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Portugal de carro: de Lisboa até Santiago de Compostela

Partindo de Lisboa, essa viagem de sete dias passa por cidades imperdíveis do norte português e termina na espanhola Galícia

Por Rachel Verano
Atualizado em 19 jan 2022, 11h57 - Publicado em 25 Maio 2017, 16h55

DIA 1

Ponto de partida: Lisboa
Ponto de chegada: Coimbra
Percurso aproximado: 276 km

Castelos, cavaleiros, batalhas. Este roteiro começa com ares de contos de fada. A Autoestrada A1, seguida da A23 e da A13, leva a um dos lugares mais misteriosos do país, em Tomar, a cerca de 140 quilômetros de distância de Lisboa.

Erguido no ano de 1160 pela Ordem dos Cavaleiros Templários, em plena época das Cruzadas, o Convento de Cristo tem incríveis fachadas esculpidas em pedra, pátios, escadarias por vezes sombrias e uma impressionante capela dourada. Reserve duas horas para a visita, antes de pegar a IC9 e a N356 em direção a mais uma viagem no tempo, 45 quilômetros adiante.

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O monumental Convento de Cristo, em Tomar. Crédito: (Stockphotosart.com/iStock)

O Mosteiro da Batalha, na vila de mesmo nome, começou a ser construído no século 14, logo depois da vitória de Portugal diante da Espanha na Batalha de Aljubarrota, que culminou com independência do país.

Foram mais de 150 anos até a obra, que revela elementos góticos, manuelinos e renascentistas, ser concluída. O detalhe mais curioso e inusitado da construção, declarada Patrimônio Mundial pela Unesco, são as capelas inacabadas, abertas e sem teto.

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O Panteão D. Duarte, capela sem teto do Mosteiro da Batalha. Crédito: (Hans Blosse/Getty Images)

Meros 15 minutos separam Batalha da vizinha Leiria pela A19. A vila tem um imponente castelo no alto de um morro, mas todas as atenções aqui se voltam para um restaurante que é uma verdadeira atração turística: o Tromba Rija, onde os menus são uma orgia em que desfilam praticamente todos e mais alguns pratos portugueses.

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O último trecho de estrada leva até Coimbra, a 77 quilômetros via A1. A pedida é descansar até o dia seguinte na linda Quinta das Lágrimas, onde o hotel ocupa um palacete do século 18.

Antes do jantar, que pode ser no gourmet Arcadas ou no mais informal Pedro & Inês, vale passear sem pressa pelos 12 hectares de jardins que foram palco dos encontros secretos entre o príncipe D. Pedro e Inês de Castro, protagonistas de uma das histórias de amor mais famosas (e trágicas) do mundo.

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A Quinta das Lágrimas, palco da trágica história de Inês de Castro e D. Pedro. Crédito: (Quinta das Lágrimas/Divulgação)

DIA 2

Ponto de partida: Coimbra
Ponto de chegada: Porto
Percurso: 133 km

Antes de cair na estrada, aprecie a vista da cidade antiga a partir das margens do Rio Mondego e vá conhecer uma das mais antigas faculdades do mundo, cujos primeiros registros datam de 1290.

Além dos belos edifícios e pátios, uma das atrações incontornáveis da Universidade de Coimbra é a Biblioteca Joanina, uma obra-prima do barroco em Portugal, com três andares erguidos entre 1717 e 1728.

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A Joanina, em Coimbra, é das bibliotecas onde quase se cai de joelhos. Crédito: (Top Images/Getty Images)

Caso sobre tempo, deixe na manga a possibilidade de uma visita ao incrível Museu Nacional de Machado de Castro , que foi construído sobre a antiga cidade romana de Aemeni, repleto de galerias subterrâneas e um acervo variadíssimo de ourivesaria, cerâmica e escultura.

Saia da cidade pela A31, seguida da IC2, e já vá imaginando o que te espera para o almoço em Mealhada, a menos de meia hora de distância: um impecável leitão à moda da Bairrada – à pururuca, com a pele crocante e a carne que chega a derreter. O acompanhamento ideal é uma salada de laranjas e o leve espumante produzido nos vinhedos dos arredores.

