até Le Havre de ônibus ou trem, em um percurso de 1h, e seguir para Étretat no ônibus 24 – só há três por dia (veja os horários aqui).

Ficar

Opção barata, o La Taverne des Deux Augustins fica a 100 metros da praia. O Hôtel La Résidence Manoir de Salamandre (4 Boulevard du Président René Coty) está num prédio bonitinho em estilo medieval. Em um edifício do século 19, o charmoso Hotel Rayon Vert tem quartos com vista para o mar.

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Comer

O Le Romain d’Étretat é um restaurante simples com pratos saborosos que custam, em média, € 15. A peixaria e restaurante Marie Antoinette tem de sopa de peixe a ostras no menu. Chique, o Le Bicorne aposta em produtos locais e sua especialidade é a lagosta.

• LE HAVRE

Como chegar

De Étretat, há três ônibus por dia para Le Havre. De carro, são menos de 40 minutos pela D940.

Ficar

O Oscar Hôtel exibe decoração dos anos 1950 e fica na Rue de Paris. O Les Voiles dá acesso direto à praia. Entre o mar e o Centro, o upscale Vent d’Ouest possui spa.

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Comer

Com ambiente jovem, o Bagatelle tem bons preços no almoço e jantar. O À Deux Pas d’Ici serve receitas regionais. Refinado, o menu do Jean-Luc Tartarin é uma experiência.

• HONFLEUR

Como chegar

A partir de Le Havre, são 25 km (ou 40 minutos) de carro pela A29. O ônibus 29 da PrestoBus também faz o deslocamento.

Ficar

O basicão Ibis Budget Honfleur Centre-Ville fica a 5 minutos do porto. O L’École Buissonnière ocupa uma antiga escola. O L’Absinthe tem restaurante com vista para o porto.

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Comer

No Café du Port (7 Rue Haute), o menu tem bons preços; no Le Gambetta (58 Rue Haute), com pratos como bacalhau com crosta de avelã; e, no gourmet Le Bréard.

• PRAIAS DO DESEMBARQUE

Como chegar

De carro desde Honfleur, dá 1h10 pela A13 (com pedágio) ou D27. De ônibus, é preciso pegar a linha da empresa Busvert até Caen (1h50) e, depois, a da Twisto para Sword Beach (50 minutos). Não há ônibus entre as praias.

Comer

Próximo ao Pointe du Hoc, o La Trinquette tem frutos do mar frescos. A Brasserie La Marine (1 Rue de la Libération) serve comida francesa autêntica. Sofisticado, o La Marée também serve frutos do mar, especialmente ostras.

• MONTE SAINT-MICHEL

Como chegar

Da Praia Utah, calcule 1h40 pela N17 e A84. Ou pegue um trem até Pontorson Saint-Michel e, de lá, um ônibus (20 minutos).

Ficar

No Monte Saint-Michel, há poucos hotéis – o mais acessível é o Duguescli. O Le Relais du Roy é basicão e, assim como o confortável Mercure, fica ao lado da passarela que leva ao Monte Saint-Michel.

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Comer

O La Mère Poulard, de 1888, faz omeletes no fogão a lenha. O La Ferme serve carneiro. O La Sirene (Grande Rue), servem galettes com bons preços.

• DEAUVILLE E TROUVILLE

Ficar

O cinco-estrelas Le Normandy é de 1912. O Manoirs de Tourgé-ville é do cineasta Claude Lelouch. O básico Le Patio fica perto da praia. 

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Comer

No almoço, a peixaria L’Etoile des Mers (74 Rue Gambetta) serve pratos frescos. O Le Jardin (5 Rue Hoche) tem menu com preço fixo. Em Trouville, há duas brasseries tradicionais: Les Vapeurs e Le Central.

(Bruno Algarve/Viagem e Turismo)

Prepara!

Quando ir

Destino de verão dos próprios parisienses, a Normandia resplandece de julho a setembro, assim como as ninfeias de Claude Monet, as falésias de Étretat e as praias gêmeas de Deauville e Trouville. Nesta época, o sol só desaparece lá pelas 22h. Para evitar a muvuca e os preços de alta estação, prefira a primavera ou o início do outono, apesar do clima fresco.

Dinheiro

O euro.

Língua

O francês. O inglês não é tão falado na Normandia como em Paris.

Comunicação

No Charles de Gaulle, em Paris, e por toda a França, há uma Orange com chips pré-pagos. O BrasilDireto faz ligações a cobrar da França pelo 0800-990055.

Fuso

+ 5h no horário de verão da França.

Documentos

Passaporte válido por, pelo menos, três meses na saída da França.

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