Trabalhar durante intercâmbio é uma necessidade para muitos estudantes
Buscar um emprego antes de viajar pode ser essencial para quem pretende aprimorar um idioma no exterior
Se navegar é preciso, como escreveu Fernando Pessoa, trabalhar para se manter no exterior é uma necessidade para muitos jovens que optam por participar de um programa de intercâmbio. Alguns assumem funções próximas ao que estudaram no Brasil, já outros optam por trabalhos estáveis, mas distantes da sua área de atuação. Outros tantos acabam esbarrando na burocracia dos países que escolheram para estudar e seguem para os chamados subempregos, enquanto alguns privilegiados entram na labuta simplesmente pela experiência que só uma viagem deste tipo pode proporcionar.
No caso da estudante Mirian da Silva Prado, 26, que ficou por dois anos no estado americano da Carolina do Norte trabalhando como au pair, a junção de trabalho e estudo foi essencial para aprender um novo idioma e conhecer boa parte do país. “Foram os dois melhores anos da minha vida. Durante o au pair, tive a oportunidade de conhecer uma nova cultura, viajar para todos os lugares que eu queria e ainda me manter um bom tempo nos Estados Unidos”, afirmou a intercambista.
Viver com uma família estrangeira e cuidar dos seus filhos é uma das formas que muitos jovens encontram para estudar no exterior. No caso de Mirian, por exemplo, o valor acessível foi um dos fatores que a levaram a escolher por esta modalidade de intercâmbio.
Restrito para mulheres entre 18 a 26 anos, solteiras e sem filhos, o programa exige uma jornada de trabalho que pode durar até 45 horas semanais e concede um salário semanal e férias remuneradas anuais. “Sendo au pair, usei o período de férias remuneradas para viajar bastante. Pude conhecer vários estados americanos nesta época”.
A intercambista Mirian (de blusa preta, no meio) com a família que a recebeu nos Estados Unidos: convivência com os nativos facilita o aprendizado – Foto: Arquivo Pessoal
Mas quem realmente deseja se candidatar a uma vaga de au pair precisa se atentar aos pré-requisitos exigidos por grande parte das agências. Além do valor da matrícula, é preciso ter o segundo grau completo, nível de inglês intermediário em conversação e uma média de 200 horas de trabalho com crianças comprovadas por referências.
Sonho americano
Durante os seis meses em que ficou em Los Angeles, nos Estados Unidos, a publicitária Paula Ferro, 24, pôde realizar um de seus maiores sonhos: trabalhar na indústria da música. Candidata a um programa de estágio não remunerado, a campineira se viu em um cenário hollywoodiano. “Estagiei por cinco meses na Sony Music. Cada vez que eu entrava no prédio, localizado em uma das ruas mais famosas de Beverly Hills, a Wilshire Boulevard, achava que ainda estava sonhando”.
O estágio na Sony Music propiciou a Paula (primeira à esquerda) muitas ofertas de trabalho após o término do intercâmbio – Foto: Arquivo Pessoal
Diferentemente de Mirian, o programa de intercâmbio escolhido por Paula foi focado exclusivamente no aprimoramento do idioma em um ambiente profissional, próximo à área de atuação em que a estudante já trabalhava em São Paulo. “Logo que retornei ao Brasil, demorou menos de um mês para eu já estar de volta ao mercado de trabalho”, disse a publicitária que optou pela agência Education First (EF).
Além disso, a publicitária gostou tanto da cultura americana que hoje trabalha em uma multinacional com sede em Miami. “As pessoas que pegam meu currículo muitas vezes não acreditam que eu realmente fiz tudo isso em tão pouco tempo! Ainda bem que eu tenho os certificados e as cartas de recomendação das empresas pra provar”, afirmou a estudante.
Mesmo sendo o sonho de muitos estudantes, um estágio não remunerado acaba sendo uma opção acessível para poucos intercambistas. Trabalhar durante a experiência no exterior pode ser uma boa escolha para minimizar os custos da viagem, como optou o engenheiro Fábio Wolf Fedrizzi, 23, que preferiu fazer um programa de intercâmbio convencional, feito pela agência Canadá Intercâmbio, com trabalho e estudos em conjunto.
