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Porta de entrada da Colômbia, Bogotá é acolhedora e hipster

De dia e de noite, na garoa e na altitude, a capital exibe sua vivacidade no boom gastronômico, na mobilidade exemplar, nos museus, no grafite...

Por Felipe Mortara
Atualizado em 11 fev 2020, 14h44 - Publicado em 26 Maio 2017, 11h58

Atualizado em fevereiro de 2020

Frio. Chuvisco. Foi assim que Bogotá me recebeu, assim como recebe a todos o ano inteiro, com sua temperatura média de 14ºC – bem diferente da imagem genérica de uma Colômbia sempre solar e caribenha.

Precisava confirmar a linha que me levaria ao hotel no bairro conhecido como Zona Rosa, uma região cheia de bares, restaurantes e grifes famosas. Perguntei a um senhor que também esperava o coletivo. E ele não apenas me indicou a linha como deixou o seu ônibus passar para não me “deixar desacompanhado”.

Gesto solidário que não causa surpresa aos turistas que colecionam histórias sobre a fraternidade do povo colombiano. Compreendi, então, que o altruísmo é inato aos nossos vizinhos do norte. Quem for à capital federal terá não só a chance de comprová-lo mas de descobrir outras dimensões que a tornam única.

Em estilo neogótico, a Catedral Primada, localizada na Plaza de Bolívar, foi declarada Monumento Nacional
Em estilo neogótico, a Catedral Primada, localizada na Plaza de Bolívar (Divulgação/Divulgação)

Até a Forbes americana incluiu Bogotá entre as melhores cidades para se visitar em 2017 por causa do boom da gastronomia criativa e da oferta de hotéis e museus. E pensar que os 7 milhões de bogotanos já sofreram demais com a brutalidade – ao ponto de, em 2001, a seleção argentina se recusar a disputar a Copa América lá.

A revolução começou em 2000 com soluções que transformaram a mobilidade urbana e, claro, a qualidade de vida dos moradores. A inauguração do TransMilenio, um dos mais extensos sistemas de BRT (bus rapid transit) do mundo, tornou vantajoso se deslocar de ônibus. A passagem custa 2 000 pesos colombianos (COP), uns 2,16 reais, e dá direito a viagens contínuas durante o dia.

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Bogotá tem também 440 quilômetros de ciclovias em 30 rotas específicas, que, aos domingos e feriados, se somam a outros 120 quilômetros graças às avenidas fechadas para carros. E a tarifa dos táxis é feita por quilômetro percorrido, o que barateia a vida – mas a maioria da frota, é bom dizer, está em estado precário.

Bogotá, Colômbia
Bikers fazem a festa em 30 boas ciclovias (Shueh Chyan Phang/Eyeem/Getty Images)

Garantir e facilitar o sagrado direito de ir e vir são essenciais em Bogotá. A cidade é imensa, com um mar de construções em tom de terracota. Por sorte, o filé turístico fica em uma área em torno da Carrera 7, em ruas que seguem ordem numérica.

Para viajantes, é de bom tamanho saber o seguinte: La Macarena é o bairro boêmio e, logo, eleito pelos intelectuais (que vão a bares como o Tapas Macarena, com sangria e jazz); na Zona G ficam os restaurantes top; a Zona T/Rosa é boa para fazer compras; e os arredores do Parque de la 93 reserva boa oferta de hotéis.

Sabendo disso, o viajante está livre para se jogar em um dos ouros dessa cidade: a comida boa. Bogotá tem uma crescente faceta gourmetizada, a de capital da gastronomia – chancela dada por prêmios como o prestigiado Latin America’s 50 Best Restaurants, que elege os melhores latinos.

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Já estiveram na lista estrelados inventivos como Leo Cocina y Cava, em La Macarena, Criterion, Harry Sasson e ElCielo, os três últimos na Zona G.

Restaurante Criterion, Bogotá, Colômbia
Menu degustação do Criterion (Criterion/Divulgação)

Também merecem os holofotes os jantares em sete etapas no Villanos en Bermudas. Coisa fina, coisa boa. O Prudencia, na Candelária, é daqueles que produzem tudo em fazenda própria.

Restaurante Villanos en Bermudas, Bogotá, Colômbia
Jantares em sete etapas do novidadeiro Villanos en Bermudas (Discubrecolombia/Flickr)
Restaurante El Cielo, Bogotá, Colômbia
A entrada do festejado restaurante ElCielo (El Cielo/Divulgação)
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Na rua, barracas exalam cuajadas (queijo no melaço de cana), arepas (tortilla de massa de milho) e as dulcíssimas obleas (wafers recheados com doce de leite ou outras gostosuras).

