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Nunca foi tão barato ir – o melhor restaurante

Na Dinamarca está o Noma, o melhor restaurante do mundo

Por Miguel Santos
Atualizado em 16 dez 2016, 09h14 - Publicado em 13 set 2011, 16h45

Manifesto profunda admiração pelos nórdicos, países e pessoas. Talvez por representarem o oposto idiossincrático do ser português – profundamente latino nas coisas boas; abjectamente latino nas coisas más. Gosto da vanglória social, técnica e artística sempre encarada com desarmante humildade. O dinamarquês Noma (Strandgade, 93, 45/3296-3297, www.noma.dk; reservas para novembro em diante; menu fixo desde € 101; Cc: todos) é isso: a excelência da depuração. Não a depuração pornográfica, plástica, evidente. Mas a orgânica, a que irradia calor, apesar do branco.

A localização é perfeita, próximo a um dos canais. Um antigo armazém, com ar de estiva, de simplicidade aterradora. Belo. A sintonia perfeita entre o passado de sal e o presente de mel.

Para não ser acusado pela desnutrição de meu companheiro de jornada, optei por um menu degustação. Sabem como é: traz prato, leva prato, traz prato, leva prato. Fui ingênuo. Pensei que o conseguia encher como o cozido à portuguesa pelo qual ele suspirava. Perdoe-lhe. O meu amigo Pedro é assim. Não interessa se é branco ou tinto; para ele, tem é que ser cheio. Mas é bom rapaz!

Para começo, o nirvana. Navalhas envolvidas por uma fina gelatina de espinafre e granizado de rábano. Tudo regado com um caldo de bivalves, talvez mexilhões. Sublime a intensidade de sabores.

A seguir, um lombo fresco, com verduras e purê de agrião. Combinação simples, equilibrada. Recordo o frescor do bacalhau. De meter inveja ao que em Portugal se vende. Nessa fase, pensava eu que tinha amestrado o Pedro. Ledo engano.

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Castanhas laminadas, quase hóstias, quais trufas brancas, brotos de agrião e ovas de barbo. Como é possível que um produto abundante como a castanha do meu Trás-os-Montes possa atingir tal grau de sutileza? Aqui é só castanha assada, castanha cozida, castanha assada, castanha cozida.

Mas tinha de conseguir um prato de carne, senão ia ter que aturar para o resto da vida o Pedro:

– Peixe não puxa carroça. Podíamos ter ido ao turco da esquina comer um kebab.

Para minha salvação, eis que chega um lombo de rena com rodelas de aipo e maçã, guarnecido de uma aveludada gelatina quente. Amansou, mas não muito. Eu já tinha provado carne de rena, e gosto muito de carne de caça, mas macia, tenra e saborosa como essa eu nunca comi na vida. Foi tudo tão esplêndido que até passo por cima da sobremesa. Apenas regular.

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Confesso que não conhecia nem conheço a cozinha nórdica, e, como tal, não é por três parcos dias de incursão que me permito afirmar que o chef René Redzepi lidera a revolução gastronômica setentrional. Mas afianço, na minha humilde existência degustativa, que o Noma é uma experiência soberba. Foge do trapézio franco-italiano replicado no mundo. Do foie gras para lá, trufas para cá, dos lugares-comuns que grassam nas metrópoles do costume.

Ali está um verdadeiro bastião de convicções, bom gosto e simbiose com o local. Less is more. Nesse caso, definitivamente.

Hoje falei com o Pedro, contei-lhe que o Noma chegou ao Olimpo, tornou-se o restaurante número 1 da lista “50 Best” (em que sete dos dez primeiros são europeus), a mais importante do mundo. Não ligou. Devia estar a pensar no ensopado de borrego que comeu ontem à noite. Não o levem a mal, é bruto, mas é bom rapaz.

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