Dia 1
Anos atrás, a fama do Harlem não era das melhores, culpa dos seus altos índices de criminalidade. Hoje, o famoso bairro fundado por imigrantes holandeses e símbolo da resistência afro-americana nos Estados Unidos tem um baita apelo turístico e fervilha no melhor estilo nova-iorquino: com música, arte e soul food.
9h: Off Central Park
Um dos mais antigos parques de Manhattan fica no coração do Harlem. O Marcus Garvey Park data da metade do século 19 e, desde então, seu espaço modesto é ponto de encontro dos moradores da região. Aproveitar a piscina pública e as fontes de água são as melhores opções para os dias quentes do verão, quando o moderno anfiteatro recebe shows de vários estilos musicais. Já as quadras de basquete ficam sempre cheias de jovens longilíneos o ano todo. A estação de metrô mais próxima é a da 125th Street.
11h: Rua de nome
Saia do parque pela W 124th Street, pegue a 5th Avenue e caia na Dr. Martin Luther King Jr. Boulevard. A rua que homenageia uma das grandes lideranças do movimento pelos direitos civis dos negros no país é a princial do bairro. Quem vive por ali já se preocupa com a gentrificação, mas os turistas aproveitam as lojas de departamento. Virando à esquerda, você passa pelo Studio Museum in Harlem, que apoia artistas afro-americanos, e pelo Apollo Theater – mas deixe esse ícone para a noite.
E, à direita da saída do parque, passa pela pizza econômica da 2 Bros Pizza e por prédios mezzo bonitos, mezzo monstrengos, como o da loja de antiguidades Demolition Depot. O mural super laranja Crack Is Wack fica perto, na Harlem River Drive com a 128th. Pintado nos anos 1980 pelo artista plástico Keith Haring, famoso pelos trabalhos psicodélicos e coloridos, segue bem conservado quase 30 anos depois da morte de seu autor.
12h30: Soul ou fast food
Sempre a pé, na direção sul, pela Lenox Avenue (também conhecida como Malcolm X Boulevard), você encontra dois ótimos lugares para almoçar. A primeira opção é o Sylvia’s Restaurant, consagrada casa para se provar a soul food, tradicional comida do sul americano. O lugar serve generosíssimas porções de costela e frango frito ou assado (as asinhas são imperdíveis), entre outras delícias.
Também tem um café da manhã reforçado, com ovos e/ou bacon ou salsicha – aos domingos, com música gospel ao vivo. Melhor reservar, porque está quase sempre lotado. Já o Harlem Shake fica na 124th, quase na esquina com a Lenox Avenue, e serve outro tipo de comida americana: suculentos hambúrgueres com batata frita. Vá de harlem classic (US$ 7), com queijo, cebola, picles molho da casa.
14h: Bora baixar o preço
Você encontra o Malcolm Shabazz Harlem Market , uma espécie de lado B das compras na Ilha de Manhattan, caminhando por dez minutos até a 116th Street. O local é o point certo para pechinchar e encontrar produtos étnicos, como roupas, instrumentos musicais, bolsas, bonés e acessórios em geral – os cunhados em prata são verdadeiros achados. O mercado fica em uma região conhecida como “Little Senegal”, então se prepare para encontrar produtos bem típicos de países do oeste africano.
15h30: Fé e cátedra
A Catedral de São João Divino fica a 20 minutos a pé do mercado (ou a 15 minutos, via ônibus M116; a parada mais próxima é na Manhattan Avenue). A maior catedral neogótica do mundo – data do século 19 – tem 14 cúpulas e um pé-direito gigante, que não fica devendo nada às construções do tipo na Europa. A pouco mais de 300 metros dali, está uma das mais bem conceituadas instituições de ensino do mundo, a Columbia University , que tem os ex-presidentes Barack Obama e Theodore e Franklin Roosevelt entre seus alunos ilustres.
A instituição se espalha por vários quarteirões do Harlem. Os jardins são destaque ao lado da Low Memorial Library, importante biblioteca americana cuja construção, inspirada no Pantheon romano, é um marco arquitetônico da cidade. Nos dias de sol, não há quem resista ao gramadão na frente do prédio.
17h: O urso e o fauno
Pegue a 116th Street sempre reto e cruze o Morningside Park – aproveite para dar uma olhada na pitoresca Fonte Bear and Faun, que repousa em meio à vegetação. À esquerda na Frederick Douglass Boulevard, fica a Levain Bakery, que faz um dos mais celebrados cookies da cidade (US$ 4 cada um), ainda mais deliciosos com café. A padaria também tem opções de pizza rústicas (vá de queijo de cabra com azeitonas), bolos simples e pães de aveia.