Com preço convidativo, há uma extensa lista de lendas culinárias locais. Delícias como o ajiaco santafereño, uma sopa com três tipos de batata, milho, frango, arroz, abacate e guascaz, hortaliça parecida com o espinafre. Ou os frijoles rancheros: prato com arroz, feijão, bacon, patacones (banana-da-terra frita) e chorizo.

O melhor custo/benefício se encontra no centro velho, na rua do Museu Botero, onde está o La Puerta de la Catedral, restaurante da dona Aura, ou o Las Acacias.

Em meio a tantas possibilidades calóricas nesse cenário montanhoso dos Andes, a cidade estimula as pernadas. Às vezes só o chá de coca atenua os efeitos dos 2 640 metros de altitude, às vezes a arte faz isso.

Respira-se melhor no Parque Simón Bolívar, o Central Park deles. Depois, desça pela Candelária, que lembra muito o centro velho paulistano, local de fundação bogotana, em 1538.

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Grafite na Candelária, Bogotá, Colômbia
Grafites como este, na Candelária, dão o tom moderno à cidade (Thomas Linkel / Laif/Reprodução)

A Plaza del Chorro de Quevedo tem uma fonte rodeada por casinhas brancas. É uma região cheia de muros grafitados, que dão um tom mais modernoso ao aspecto geral. Vague por suas ruas irregulares que ainda preservam o calçamento original, como a Calle de las Violetas – mas evite circular à noite por ali.

Eleita a Capital Mundial do Livro pela Unesco, Bogotá tem bibliotecas blockbusters por sua arquitetura arrojada e atividades cults. A Luis Ángel Arango, por exemplo, é um centro cultural que ocupa dois quarteirões repletos de acontecimentos ligados às artes plásticas.

Biblioteca Luis Ángel Arango, Bogotá, Colômbia
Exposição na Luis Ángel Arango, uma das arrojadas bibliotecas de Bogotá (Luis Ángel Arango/Divulgação)

Logo ao lado está o gratuito Museo Botero, também na Calle 11, que abriga Picassos e telas e esculturas rechonchudas do artista colombiano, como Mona Lisa e Muerte de Pablo Escobar. O complexo inclui ainda museus de arte contemporânea e numismática.

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Museu Botero, Bogotá, Colômbia
O Museu Botero é um passeio obrigatório (Museu Botero/Divulgação)

Continue descendo pela Calle 11, da Casa de la Moneda, até desembocar na Plaza de Bolívar, onde a estátua em memória a El Libertador resiste cercada de edifícios históricos. Contemple a Catedral Primada da Colômbia, o Capitólio Nacional, o Palácio de Justiça. Aos domingos, a praça é QG de jovens, famílias, turistas. E de pombas, muitas.

Catedral Primada, Plaza de Bolívar, Bogotá, Colômbia
As torres da Catedral Primada, na Plaza de Bolívar (John Colleti/Getty Images)

Depois, uma flagrada no Teatro Colón, na Calle 10, vai lhe exibir um mix dos teatros Garnier de Paris e Alla Scala de Milão. Já na Calle 16 está o magnífico Museo del Oro. É “apenas” o maior do mundo entre seus pares.

Noite adentro, Bogotá é pulsante. A rumba, sinônimo de balada para os colombianos, rola solta em regiões como Usaquén e Zona Rosa, que concentram bares, restaurantes e casas noturnas. Ali fica bem claro o quão chévere (legal) Bogotá é. Entre os agitos, o Armando Records atraem moderninhos ao som de DJs e bandas locais.

Por supuesto, desfecho indispensável é o Cerro de Monserrate. Dá pra chegar lá de funicular ou de teleférico. É o centro de peregrinação mais importante do país. Sobe-se 3 160 metros para conferir um amplo panorama andino – e marrom, considerando as construções lá de cima.

Teleférico do Cerro de Monserrate. Bogotá, Colômbia
Teleférico a caminho do Cerro de Monserrate – tente ver o pôr do sol de lá (João Carlos Medau / Colombia Travel/Reprodução)

Prefira o entardecer, quando o pôr do sol tinge a urbe com cores suaves. Lá no topo tem uma igreja, um restaurante e um poço dos desejos. Está aí uma chance de oferecer alguma moeda a um irmão colombiano que estiver por ali para que lhe dê sorte, com mucho gusto.

Texto publicado na edição 257 da revista Viagem e Turismo (março/2017)

 

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