O local escolhido para a viagem foi o bucólico e amigável Canadá, país em que ficou durante cinco meses, morando com uma família local, trabalhando e estudando na cidade de Vancouver. A segurança, o ambiente acolhedor e o preço menor em relação aos Estados Unidos foram essenciais na escolha pelo país. “Decidi pelo Canadá por ser um país de primeiro mundo, seguro e de povo aparentemente hospitaleiro. Também por haver maior facilidade em se conseguir visto e pelo preço um pouco mais acessível”, disse o engenheiro.
No Canadá, o engenheiro Fábio Wolf Fedrizzi trabalhou em uma pequena empresa durante um mês. A experiência lhe valeu muito mais do que o emprego – Foto: Arquivo Pessoal
Recomendado pela Canadá Intercâmbio, Fedrizzi trabalhou durante um mês em uma empresa de pequeno porte prestando serviços em período integral. Segundo ele, a experiência não foi boa só para o aprimoramento do idioma: “Foi bem interessante conhecer a rotina de uma empresa canadense, saber dos costumes, das tecnologias utilizadas, das leis locais”, acrescentou. Nem as saudades dos pais, da namorada e da vida no Brasil o impediram de terminar a viagem. Para ele, nada de tão ruim assim, é tudo uma questão de adaptação.
Caindo nos subempregos
Mas como diria Cartola, a vida é um moinho, e nem tudo é tão belo quanto parece. No caso do analista de sistemas Thiago Bernardo Santos, 25, a viagem dos sonhos acabou sendo mais dura do que ele havia programado. Depois de perder muitas oportunidades de trabalho por não ser fluente em inglês, ele decidiu fazer um intercâmbio. Pediu a conta na empresa que trabalhava, fechou um pacote de quatro meses de estudos e embarcou para a Austrália.
No primeiro mês morou com uma família local, conseguiu evoluir o idioma e decidiu procurar um emprego e morar com outros estudantes estrangeiros para diminuir os seus custos. E foi aí que ele sentiu as dificuldades de viver em outro país. “A concorrência para encontrar um emprego era muito grande entre os estudantes de intercâmbio. Na Austrália, por lei, quando um estudante é matriculado em qualquer curso de 25 horas ou mais por semana, recebe o direito de trabalhar 20 horas para ajudar nas despesas”, afirmou Santos. Segundo ele, não sendo fluente e trabalhando somente 20 horas semanais, encontrar um emprego formal se tornou uma tarefa dificílima.
Depois de um mês em casa de família, Thiago (primeiro à direita) demorou a encontrar um trabalho e foi morar com outros intercambistas para diminuir despesas
Assim como tantos outros estudantes que não conseguem emprego durante o intercâmbio, Santos foi “empurrado” para os chamados subempregos – trabalhos de garçons, auxiliar de limpeza, auxiliar de cozinha, entre outros. “Eu não dependia do trabalho para concluir meus estudos, mas era normal encontrar pessoas que se não trabalhassem, teriam que voltar para suas casas”, afirmou o estudante.
Após elaborar um currículo e bater de porta em porta durante três semanas, Santos conseguiu um emprego de auxiliar de cozinha em um restaurante italiano. “Aprendi muito durante o período em que estive trabalhando, mesmo que arduamente, pois um auxiliar de cozinha tem que fazer de tudo, desde ajudar a preparar os alimentos para os chefs até deixar tudo limpo e fechar o restaurante”.
Depois da experiência em terras estrangeiras, Santos voltou ao Brasil, conseguiu muitas ofertas de emprego e hoje atua em sua área de trabalho. O inglês é uma ferramenta constante no seu dia a dia.
Trabalho humanitário
Para quem não tem que pagar a conta no final do mês e deseja aprimorar um novo idioma, o intercâmbio de trabalho voluntário pode ser uma boa opção. Normalmente em países subdesenvolvidos, o candidato a uma vaga em uma destas atividades tem que estar disposto a realizar trabalhos ligados ao meio ambiente, serviço social ou assistência a deficientes.