19h: História da arte
O Apollo Theater, icônico por dar espaço a artistas negros quando a segregação racial era lei no território americano, segue firme e forte após 100 anos. Antes de partir pra lá (os trens 2 e 3 passam perto dali, na 125th Station), consulte a programação. Tente assistir a uma Amateur Night, compre os ingressos no site. Essa noite temática acontece desde meados do século 20 e revelou artistas como Ella Fitzgerald, Jimi Hendrix e Jackson 5 – quando Michael Jackson tinha apenas 9 anos.
Dia 2
10h: De outros tempos
A Morris-Jumel Mansion, a mais antiga casa de Manhattan, fica na 65 Jumel Terrace, entre a 162th e a 160th Street, o que ultrapassa por pouco os limites do Harlem – o trem da linha C para na estação 163th, a mais próxima da construção. Mas vale dar um pulo lá antes de voltar ao bairro histórico. Desde o fim do século 18 em pé, a construção presenciou as mudanças radicais da ilha. O museu conserva as lembranças da cidade e é uma memorabilia da doméstica nova-iorquina de séculos atrás.
11h30: Fumacê
Pegue a Saint Nicholas Avenue na direção sul, mas, antes, desvie à esquerda pela 141th Street até a Broadway se quiser comprar um presentinho diferente. No 3456, você encontra a Papa Juan Cigar Room, que vende charutos da América Central. A loja fica abaixo do nível da calçada. Dá para pegar uma mesa e provar um exemplar ali mesmo ou comprar para levar. De lá, vá pela 140th, vire à direita e siga até a City College of New York , outra instituição de ensino de alta qualidade. O multidetalhado Shepard Hall é uma joia arquitetônica.
13h: Ainda mais alma
Já vá gastando as calorias que vai consumir no almoço na breve caminhada entre a 135th Street e a Frederick Douglass Boulevard (atravesse o Parque St. Nicholas para chegar mais rápido). Dito isso, aproveite, sem culpa, as delícias do Charles’ Country Pan Fried Chicken, casa também dedicada à soul food. Muito frequentado pelos locais, tem preços ótimos e um dos mais famosos frangos fritos de Manhattan – uma porção pra lá de generosa vem com dois acompanhamentos e sai por menos de 11 dólares.
14h: casas e tradições
A Strivers’ Row é o quarteirão mais elegante do Harlem (pela Frederick Douglass Boulevard, no sentido norte, são dez minutos a pé). Oficialmente, seu nome é St. Nicholas Historic District. A arquitetura sóbria e harmoniosa, com muito tijolo terracota e pedras à mostra, marca o trecho entre as 138th e a 139th Street.
As construções foram terminadas no final do século 19, e o público-alvo eram as famílias brancas. As vendas fracassaram por causa de uma crise econômica. A norma que vetava a negros a aquisição de residências naquela zona caiu só nos anos 1920 e, depois disso, a área passou a receber famílias afro-americanas ricas e influentes, como o músico W.C. Handy, considerado o pai do blues. Ainda hoje muitos artistas emergentes vivem por lá.
16h- Jazz: primeiro ato
O Museu Nacional do Jazz não poderia ficar em outro bairro nova-iorquino. Muito embora o ritmo não tenha propriamente nascido na cidade, em Nova York ele tomou fôlego para ganhar o mundo. Foi ali que Billie Holiday começou a cantar – entre os anos 1920 e 30, clubes de jazz se espalhavam por todo o Harlem. Performances ao vivo fazem parte da programação do museu, que conta com vasto acervo de áudio e vídeo e exposições temporárias. Fica no térreo do 58W da 129th Street. Bem ao lado, no 60W, o Lenox Coffee tem macchiatos, lattes e comidinhas para alegrar a tarde.
19h – Jazz: segundo ato
Quando em Nova York, não cometa o erro de não ir a nenhum clube de jazz. Uma casa ao estilo speakeasy, mas que não serve bebidas alcoólicas – os clientes, no entanto, podem levar as suas para consumir no local -, e que, às sextas, recebe o público para shows intimistas, é garantia de uma noite musical de sucesso.
O saxofonista Bill Saxton, nascido e criado no Harlem, abriu seu Bill’s Place ao lado da mulher, Theda Palmer Saxton, em 2006. A casa fica no 148W da 133rd Street, rua que, na época da Lei Seca americana, nos anos 1920 e 30, era cheia de locais fora da lei que vendiam bebidas ilegalmente. Os trens 2 e 3 são os que chegam mais perto dali, na 135rd Station.
Publicado na edição 264 da Revista Viagem e Turismo.