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Roteiro: 48 horas em Recife e Olinda, em Pernambuco

Antes e depois de Porto de Galinhas, um roteiro de viagem com Gonzagão, Brennand e bolo de rolo

Por Eduardo Jun Marubayashi
Atualizado em 6 fev 2019, 16h36 - Publicado em 13 jan 2012, 16h06

Atualizado em fevereiro de 2019

Todo mundo quer estar de malas prontas para passar dias felizes no Nordeste brasileiro. Na mira de muitos está Porto de Galinhas, a queridinha das agências. A vontade de curtir as piscinas naturais em Carneiros e Muro Alto é tanta que muitos ignoram completamente a dupla Recife Olinda. Sacrilégio! Reserve pelo menos dois dias para curtir a cultura, o patrimônio e os bolos de rolo daqui. Se puder ficar mais, aproveite: você não se arrependerá!

Bolo-de-rolo. Comida típica da região de Recife (PE)
Quem vai à Recife (PE) não pode deixar de experimentar o delicioso bolo de rolo. O mais famoso da cidade é o da Casa dos Frios, que vende o rocambole de camadas finíssimas com o clássico recheio de goiabada, ou de chocolate, doce de leite e, sob encomenda, nozes, ameixa e maracujá (Eduardo Pozella/Divulgação)

Dia 1

Ah, que sol arretado de Recife! Tomar o café-da-manhã de frente para a praia Boa Viagem dá uma vontade louca de cair na água. Mas, por enquanto, não é hoje que o tubarão vai morder seu pé, pois vamos rapidinho para o bairro de Santo Antônio, no centro. Comece pela Casa da Cultura, um antigo presídio cujas celas hoje abrigam lojinhas variadas. Há de tudo: xilogravuras, cachaças tentadoras, belos bordados, edições antigas de Gilberto Freyre. É uma tentação!

A paisagem urbana de Recife é cortada por rios e pontes e adornada por fortes e igrejas que revelam a mistura dos domínios português e holandês no século 17
A paisagem urbana de Recife é cortada por rios e pontes e adornada por fortes e igrejas que revelam a mistura dos domínios português e holandês no século 17 (Divulgação/Divulgação)
As 150 celas da antiga penitenciária de Recife, deram lugar a lojas que vendem artesanato, xilogravuras e esculturas. A Casa da Cultura também abriga o Museu do Frevo e a Fundação de Desenvolvimento da Cultura Negra
As 150 celas da antiga penitenciária de Recife, deram lugar a lojas que vendem artesanato, xilogravuras e esculturas. A Casa da Cultura também abriga o Museu do Frevo e a Fundação de Desenvolvimento da Cultura Negra (Divulgação/Divulgação)

De sacolas cheias siga para o Pátio de São Pedro, um pouco de calmaria no calor da cidade. Sob a sombra da catedral de São Pedro dos Clérigos estão dois bem montados museus-memórias de ícones da música local: Luiz Gonzaga e Chico Science. De Asa Branca ao mangue-beat, são duas trajetórias fascinantes. Destaque para algumas fotos da juventude de Gonzagão, quando ele estava mais para Michel Teló do que para Rei do Baião. Caminhe então ao longo do rio Capibaribe, veja as coloridas casinhas da rua Aurora e visite a Capela Dourada, “a” igreja imperdível em Recife.

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Pátio de São Pedro em Recife (PE)
Rodeado por casas coloniais e pela fachada da Catedral de São Pedro dos Clérigos, é um rico reduto cultural (Divulgação/Divulgação)

Agora é hora de conhecer o Recife Antigo. O casario colonial e as ruas de paralelepípedos imprimem uma atmosfera quase que interiorana, bucólica, em certos pontos. O Marco Zero, que explode em êxtase no Carnaval, fora deste período é calmo, cercado por antigos edifícios neoclássicos.

Do legado do conde holandês Maurício de Nassau também pouco se nota. Alguns de seus passos mais visíveis estão no pragmatismo com o qual recebeu judeus perseguidos pela feroz Inquisição ibérica. A sinagoga Kahal Zur Israel conta um pouco desse percurso que inclui a reconquista da cidade pelos portugueses e a migração de parte da comunidade para Nova York.

Aproveite para conhecer um pouco mais da história da música no centro cultural Paço do Frevo, um dos prédios mais bonitos da região. O anfiteatro, localizado no último andar, é envidraçado e dá uma visão privilegiada para o Rio Capibaribe. Se estiver visitando a cidade no último domingo do mês, espere até às 15h para ver sair um bloco do centro cultural que desfila pelas ruas do Recife Antigo.

Centro cultural Paço do Frevo, Recife, Pernambuco, Brasil
O centro cultural também é um centro de documentação sobre a história do frevo, abriga uma escola de música, uma escola de dança e diversas exposições sobre o tema (Paço do Frevo/Reprodução)
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Se ainda tiver um tempo, o museu Cais do Sertão foi inaugurado em 2014 em um antigo armazém do porto e tenta passar, de forma interativa, a experiência cultural sertaneja. Lá dentro, um espaço é dedicado ao ícone musical sertanejo Luiz Gonzaga, além de outras instalações.

