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Martha, my dear

Martha’s Vineyard, na Costa Leste americana, é a ilha onde Obama sai de chinelos e Paul McCartney curte as férias sem se preocupar com os fãs. Glamour, honey, glamour

Por Maria Tereza Gomes
Atualizado em 16 dez 2016, 09h13 - Publicado em 13 set 2011, 18h34

“What are you having for dinner, honey?”, perguntou Patricia Neal, com inesperada simpatia. Estávamos jantando no 2º andar do restaurante Nancy’s. Pela parede de vidro, víamos os iates ancorados no Church’s Pier, dividindo a paisagem com as casas vitorianas. A noite estava linda, e Geraldo se digladiava com uma lagosta enorme que havia sido servida intacta – e não aberta, como é hábito no Brasil. A briga estava difícil, mas ele limpou as mãos e respondeu sorrindo. Patricia olhou para mim e repetiu a pergunta. Eu comia um delicioso macarrão com frutos do mar, acompanhado de um chardonnay do Stag’s Leap Wine Cellars, da Califórnia. Satisfeita com as respostas, ela despediu-se e foi se sentar com os amigos. Ainda não sabíamos que uma ganhadora do Oscar de melhor atriz (em 1964, com O Indomado) havia puxado papo conosco. Dias antes do fechamento desta edição, Patricia morreu, em Vineyard, aos 84 anos.

Assim é Martha’s Vineyard, a ilha da aristocracia endinheirada da Nova Inglaterra. Onde Bill Clinton passou férias sete vezes enquanto estava na Presidência. Onde Paul McCartney, James Taylor e Carly Simon têm casa. Onde Barack Obama e família se refugiaram no verão de 2009. A ilha dos artistas, dos democratas, dos casarões vitorianos e dos casamentos aos pés dos faróis. Se você já se cansou da mesmice de Punta del Este, pense em Vineyard como seu próximo destino de veraneio. É muito, milhões de vezes mais chique.

Localizada ao sul do Cape Cod, entre Boston e Nova York, no estado de Massachusetts, Martha’s Vineyard é uma ilha com seis cidades: Edgartown, Oak Bluffs, Vineyard Haven, West Tisbury, Chilmark e Aquinnah. Somadas, elas têm 15 mil habitantes (73 mil no verão) e, como você verá adiante, dois de cada dez são nossos conterrâneos. Havíamos alugado um carro em Nova York e dirigido direto para Woods Hole, a 420 quilômetros, de onde sai o único ferry que transporta automóveis até a ilha. A travessia de 45 minutos é organizada, pontual e confortável. As primeiras imagens de Vineyard são das imensas casas de frente para o mar – qual delas seria a do Paul?

Descemos em Oak Bluffs. Estacionamos perto do centro e saímos em busca de um lugar para dormir nas duas próximas noites. A cidade é a preferida da juventude na alta estação, mas, como era fim de temporada, havia pouco movimento nas ruas. Escolhemos o Pequot Hotel, que existe há quase oito décadas. Uma linda afro-americana com trancinhas no cabelo fez o nosso check-in e nos explicou o que estava incluído na diária: garrafas d’água à vontade, café da manhã (chafé, muffins, pães e geleias) e lanche da tarde. Tudo por US$ 100. Para quem havia deixado Nova York pagando o triplo por um quarto do tamanho de um banheiro, estávamos no paraíso. Atenção: era fim de temporada. No verão, as diárias triplicam.

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Saímos a pé para jantar. Uma vez em Martha’s, você não precisa de carro. A maioria dos restaurantes, lojas e hotéis está concentrada nos centrinhos e arredores das cidades. Se quiser explorar a ilha, há táxi, ônibus e bikes para locação. Escolhemos o Oyster Bar Grill, na Circuit Avenue. A garçonete nos trouxe de couvert uma versão local do brasileiríssimo pão de queijo. A consistência era um pouco diferente, sem aquela liga, sabe? Talvez o polvilho não seja igual ao nosso, mas com certeza há um mineiro naquela cozinha. Não seria de estranhar. O primeiro brasileiro de que se tem notícia a aportar ali, em 1986, atende pelo nome de Lyndon Johnson Pereira, referência ao democrata que sucedeu John Kennedy na Casa Branca. Hoje são 3 mil os compatriotas, a grande maioria fazendo trabalhos braçais na construção civil, nos restaurantes e nas fazendas. Mas há quem tenha se dado muito bem, como o mineiro de Ipatinga Elio Silva, um próspero empresário, dono, entre outros estabelecimentos, da loja North Star, do Tisbury Farm Market e do mercado Vineyard Grocer.

Voltemos ao nosso passeio. Acordamos cedo, tomamos o café da pousada, pegamos o carro – sim, eu sei que escrevi que dá para se virar sem ele, mas o aluguel já estava pago, né? A meta era dar a volta na ilha em um dia, cerca de 80 quilômetros. Rumamos para Edgartown, a primeira das seis cidades, onde comprei uma camiseta com a data da fundação de Vineyard e da vila local: 1642. Lá, fico sabendo que a região foi muito rica em meados do século 19 por fornecer marinheiros, mantimentos e equipamentos para as embarcações de pesca de baleia. Hoje, a cidade está cheia de pousadas, lojas e restaurantes bacanas. Seu farol é um dos lugares preferidos para casamentos ao ar livre, com até três cerimônias no mesmo dia. Que mais sobre Edgartwon? É ali que Paul McCartney tem casa. 

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