Há vários restaurantes espalhados pela estrada, mas não perca tempo e vá direto ao imbatível Pedro dos Leitões, onde os fornos aquecidos por lenha de videira espalham um delicioso cheiro no ar.

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A azulejaria hispano-mourisca. Crédito: (Visit Portugal/Divulgação)

Deixe a sobremesa para a próxima parada: Aveiro, pouco mais de 40 quilômetros adiante através da A1 e da N235. Para bom entendedor, duas palavras bastam: ovos moles.

O doce típico da cidade é um creme aveludado, envolvido por uma massinha que lembra uma hóstia, capaz de fazer esquecer, ainda que temporariamente, qualquer pastel de natas ou toucinho do céu.

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O melhor cenário para a extravagância é o Centro da cidade, em que passa o Rio Vouga, coroado de barquinhos coloridos e cercado de confeitarias.O Porto, destino do dia, está a 75 quilômetros pela A1.

Para a hora do jantar, o DOP do Chef Rui Paula serve clássicos da culinária portuguesa em um ambiente moderninho.

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No Porto, o pudim de leite com framboesa do DOP não é nada dispensável. Crédito: (DOP/Divulgação)

DIA 3

Percurso: o melhor do Porto

Dia de bater perna. Saindo do hotel, siga para a Zona da Ribeira, a poucos passos. Escolha um café para apreciar a vista da bela Ponte D. Luís I, construída no final do século 19 por um discípulo do francês Gustave Eiffel, e deixe-se ficar ao sabor do vento – e do desfile de barquinhos coloridos no Douro.

A poucos passos de distância fica a impressionante Igreja de São Francisco, erguida no século 14 e inteiramente revestida de talha dourada quatro séculos mais tarde – sem dúvida, um dos mais impressionantes exemplares do barroco português.

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O edifício bem ao lado abriga o Palácio da Bolsa, uma bela construção do século 19 onde se destacam o Pátio das Nações, ladeado por brasões dos países que mantinham relações comerciais com Portugal na época; e o Salão Árabe, com decoração inspirada na Alhambra, de Granada, na Espanha.

Saindo de lá, atravesse o Jardim do Infante D. Henrique e pegue a Rua do Mouzinho da Silveira à esquerda e vire à direita na Bainharia. Siga adiante até chegar à Sé, impressionante catedral que é uma das construções mais antigas do país.

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A Ponte de D. Luís e o Rio Douro, ex-libris do Porto. Crédito: (Sean Pavone Photo/iStock)

De lá, tome o rumo da Estação de São Bento, a menos de cinco minutos de caminhada. Fica na próxima rua, a da Madeira, o Tapabento, um simpático restaurante de ares mediterrâneos, ideal para um almoço informal.

Depois do cafezinho, é hora de deixar a zona histórica e mergulhar no lado mais moderno da cidade. Aproveite para admirar o painel de azulejos de autoria do artista português Jorge Colaço, no hall da São Bento, e pegue o metrô até Estação Casa da Música.

A visita ao projeto do superarquiteto holandês Rem Koolhaas vale a pena mesmo que seja apenas do lado de fora, mas a visita guiada à Casa da Música é interessantíssima – e o ingresso inclui também o acesso à Fundação de Serralves, aonde se chega de Uber por uns 7 euros. O lugar abriga o melhor museu de arte contemporânea do Porto, um projeto do arquiteto Siza Vieira.

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Encerre a noite na Baixa, a área central de Porto, e encontre um bom restaurante para comer. Entre boas opções, estão a Petisqueira Voltaria, o Arte Da Baixa e a Cozinha dos Lóios.

DIA 4

Ponto de partida: Porto
Ponto de chegada: Braga
Percurso: 81 km

O dia é dedicado ao Minho, terra fria e famosa pela produção dos vinhos verdes portugueses, e o primeiro destino é uma das mais belas cidades medievais do país.

Guimarães fica a pouco menos de 60 quilômetros do Porto, pelas autoestradas A3 e A7, e, não bastasse ser o berço de Portugal, revelou-se um imperdível destino gastronômico graças a uma inauguração que tem dado o que falar.

