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Pucón: o vulcão e o sonho

Nossa repórter escalou o Villarrica, que no inverno se torna uma das estações de esqui bacanas do Chile

Por Cris Capuano
30 Maio 2012, 17h30

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O que São Paulo tem de prédios o Chile tem de vulcões. Bem, nem tanto. E, de todos eles, nenhum solta tanta fumaça em dias corriqueiros quanto o Villarrica, em Pucón. As 20 mil almas da cidade parecem se esforçar para manter tudo direitinho, a começar por suas casas de pedra e madeira nativa. E acompanham diariamente as atividades do ilustre e fumegante morador. O Villarrica já teve erupções históricas, a pior em 1971, quando cuspiu 30 milhões de metros cúbicos de lava que devastaram pontes, campos e florestas depois de abrir uma fissura de 4 quilômetros de largura. Vistas do alto, as marcas deixadas pela última erupção, em 1984, parecem leitos secos de rios entre as araucárias do Parque Nacional Villarrica (56-45/443-781, conaf.cl; 8h30/18h; US$ 2 e US$ 1, crianças). Os índios mapuches, que habitavam a região, chamavam o vulcão de Racupillán: Casa do Diabo, em Mapudungun.

Às margens do lago também chamado Villarrica, o vulcão é a estrela do segundo parque mais antigo do Chile, que tem trilhas acessíveis e mais dois vulcões em sua área, o Quetrupillán, a 2 360 metros, e o gigantesco Lanín, a 3 747 metros, compartilhado com a Argentina. Em 2011, especialmente durante o verão, 18 mil pessoas subiram até a cratera do Villarrica, a 2 847 metros do nível do mar, em um trekking que não exige experiência em montanhismo, mas está bem longe de ser um passeio de domingo. No inverno, o buraco do Villarrica é mais embaixo: de julho até setembro, a neve cobre a encosta e o vulcão vira sede do Centro de Ski Pucón (56-45/441-901, skipucon.cl; 9h/17h; passes desde US$ 51). São 17 pistas adoradas pelos snowboarders, além de escola de esqui para crianças, cafeteria e butique. Para esquiar, Pucón não é assim uma Valle Nevado. Mas em que outro lugar você pode esquiar em uma montanha que solta fumaça?

A escalada

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Fui a Pucón para me encontrar com o Villarrica. Ainda não havia tanta neve na montanha, mas ecoava ali uma notícia trágica: a morte do brasileiro Felipe Santos, que se acidentou em 1o de março e foi encontrado dois dias depois. Eu tinha saído ainda no escuro de Pucón, com botas de neve alugadas e uma roupa impermeável que me deixava com a destreza de um astronauta. Levava uma mochila de carga incômoda com luvas, capacete e uma piqueta de alpinismo. E agora estava ao pé do colosso, observando a fumarola contra um céu meio azul, meio rosa. “É um vulcão de formato perfeito”, disse o guia Claudio Retamal, dono da agência Summit Chile (56-45/443-259, summitchile.org), interrompendo meu momento contemplativo. Claudio nasceu em Santiago e escala há 25 anos. Tem passos rápidos e precisos como os homens das montanhas dos livros de Jon Krakauer, como Na Natureza Selvagem. Éramos cinco dispostos a escalar o vulcão: comigo subiam um casal de Porto Alegre e outro de Dublin, na Irlanda. Pegamos carona na cadeirinha dupla do teleférico 5 do centro de esqui, que economiza uma hora de caminhada. Seriam ainda outras quatro em zigue-zague até o topo.

Foi Claudio quem encontrou o corpo do brasileiro. Naquele 1o de março apenas 14 pessoas arriscaram a subida, o tempo virou lá em cima, e o brasileiro escorregou, desaparecendo no nevoeiro. No mesmo dia, o mexicano Rodolfo Sarovich, 21 anos, também teve seu último dia na neve. “Acidentes fatais são muito raros. Antes deles só aconteceram duas mortes, em 1995, as duas por parada cardíaca”, diz o coordenador de turismo da prefeitura, Alain Granson. Segundo ele, as agências eram regulamentadas e tinham equipamentos vistoriados. Mas a Justiça ainda investiga o caso. “Felipe tropeçou e, ao escorregar, soltou a piqueta que deveria fincar na neve”, justifica Eugenio Benavente, diretor da agência Patagônia Adventure, que conduzia o brasileiro.

