Há dois caminhos para chegar ao Parque Nacional Zion: um é de alto impacto, e o outro é vertiginoso. O jeito mais rápido para quem está em Las Vegas consiste em pegar a autopista 15, depois a rodovia 9 já no estado de Utah e seguir as placas para a cidade de Springdale.
Ao avistar o asfalto vermelho-escuro, restaurantes e lojinhas que vão surgindo esparsos nos dois lados da estrada, tudo isso coroado por uma fileira de montanhas de tons que vão do branco ao vermelho, você terá chegado a Zion, pela entrada sul, com alto impacto.
Já quem vier do Parque Nacional Bryce, ao norte de Utah, pela mesma estrada 9, entrando pela portaria leste, também notará que o asfalto mudará para vermelho, mas com um detalhe: as montanhas, que em Springdale se veem ao longe, estarão perto, coladas à estrada; mais do que coladas, você adentrará uma delas com carro e tudo por um túnel escavado na rocha. Com um olho na estrada e outro pra cima, fui notando que alguns monólitos iam ficando maiores e profundos. Sim, é como se as rochas ao lado da estrada não parassem de crescer. E a viagem vertical para Zion estava só começando.
O parque impressiona por sua fotogenia e sua variedade de cores. Alguns paredões têm tantos tons de vermelho que parecem ter sido pintados por um Mark Rothko ancestral. Os colonos mórmons que habitaram a região em 1850 acreditaram ter encontrado a terra prometida e batizaram muitas formações com alcunhas do tipo Great White Throne (Grande Trono Branco), Altar of Sacrifice (Altar do Sacrifício) e Angels Landing (Pouso do Anjos). E foi este último que eu encarei após passar pela guarita do parque, embarcar em um ônibus no centro de visitantes e descer no ponto The Grotto.
Angels Landing é uma das montanhas mais famosas dentre os parques nacionais americanos. Seu cume revela uma vista completa e vertiginosa do cânion, a 453 metros do chão (o Pão de Açúcar tem 396 metros de altura). Ida e volta são 8,7 quilômetros percorríveis em umas quatro horas. Dentre as 18 trilhas do parque, esta é considerada strenuous, ou seja, casca-grossa. Não é recomendável para crianças nem para quem tem fobia de altura. Na primeira hora de trilha as curvas são suaves e já deixam revelar uma sequência linda de montanhas.
Se o passeio acabasse ali, estaria de bom tamanho, mas eu ainda estava na metade. Após um longo corredor entre as rochas, a trilha começa a fazer um ziguezague montanha acima que parece interminável; mas, depois contei, eram 20. E, quando você pensa que chegou, porque a vista já é de cair o queixo, ainda tem pelo menos meia hora pela crista, um pico estreito de onde se vê, de um lado e de outro, precipício. A depender dos níveis de serotonina do caminhante, flertar com o abismo pode ser lindo, apavorante ou tentador.
Menos mau que para fazer a travessia até o cume existem correntes chumbadas na rocha que servem como corrimão. Faltava pouco, mas minhas pernas tremiam de cansaço e eu já estava feliz o suficiente naqueles bons 400 metros acima do chão. Sim, eu amarelei sem medo de contar aqui e peguei o caminho de volta, satisfeito.
Mais pé no chão, mas não menos aventureiro, é o passeio mais famoso de Zion, The Narrows, esse sim para a família toda (que goste de se molhar). Trata-se de um corredor por onde corre o Rio Virgin, ladeado por rochas de até 30 metros de altura que se estendem por 25 quilômetros. Em alguns trechos a largura entre as paredes alcança a marca dos 6 metros. Para chegar ao início da trilha, é preciso embarcar em um ônibus no centro de visitantes, descer no ponto Temple of Sinawava e andar 1,5 quilômetro por um caminho pavimentado que termina na água.
A trilha é o próprio leito do rio, que na maior parte do tempo não sobe mais do que o joelho. Vale investir, ainda que não seja fundamental, no aluguel de botas para andar na água, meias de neoprene e um cajado, que podem ser locados na Zion Outfitters, no centro de visitantes. O calçado não impede que pés encharquem, mas, por ser firme, dá estabilidade na hora de se equilibrar nas pedras.
Não há um ponto de chegada no passeio pelos Narrows, então a qualquer momento é possível dar meia-volta, volver. A maioria dos andarilhos gosta de seguir pelo menos até o trecho conhecido por Wall Street, estreito e sinuoso. Por ser o passeio mais famoso e família de Zion, lota, principalmente a partir das 11 horas. Os que descem do ônibus no início da trilha, lá pelas 8, pegam menos muvuca e contemplam mais, principalmente no auge do verão, em julho e agosto.
LITTLE HOLLYWOOD: A pequena Kanab desponta como cenário de filmes do Velho Oeste
O que Buffalo Bill, The Flintstones, A Maior História de Todos os Tempos, No Tempo das Diligências, Os Três Sargentos e Exorcista II têm em comum? Todos são filmes rodados nas proximidades de Kanab, cidade com pouco mais de 4 mil habitantes que está a 56 quilômetros de Zion.
Apelidada de Little Hollywood, a região serviu de cenário para mais de 100 produções, entre filmes, documentários e séries de TV como Daniel Boone e Cavaleiro Solitário. A cidade capitalizou bem a fama e faz todos os anos, em agosto, uma festa para celebrar o legado dos filmes western rodados ali. O ponto alto é o encontro do público com os atores, a maioria ilustres desconhecidos. Ou você conhece Robert Fuller, Roberta Shore e Darby Hinton?
Mas em Kanab eles são celebridades e dão autógrafos aos fãs. Algumas delas, com cabelo branco o suficiente para não dar a mínima para as invejosas, sentam no colinho do ator na hora de tirar uma foto. Andar pela cidade é quase como estar em um filme do Velho Oeste.
Durante a festa acontecem shows de música country, homens vestem roupas de caubói e andam armados – mulheres, idem, só que elas escondem a pistola em bolsas com cores cheguei que têm um bolso na lateral feito especialmente para esse fim. No hotel Parry Lodge, você pode dormir no mesmo quarto em que John Wayne e Clint Eastwood dormiram enquanto filmavam na região. Veja informações sobre a festa aqui.
Aproveite as distâncias para também conhecer os parques nacionais de Bryce e do Grand Canyon, o Monument Valley, o Antelope Canyon e o Horseshoe Bend e a cidade de Sedona.
Guia VT
DE VEGAS PRA LÁ
Não há serviço de ônibus conectando os dois destinos, mas você pode embarcar em uma van no aeroporto de Vegas que leva a Zion em três horas. Veja mais informações no St George Express.
COMO CIRCULAR
De abril a novembro Zion tem uma linha de ônibus que circula dentro do parque, segue por Springdale e é gratuita para quem tem o ingresso. Veículos pagam US$ 35 por até sete dias; pedestres, US$ 20. Mais informações aqui.
FICAR
O hotel Cable Mountain Lodge fica ao lado da portaria do parque nacional. Outra opção é o Hampton Inn & Suites. Dentro do parque, só o Zion National Park Lodge.
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COMER
No Oscar’s Café, os pratos são fartos e valem a espera. No Switchback, mais formal, pergunte pelo peixe do dia.