Em uma das salas de aula da ONG Amal Sale, a consultora Marília Watts ensinou inglês aos jovens marroquinos
A consultora de vendas Marília Watts, 26, saiu de Recife, cidade onde mora, para passar duas semanas em Rabat, no Marrocos, em um programa de trabalho voluntário da Central de Intercâmbio (CI). Segundo ela, a maioria dos voluntários acaba ensinando inglês ou espanhol para crianças e jovens, mas existem algumas ONGs em defesa dos direitos humanos, principalmente mulheres. “Trabalhei na ONG Amal Sale, cidade próxima de Rabat, e dei aulas de inglês pela manhã e tarde. Os jovens são de todas as idades e níveis. De 12 a 20 anos, porém havia uma senhora de 50 anos no grupo também”, disse a consultora.
Além da experiência de ensinar os locais, o intercambista de trabalho voluntário também vive com uma família do país e o uso do idioma torna-se inevitável para se comunicar com eles.
Veja quais são os pré-requisitos mais comuns em programas de intercâmbio:
Estágio não-remunerado
Ideal para quem planeja não só afiar o idioma, mas também quer ganhar mais experiência no trabalho, o programa de intercâmbio de estágio não remunerado é a solução ideal. A carga horária geralmente é de 50% estudo, 50% trabalho.
Os pré-requisitos mínimos para este tipo de intercâmbio podem variar, mas normalmente são exigidos:
– Ter entre 19 e 28 anos
– Nível intermediário de conversação do idioma que pretende aprimorar
– Ao menos um (1) ano de estudos em faculdade ou curso técnico
– Um (1) ano de experiência profissional, preferencialmente na área desejada
Trabalho voluntário
Geralmente, o intercâmbio de trabalho voluntário tem curta duração, algo próximo de duas a quatro semanas. Com datas de início flexíveis o ano todo, é possível que haja pausas nas épocas de Natal e Ano Novo.
Pré-requisitos:
– Ter mais de 18 anos
– Conhecimento intermediário de inglês ou do idioma do país escolhido
– Desejo de trabalhar seriamente no projeto escolhido
– Programa tem duração a partir de 2 semanas
Au pair
Quem tem habilidade para cuidar de crianças pode aproveitar no au pair uma boa oportunidade para aprender um novo idioma e ainda ganhar uma grana. Bancar a irmã mais velha da casa pode ser uma boa forma de cortar os custos da viagem.
Pré-requisitos:
– Exclusivo para mulheres
– Ter entre 18 e 26 anos
– Ensino Médio completo
– Inglês intermediário em conversação
– Experiência comprovada de, no mínimo, 100 horas com crianças acima de 2 anos e de 200 horas com crianças abaixo de 2 anos
– Ter carteira de habilitação e saber dirigir pode ser um diferencial
Trabalho e estudo
As exigências para o intercâmbio convencional de trabalho e estudo podem ser bem diferentes de um programa para outro. Mas, geralmente, as seguintes características listadas a seguir costumam contemplar todos cursos do tipo.
Pré-requisitos:
– Ter entre 18 e 30 anos de idade
– Nível intermediário de inglês
– Disponibilidade para trabalhar aos fins de semana e feriados
Antes de fechar o pacote, faça uma ampla pesquisa para ajudá-lo a traçar seus objetivos e, em última instância, evitar possíveis frustrações durante a viagem. Vale consultar amigos e conhecidos que já vivenciaram um intercâmbio, além de pesquisar em sites, vasculhar blogs e demais ferramentas disponíves. O mais importante, contudo, é procurar por agências afiliadas a entidades reconhecidas pelo mercado, tais como: Belta, Abav, Braztoa, Alto, Embratur, ISTC e WYSETC. Fica como dica consultar agências como a Education First (EF), a Central de Intercâmbio (CI), a STB, a World Study, a Experimento e a Yázigi Travel, todas credenciadas nos principais órgãos que regem este tipo de programa.
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