Abro o aplicativo da MK2 – minha cadeia favorita de cinema em Paris – e percebo que o filme que quero ver não está passando nas salas do Beaubourg, só no MK2 Bibliothèque. Um pouco longe, mas, quando me lembro de que ele fica nos prédios da Bibliothèque Nationale de France, parto pra lá todo animado. Já fiz reserva naquele novo restaurante japonês, o Soma, na Rue Saintong, no Marais.
Digamos que eu só bebi chá no Soma. O que significa, uma vez que já passa das 11 da noite, que eu posso tentar pegar uma taça no Chez Janou, ali na Rue Roger Verlomme. Estou feliz porque jantei bem! Mas ainda estou sem sono… Saio pela Rue de Rivoli, encaro mais algumas quadras até chegar ao “Marais profundo”, subindo pela Rue Vielle du Temple.
Olho de relance para o Au Petit Fer à Cheval, onde já comi em muitas noites de frio – mas isso foi antes de eu descobrir Brigitte. Nem tenho certeza de que esse é o nome dela. Mas é essa mulher que me serve sempre, tarde da noite, quando entro no La Belle Hortense, um dos últimos lugares a fechar nesse quarteirão tão boêmio. Ela tem sempre um ar cansado, mas nunca desanimado. Brigitte me cumprimenta com um misto de reconhecimento e desdém. E vou logo pedindo um Calvados.
Brigitte sabe que é isso o que eu vou tomar – é isso o que sempre peço –, mas se faz de desentendida. Nunca fiquei até o Belle Hortense fechar, mas sei que Brigitte só vai embora bem tarde. Quem me contou foi meu irmão, que um dia trouxe pra mim de lá uma garrafa de Calvados com uma dedicatória dela – uma fraca evidência de que seu nome é esse mesmo. Garrafa que, aliás, segue intocada na minha cozinha, como um troféu que não quero macular. Como todas as lembranças que guardo de Paris.
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Zeca Camargo é apresentador, jornalista e acaba de lançar o e-book Eu Ando pelo Mundo – Paris (editora e-galáxia) |
Texto publicado na edição 255 da revista Viagem e Turismo (janeiro/2017)