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Serra: Santo Antônio do Pinhal e São Bento do Sapucaí

Vizinhas de Campos do Jordão, essas cidades paulistas unem o frio da Mantiqueira à boa comida, ao conforto das pousadas e a algumas atividades radicais

Por Naíma Saleh
Atualizado em 27 jun 2019, 15h57 - Publicado em 28 jun 2013, 14h21

Atualizado em 01/07/2015

Santo Antônio do Pinhal e São Bento do Sapucaí têm um vizinho comum que costuma causar frenesi em muita gente quando chega o inverno: Campos do Jordão. Ambas, porém, ainda estão imunes a certos signos que costumam marcar as ruas de Capivari, onde está o centrinho turístico de Campos. Nelas é difícil encontrar noites muito badaladas, ostentação e diárias de hotel superestimadas. Embora haja pousadas muito confortáveis – e caras –, prevalece uma certa simplicidade rural. A Serra da Mantiqueira, aqui contemplada com maior quietude, parece muito mais magnética.

Assim que cheguei a Santo Antônio do Pinhal, que se acessa pela mesma SP-123 que leva a Campos do Jordão, fui surpreendida pela ampla oferta de pratos com pinhal, digo, pinhão: bolinho, petit gâteau, filés… É que a temporada do pinhão vai de abril a junho e, com isso, as sementes da pinha (ou do pinheiro-do-paraná) não só ganham os cardápios dos restaurantes como também são vendidas em quiosques de beira de estrada. Além do pinhão, outra iguaria típica é a truta – as águas frias facultam sua abundância na região. Fiz meu début gastronômico no elegante Santa Truta (Avenida Antônio Joaquim de Oliveira, 579) com o prato à moda da casa, que combina o peixe com camarões, champignons e alcaparras ao molho de catupiry. Satisfeita, rumei para o centrinho e me peguei intrigada ao ver um jardim cheio de esculturas de argila. Tais obras nasceram no ateliê Humberto de Oliveira (Rua Governador Carvalho Pinto, 82, 12/9216-8040), onde um simpático Santo Antônio saúda à porta. Elas podem custar de R$ 500 a R$ 4 000. Para uma compra mais decidida, há os ateliês Eduardo Miguel (Estrada do Barreiro, km 1) e Morito Ebine (Estrada do Lajeado, km 2), que transformam restos de madeira em móveis.

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Santo Antônio tem um marco central, a Igreja Matriz (Praça Monsenhor Azevedo, 50), de 1811. A Praça do Artesão, bem ao lado, é onde acontecem as quermesses e festas – em julho, de quinta a domingo, há shows, feira de artesanato e exposição de orquídeas. Igreja e praça dão cara de cidade do interior à principal artéria pinhalense, a Avenida Ministro Nelson Hungria, povoada por muitas lojinhas de artesanato e pela primeira loja própria da Das Senhoritas (nº 560), as mulheres que vivem em oração da comunidade Café do Vale dos Mellos, área rural de Campos do Jordão, que fazem o melhor alfajor argentino da montanha. O clima foi a desculpa para eu desembolsar R$ 4,80 e acalorar-me com um chocolate quente. Antes do entardecer, visitei o Jardim dos Pinhais (SP-46, 2600), parque que reúne oito jardins temáticos com espécies botânicas de diversos países – o canadense tem um belo tapete de flores. Deu para assistir ao pôr do sol, momento em que os contornos das araucárias fizeram a mais bela contraluz da serra. Minha noite terminou no Canto da Gula (Avenida Ministro Nelson Hungria, 328), um bistrô romântico (e eu sozinha) onde provei creme de milho com linguiça antes de dormir com gosto em uma kingsize da Pousada do Cedro (Estrada do Pico Agudo, km 5).