Aberto em julho de 2016, no Largo do Serralho, A Cozinha é comandado por António Loureiro, vencedor em 2014 do principal concurso gastronômico português e com passagem pelo três-estrelas Azurmendi, no País Basco.

A proposta do chef, com receitas que variam segundo os ingredientes mais frescos no mercado, é a releitura de pratos do norte do país. É fundamental reservar com antecedência.

Guimarães - Portugal
O centro histórico de Guimarães. Crédito: (Nicolas Vollmer/Flickr)

Os arredores do restaurante estão pipocados de belos edifícios dos séculos 15 ao 19, e rendem uma gostosa caminhada. Antes ou depois de se esbaldar à mesa, visite o Castelo, uma fortaleza do século 10 superbem preservada, onde nasceu o primeiro rei português, no século 12.

Na sequência, visite a Igreja de São Francisco, no Largo de São Francisco, a cerca de 3 quilômetros de distância, famosa por seu interior todo revestido de belos azulejos.

Braga, o próximo destino, está a apenas 25 quilômetros pela A11. Aproveite o final do dia para passear a pé pelo seu centro histórico, onde a grande estrela é a Sé Catedral de Braga, do século 12.

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A tradicional rua de pedestres Souto, em Braga. Crédito: (Marek Stepan/Getty Images)

Dono de localização estratégica para o primeiro passeio na manhã seguinte, o Meliá Braga Hotel & Spa tem também um dos melhores restaurantes da cidade, o El Olivo, com opções que vão de fondant de alheira peito de pato com arroz cremoso de embutidos.

DIA 5

Ponto de partida: Braga
Ponto de chegada: Ponte de Lima
Percurso: 72 km

Comece o dia no Santuário do Bom Jesus do Monte, a apenas cinco minutos do hotel, um dos principais destinos de peregrinação católica do país. Independentemente da religião, a construção, finalizada no início do século 19, é impressionante e vale a visita.

Para atingir o topo, onde fica uma basílica, existe uma via-sacra composta por diferentes lances de escadas, cercados de bonitos jardins (há, também, um funicular, considerado o primeiro da Península Ibérica).

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O barroco da escadaria do Santuário Bom Jesus do Monte, em Braga. Crédito: (Shaun Egan/Getty Images)

Cerca de meia hora de asfalto pela Via A11 leva a Barcelos, terra do maior ícone português de todos os tempos nascido de uma lenda.

É possível encontrar diferentes versões do famoso galo no Centro de Artesanato (Rua D. Diogo Pinheiro, 25), que reúne trabalhos dos principais artistas locais.

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Os galinhos de Barcelos, típico souvenir. Crédito: (Stephan Pennells/Getty Images)

O próximo destino é a vila mais antiga de Portugal, Ponte de Lima, a cerca de 50 quilômetros pela A3. O almoço pode ser na Taverna Vaca das Cordas, onde, para não errar, basta pedir os pratos mais famosos: o bacalhau à moda da casa, feito com broa, e, para finalizar, a torta de limão com suspiros e raspinhas.

Depois, a pedida é explorar o centro histórico, banhado pelo Rio Lima. Não deixei de passar pela Rua Beato Francisco Pacheco ou pelo Largo do Chafariz. E jamais considere ir embora sem cruzar emblemática ponte que dá nome à vila – sua origem está ligada aos tempos do Império Romano, mais de 2 mil anos atrás.

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A Ponte de Lima, emblemática construção romana que dá nome à cidade. Crédito: (HenriqueDRMartins/iStock)

É ponto de passagem de peregrinos que vão a Santiago de Compostela pelo caminho português. Para uma noite em grande estilo, considere o Carmo’s Boutique Hotel, instalado num casarão com belo jardim, piscina e spa. O jantar pode ser servido ao ar livre, e deve ser solicitado com antecedência.

DIA 6

Ponto de partida: Ponte de Lima
Ponto de chegada: Santiago de Compostela
Percurso: 154 km

Cerca de duas horas de estrada, via A3, em Portugal, e AP9, na Espanha, levam à reta final do percurso através das terras verdejantes da Galícia.

Destino de mais de 260 mil peregrinos por ano, Santiago de Compostela é bem mais que destino religioso. Além de dono de um belo centro histórico, trata-se de um dos melhores destinos gastronômicos do país e uma animada cidade universitária.

