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Praticando o desapego

Cenário: tarde de primavera em Lisboa, Elevador de Santa Justa. Personagens: meu marido, meu pai e eu. CENA 1 Aquele era o meu segundo dia em Lisboa, e eu tinha o firme plano de registrar aquela viagem pela lente do iPhone. Tirei a primeira foto do dia e pensei que, na primeira oportunidade, conectaria ao wi-fi […]

Por Ana Claudia Crispim
Atualizado em 27 fev 2017, 15h39 - Publicado em 26 mar 2014, 00h57

Cenário: tarde de primavera em Lisboa, Elevador de Santa Justa. Personagens: meu marido, meu pai e eu.

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CENA 1
Aquele era o meu segundo dia em Lisboa, e eu tinha o firme plano de registrar aquela viagem pela lente do iPhone. Tirei a primeira foto do dia e pensei que, na primeira oportunidade, conectaria ao wi-fi de um café e postaria a imagem com algum comentário (besta, agora percebo). Talvez até checasse e-mails e olhasse, mais uma vez, todas as fotos tiradas no dia anterior. E comeria, quase sem perceber, um pastel de nata.

CENA 2
Acordo do meu devaneio com um moço me pedindo para fotografá-lo com sua câmera. Tirei a foto no capricho e, em retribuição, ele surrupiou meu iPhone da bolsa. Eu sabia da existência dos mãos-leves, mas, como disse meu marido, “dei mole”. Chorei, me desesperei como se tivesse perdido um ente querido e me senti uma turista comum. Como se não fosse.

CENA 3
Dormi e acordei pensando se “ele”, o iPhone, estaria sentindo minha falta como eu sentia a dele. Meu dedos se mexiam no ar, navegando por uma tela imaginária, como se isso pudesse trazê-lo de volta. Três gotas de Rivotril agora seriam um bálsamo, pensei. Meu pai, com toda a simplicidade e a sabedoria que lhe são peculiares, me explicou, como se eu tivesse 5 anos novamente, que aquele era realmente um objeto valioso e muito útil, mas não era a minha vida. Aceitei o puxão de orelha e aproveitei para abandonar também o notebook. Mergulhei no desconhecido mundo sem conectividade. Tomamos café e conversamos como havia tempos não fazíamos.

CENA 4
Com o passar dos dias, fui melhorando e percebi que, na falta de “ter o que fazer” durante as paradas – que eu gastaria postando, curtindo, comentando –, dediquei-me a de fato curtir o vaivém em pracinhas e cafés, conversei mais com desconhecidos, assisti com meu pai, noveleiro, ao remake de Dancin’ Days. A tarefa de registrar a viagem ficou para o meu marido. Pra mim não foram apenas férias, foi um detox.

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Ana Claudia Crispim: comprou um aparelhinho novo e já precisa renovar o detox.

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Para ver fotos de viagens, siga-me no Instagram: @anaclaudiacrispim

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