Baú de Bento

Domingo de manhã. Peguei a SP-50 e, 30 quilômetros depois, estava em São Bento do Sapucaí, ainda mais campestre do que Santo Antônio – há quem use chapéu de caubói. A missão: conquistar o cume da Pedra do Baú, formação rochosa de 1 950 metros de altitude e que é o símbolo da região, vista desde muitos lugares. Embora muita gente suba sozinha, sem equipamento de segurança, eu escalei acompanhada de um guia da Baú Ecoturismo (Estrada do Quilombo, 1403). Do Centro, percorremos 19 quilômetros de asfalto e 5 de terra pela estrada do Paiol grande até o ponto de partida da trilha.

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Daí caminhei por um trecho estreito e úmido em meio à Mata Atlântica e, após uma hora, veio a subida, mais 40 minutos de jornada composta por seis (longos) lances de escadas de ferro cravadas na pedra, bem verticais em alguns pontos. Embora não tenha aquele cenário de 360 graus de mares de morros, como em São Tomé das Letras, a paisagem do topo do Baú é linda. Dá para ver o Bauzinho, a pedra caçula, além de outros vales e montanhas que fazem a gente se sentir pequeno e privilegiado por poder contemplar tudo aquilo. A descida foi mais difícil do que a subida, pois, de costas, somos obrigados a olhar para baixo para acertar os degraus.

À noite, antes de me recuperar na Pousada Flor de Ipê (Estrada dos Serranos, 262), fui receber meu medalhão, que não era de ouro nem de prata, mas de picanha, preparada no descolado Grão do Galo (Rua Coronel Ribeiro da Luz, 110, 12/3971-2329). No dia seguinte, cada músculo meu doía, mas ainda assim eu queria mais. Quando saí para dar uma volta, por um instante me senti em Barcelona ao avistar a Capela Santa Cruz (Rua 13 de Maio, 217), com paredes ornamentadas de mosaicos à la Gaudí, obra do artista local Ângelo Milani, que me contou que aproveita os anjos e santos quebrados abandonados na capelinha para incrementar sua obra. Se o Gaudí da igreja despertar o seu lado colecionista – ou consumista –, passe no Ateliê Ditinho Joana (Rua Projetada, 42), com esculturas de madeira nobre desde r$ 1 000, ou no Arte no Quilombo (Estrada Vereador Benedito Candido Ribeiro).

Voo de parapeito sobre a Serra da Mantiqueira Voo de parapeito sobre a Serra da Mantiqueira

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A repórter e o Jefferson vivem um sonho de Ícaro sobre a arrebatadora Serra da Mantiqueira – Foto: Divulgação

O ponto alto da minha viagem – literalmente – estava guardado para a tarde de uma segunda-feira perfeitamente útil. Eu havia agendado um voo de parapente com a Xênios (SP-46, 2600). Encontrei meu instrutor, o Jefferson, em frente à matriz. Enquanto percorríamos os 9 quilômetros até o Pico Agudo, local do salto, eu era a pessoa mais corajosa do mundo. Conversei, ri e até esqueci que ia pular de uma altura de 982 metros. Ou talvez não tivesse noção de quão alto aquilo era. a coragem se esvaiu no pico. Contemplar aquela vista do vale do Paraíba, a Dutra e Taubaté lá embaixo era uma coisa. Voar, outra bem diferente. “Acho que não vou”, eu disse ao Jefferson, joelhos a tremer. Sem me dar bola, ele seguiu me ajudando com o colete; afinal, já tem experiência com gente que amarela. Após um péssimo augúrio e uma tentativa fracassada – as cordas do parapente se enroscaram –, na segunda eu voei! Logo estava a 1 000 metros do chão, me agarrando às cordas com toda a força e balançando os pés para disfarçar o nervosismo. Sentia meus ombros duros de tensão. Só me dei conta da altura quando vi a sombra do parapente pequenina lá embaixo, refletida na copa das árvores. Durante os 20 minutos no ar, fui relaxando aos poucos, a ponto de fotografar com a minha própria câmera. Até fizemos uma manobra, o espiral. Quando coloquei os pés no chão, despedi-me de Santo Antônio com o coração ainda nas nuvens – e com vontade de voltar e voltar.

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