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Sem véu e com botox: um olhar acerca da vaidade feminina no Irã

Em um dos países mais fechados do mundo, as mulheres encontram suas maneiras de burlar as regras

Por Nara Alves
18 Maio 2017, 14h48

Estou obcecada pelas mulheres iranianas. Passo o dia tentando fotografá-las, listando mentalmente seus diferentes estilos. Estamos no inverno, mas fico imaginando a inhaca que deve ser debaixo de uma burca no verão. Prefiro falar das sem burca.

As mulheres sem burca usam hijab, o véu ou lenço na cabeça, item obrigatório. Elas vestem calça jeans, tênis verde-limão, usam óculos de sol mostram a franja, frequentemente pintada de louro.

Vi num filme que algumas franjas são apliques grampeados no cabelo. Quando a franja é natural, até deixam aparecer toda a parte de cima da cabeça. Um acinte.

Essas periguetes são as minhas favoritas. Adotei o estilo e prendo meu lenço no coque, o que dá um quê de tomara-que-caia incrível.

As periguetes iranianas são maravilhosas. Em geral magras, têm pele lisa, sobrancelhas grossas e lábios carnudos. O nariz possui duas variações: há a napa grande, natural, linda, e a operada, arrebitada, artificial. Muitas exibem esparadrapos da rinoplastia. É sinal de status ostentar um narizinho.

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As que não têm preenchimento nos lábios, passam gloss vermelho, borrando de propósito contorno para fazê-los maiores.

Homem ou mulher, todos devem obedecer às leis. A radical diferença é que, por se tratar de uma república islâmica, o Alcorão dita as regras.

Aqui, como em praticamente todo o planeta, quem manda é o homem. A mulher precisa de permissão do marido para viajar. No ônibus, eles vão na parte da frente, elas, nos bancos de trás.

Pelo que notei, acredito que, sempre que as iranianas não quiserem se submeter a alguma regra, terão condições de protestar. Prova disso ocorreu em Teerã quando eu e uma diplomata brasileira pitávamos narguilé, proibido às mulheres.

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Algumas clientes questionaram o dono do estabelecimento por que nós podíamos e elas não. O proprietário respondeu que nós éramos estrangeiras e, então, se resignaram.

Mas, na minha fantasia, elas saíram dali e foram juntas para a casa de uma delas, cujo marido estava viajando, pegaram um narguilé e fizeram a maior farra, dançando e rindo com os lenços caídos no chão.

 

Nara Alves é jornalista e acaba de lançar o livro 66 Histórias de uma Volta ao Mundo (editora O Viajante)

Texto publicado na edição 256 da revista Viagem e Turismo (fevereiro/2017)

 

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