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A soberba Catedral de Santiago de Compostela, ponto final dos peregrinos. Crédito: (Ken Scicluna/John Warburton-Lee/Getty Images)

Antes de se embrenhar pela cidade, vale fazer uma parada estratégica para o almoço numa verdadeira instituição local, o restaurante Dezaseis. O ambiente é simples e rústico, mas a comida é das melhores da região. A estrela da casa é o polvo grelhado (polpo a grella). Para acompanhar, comemore a chegada com um brinde dos ótimos vinhos Albariño, produzidos na região.

Reserve a parte da tarde para a principal atração local e seus arredores. A Praza do Obradoiro é o centro de tudo. Fica lá a entrada monumental da Catedral de Santiago, através da Porta da Glória, impressionante com as suas 200 esculturas que representam a bíblica história da salvação.

As origens do templo remontam ao século 11, e é possível ver resquícios do seu passado no subsolo através de ruínas arqueológicas. São também imperdíveis o Museo da Catedral, com acervo espalhado por quatro andares; o Palacio de Gelmírez, casa do bispado do século 12; e a subida ao topo da construção, que descortina lindas vistas da cidade.

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As conchas de vieira e a cruz de Santiago. Crédito: (Turismo España/Divulgação)

As missas dos peregrinos acontecem todos os dias, ao meio-dia e às 19h30. Em dias santos e feriados religiosos, o espetáculo fica por conta do gigantesco incensário, ou bota-fumeiro, uma peça de mais de 50 quilos pendurada a 20 metros de altura, balançada por, pelo menos, oito homens entre as naves.

Quem puder passar a noite em grande estilo pode se hospedar bem em frente, no Hostal dos Reis Católicos, um belo edifício do século 16. Uma opção mais barata bem pertinho é o Costa Vella, recheado de convidativos jardins.

É um bom programa, de toda forma, conhecer o hostal e jantar por lá. O restaurante Especia serve bons pratos de frutos do mar sob arcadas de pedra.

DIA 7

Percurso: o melhor de Santiago de Compostela

Comece a manhã cedinho no Mercado de Abastos, fundado em 1873, e aproveite para aprofundar o conhecimento sobre os produtos da região – não deixe de provar o famoso queijo local, que tem um curioso formato de mama, e os mariscos fresquíssimos (a Galícia é conhecida como a terra dos melhores e mais exóticos frutos do mar na Espanha).

Depois, reserve o dia para caminhar sem pressa por ruelas e becos calçados de pedra e cheios de charme do centro histórico. Há belos edifícios e impressionantes igrejas, como a do Monasterio de San Martín Pinario (Praza da Inmaculada, 5).

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As conchas de vieira estão por toda parte. Crédito: (Turismo España/Divulgação)

Quando bater a fome, prove as delícias do Auga e Sal. Para começar, há um ótimo foie gras servido com figos grelhados ou o bogavante, uma espécie de lagosta, ao molho de laranja de entrada. Na sequência, a merluza ao molho de manteiga negra é uma das melhores apostas.

Deixe a sobremesa para uma confeitaria a menos de cinco minutos de caminhada. A Pastelería Mercedes Mora (Rua do Vilar, 50) prepara doces tradicionais e serve a melhor torta de santiago da cidade – espécie de bolo de amêndoas coberto de açúcar. Um grand finale.

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As tortas de Santiago – um delicioso clássico da Galícia. Crédito: (Gregor Lengler/Laif/Glow Images/Reprodução)

Quando ir

Quanto mais ao norte de Portugal, mais rigoroso é o inverno. Isso significa que, a partir do Porto, pode fazer bastante frio entre os meses de outubro e março. De abril a setembro as temperaturas costumam ser agradáveis.

Braga recebe uma das maiores e mais bonitas procissões do país durante a Semana Santa. Em agosto, Santiago de Compostela costuma lotar.

Chuvas não chegam assustar: a cidade fica especialmente mágica com suas calçadas de pedra refletindo a imponência de suas construções. As festas do apóstolo Santiago acontecem na última quinzena de julho, sendo que, no dia 24, acontece um mega espetáculo de projeções de luzes e fogos de artifício.

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