Recife Antigo, Recife (PE)
O casario histórico do bairro que deu origem à cidade no século 17 passou por uma ampla revitalização na década de 90. O calçamento e a iluminação das estreitas ruas foram renovados, sem desrespeitar a tradição arquitetônica de inspiração holandesa. As ruínas da primeira sinagoga das Américas, na Rua do Bom Jesus, deram lugar ao Centro Cultural Judaico. Aos domingos, a via é palco de uma movimentada feira de artesanato. Pertinho dali, fica a Torre Malakoff, um antigo posto de alfândega que hoje abriga um observatório astronômico (Divulgação/Divulgação)

Se não quiser bater perna, você pode fazer um passeio de catarmarã pelo Recife Antigo e conhecer tudo do Rio Capibaribe, diretamente das águas que passeiam sobre o restinho de mangue recifense. O barco passa por debaixo de cinco das pontes mais icônicas da cidade e em frente aos prédios históricos, e o passeio é perfeito para fazer enquanto o sol se põe ou à noitinha.

Passeio de catamarã pelo Recife Antigo (PE)
O passeio passa pelas três ilhas do Centro do Recife (Santo Antonio, Recife Antigo e Boa Vista) por baixo de importantes pontes e chega perto da Praça do Marco Zero, do Parque de Esculturas de Francisco Brennand e de outros pontos turísticos da capital (Divulgação/Divulgação)

Dia 2

A praia continua lá nos provocando enquanto tomamos nosso café com bolo de rolo. Como ninguém é de ferro, caímos na água e conhecemos os famosos arrecifes que batizam a cidade. Alma lavada e nenhum tubarão à vista! Seguimos então para Olinda, nos encantar com seu sobe e desce de ladeiras, a poucos quilômetros do centro.

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Não é recomendado ultrapassar a barreira de recifes em toda a costa da capital de Pernambuco, pois há risco de ataque de tubarões
Não é recomendado ultrapassar a barreira de recifes em toda a costa da capital de Pernambuco, pois há risco de ataque de tubarões (Luis Morais/Divulgação)

Siga pela rua do Amparo, cheia de restaurantes, bares, pousadas, museus e ateliês. A mistura de igrejas barrocas, vistas surpreendentes e casas coloniais criam uma ambiente harmonioso, cheio de charme. O melhor da cidade está em perambular pelas ruas, mas não deixe de checar os fabulosos azulejos do Convento de São Francisco e o adornado altar da Basílica de São Bento.

Com restaurantes, pousadas, ateliês e museus, a Rua do Amparo é o polo Cultural do Centro Histórico do Olinda
Com restaurantes, pousadas, ateliês e museus, a Rua do Amparo é o polo cultural do centro histórico de Olinda (Hugo Acioly/Setur/Divulgação)
A Basílica de São Bento, de 1582, é a mais rica igreja de Olinda. Ostenta um altar de madeira entalhado em estilo barroco, revestido com 28 kg de ouro
A Basílica de São Bento, de 1582, é a mais rica igreja de Olinda. Ostenta um altar de madeira entalhado em estilo barroco, revestido com 28 kg de ouro (Bia Parreiras/Divulgação)

Logo em frente ao convento, suba no elevador panorâmico para conferir a vista do mirante no alto do prédio do prédio da caixa d’água. A vista das cidades de Recife e Olinda não vai te decepcionar.

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Pausa para o almoço: considere entre o agradável Beijupirá e o estrelado Oficina do Sabor com seu camarão ao mangue. Dúvida cruel, mas você certamente sairá pimpão de qualquer um dos dois.

Para fazer uma dupla de passeios rápidos, visite a Casa de Bonecos Gigantes de Olinda, onde você pode aprender mais sobre a história dos famosos bonecos de Olinda e ver vários deles em exposição. Depois, siga para o Museu do Mamulengo, que conta a história e guarda objetos dos teatros feitos com  fantoches e apresentado em praças públicas de Pernambuco.

Casa dos Bonecos Gigantes de Olinda, Olinda, Pernambuco, Brasil
O espaço localizado na Rua do Bom Jesus 183, Recife Antigo abriga a exposição permanente de 63 bonecos gigantes (Embaixada de Pernambuco dos Bonecos Gigantes de Olinda/Divulgação)

De Olinda, tome o rumo do Instituto Ricardo Brennand, em Recife. Sua pinacoteca conta com boa curadoria para a ampla coleção de tapeçarias, óleos e desenhos diversos, com destaque para a obra de Frans Post. Já o anexo Castelo São João é uma experiência mais bizarra, com milhares de espadas, punhais, facas e armaduras atulhados em um castelinho ‘medieval’. Diversão na certa.

Castelo do Instituto Ricardo Brennand, Recife, Pernambuco
O Castelo São João foi criado pelo colecionador pernambucano Ricardo Brennand, um apreciador da arte que há mais de meio século vem adquirindo dezenas de obras de artes provenientes de diversos países do mundo, datadas entre os séculos XV e XXI (Divulgação/Divulgação)
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Dali, você pode conhecer a oficina de cerâmica de onde saem as obras primas do renomado escultor pernambucano Francisco Brennand. Se você não der de cara com o escultor, pode conferir funcionários da oficina trabalhando em encomendas e passear pelo jardim, repleto de obras de formas orgânicas e ultracuriosas do artista.

Oficina de Cerâmica Francisco Brennand, em Recife (PE)
Brennand, que nasceu em 11 de junho de 1927, continua na ativa; se você der sorte, pode encontrá-lo passeando pela Oficina durante a visita ao local (Ludmilla Balduino/Divulgação)

Com a mente cheia das sinapses formadas com tanta história e cultura, agora sim é hora de relaxar em Porto de Galinhas.

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