A pequena aventura de embarcar em uma van em Orlando sem saber o destino – em troca de US$ 100
O que você faria para economizar US$ 100? Para salvar esse cenzinho se você, por exemplo, já investiu mais de US$ 1 000 na compra de entradas nos parques de Orlando para a família? Eu e muitos outros brasileiros fizemos – e todo dia fazem – o seguinte: acordamos cedo, entramos numa van e tomamos um café da manhã com desconhecidos num hotel da cadeia Wyndham (das bandeiras Ramada, Tryp, entre outras). Antes de entrar, uma triagem na porta confere se trouxemos o passaporte e o cartão de crédito exigidos.
Um clima de mistério permeia o local. Como se estivéssemos para ser abduzidos, dopados e ter os rins subtraídos.
O propósito da visita em massa é ouvir uma proposta de compra de fractioning, a evolução do time sharing, mas isso só saberemos depois. Em vez de comprar dias de hospedagem em resorts pelo mundo com antecedência, vende-se agora um quarto de hotel, com escritura, e a possibilidade de usufruir diversos outros hotéis enquanto nosso quarto, doce quarto, recebe outros hóspedes.
Mais de 20 brasileiros estão ali para nos vender o peixe. Logo um deles nos convida à sua saleta e inicia a catequização.
A estratégia de persuasão é simples. Consiste em dizer que, se a gente já destina 10% de nossos proventos anuais às férias, por que não fazer isso sem pagar? Basta efetuar uma compra, que naquela fausta ocasião vai ter um superdesconto, contar com a valorização do ativo (“Dentro da Disney, batata!”), que pode ser revendido a qualquer momento, e usufruir da enorme rede da Wyndham no mundo. O negócio sairia em torno de US$ 60 000, o financiamento tinha juros “brasileiros” – um detalhe -, e uma equipe de tabeliães estava em outra sala para celebrar o negócio.
Diante de nossa negativa, o funcionário esfumaçou-se, fomos conduzidos a uma outra sala, um outro brasileiro nos perguntou a razão da negativa, e fomos finalmente deixados com nosso voucher para que uma van nos levasse ao Magic Kingdom, nosso destino do dia. Não engrossei a estatística, que, segundo o funcionário, é de uma venda a cada quatro “cafés”. Ainda não sei se estou arrependido.
Texto publicado na edição 226 da revista Viagem e Turismo (agosto/2014)