O grupo de escaladores nas neves eternas do Villarrica, Pucón (Chile)

O grupo de escaladores nas neves eternas do Villarrica – Foto: Cris Capuano

Para explorar a montanha sem riscos, você também pode fazer sua parte, respeitando as regras de segurança instruídas na subida, levando um bom lanche de trilha e, claro, escolhendo direitinho a sua agência de aventura, já que todas têm preços similares (entre US$ 70 e US$ 100, com traslado e equipamentos). Boas opções são a pioneira Sol y Nieve (Calle Lincoyam, 261, 56-45/444- 761, solynievepucon.cl) e a Aguaventura (Calle Palguín, 336, 56-45/444-246, aguaventura.com), que também aluga equipamentos para quem esquia. É importante questionar sobre a experiência do guia, as condições climáticas e o tamanho do grupo, que não deve ultrapassar seis pessoas por guia e assistente. Sentindo firmeza, siga em frente. E para cima. Uma boa notícia: a descida é mais rápida e suave, com trechos divertidos de esquibunda.

Depois do teleférico, a trilha leva uma hora até a primeira base, Capilla, que já tem vistas acachapantes das montanhas e dos lagos lá embaixo. Dali é uma boa pernada até a pinguinera, geleira entre 2 200 e 2 400 metros de altitude, um cenário azul e branco surreal que deve ser vencido com crampones nas botas e piqueta firme. Minha mochila já não tinha metade do lanche de trilha, mas tudo parecia pesar 1 tonelada quando chegamos ao último trecho, uma subida radical entre pedras empilhadas umas nas outras. Eu me apoiava onde dava, sem saber se a dor estava no joelho ou na bolha recém-adquirida. Pensava sobre o que faz alguns homens dedicarem suas vidas às montanhas quando alcancei a cratera de 200 metros de diâmetro. A fumaça mete medo. E o cheiro forte de enxofre deixa o lugar carregado de gases tóxicos que queimam as narinas e dificultam ainda mais a respiração no ambiente de ar rarefeito. Mas o topo da minha conquista era vasto, um panorama de 360 graus de mais montanhas, mais lagos e os outros tantos vulcões. Em homenagem à fumarola, tomamos um mate lá em cima. E, em homenagem a Pacha Mama, a deidade máxima de toda a cordilheira dos Andes, derrubamos um gole de vinho antes de voltar a Pucón.

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Terra da aventura

Uma linha do tempo sumaríssima de Pucón pode começar no século 19, com a chegada dos imigrantes alemães àquela região despovoada. Eles introduziram as trutas salmonadas, tão comuns hoje nos rios gelados, rios que os turistas percorrem em caiaques ou botes de rafting. Como destino de pescadores de fim de semana, Pucón apareceu no mapa dos viajantes quase simultaneamente à inauguração do emblemático Gran Hotel Pucon (56-45/913-300, granhotelpucon.com; diárias desde US$ 110, com passe do centro de esqui incluído; Cc: A, D, M, V).

Para os chilenos, a alta temporada é o verão, quando eles podem curtir as praias de areia negra do Lago Villarrica. Mas para os brasileiros a pedida é mesmo agora: no inverno os casais curtem da onda natureba do hostel ¡École! (Calle General Urrutia, 592, 56-45/441-675, ecole.cl; Cc: A, D, M, V; diárias desde US$ 60 em quarto privativo) às linhas à la Bauhaus dos chalés do Antumalal (Estrada Pucón- Villarrica, km 2, 56-45/441-011, antumalal.com; diárias desde US$ 279; Cc: A, D, M, V). Durante o dia, os cafés da Rua Frésia ficam vazios: os clientes estão descendo o vulcão, subindo o vulcão e ainda arranjam tempo de pedalar até as cascatas dos Ojos de Caburga ou caminhar entre as coníferas do Santuário Natural Cañi (em Pichares, 21 km, santuariocani.cl; US$ 6) e do Parque Nacional Huerquehue (em Pailaco, 135 km, conaf.cl; US$ 9). De noite, Pucón abre seu cassino. Mas a balada acontece em Los Pozones, a 35 quilômetros, a única entre as muitas termas naturais que funciona 24 horas. Se estiver a dois, você pode preferir as lindas Termas Geométricas (em Coñaripe, 56-99/422-5420, termasgeometricas.cl, US$ 60, com entrada e traslado), a 77 quilômetros. A água a 40 graus é um regalo do Cordão de Fogo do Pacífico – talvez você se lembre dessa aula no cursinho. O mesmo que faz a fumarola subir todo dia.

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