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Visitei uma das vinícolas mais famosas do Brasil – e foi sofrível

A visita à Villa Francioni, uma das vinícolas mais famosas do Brasil, parecia biscoito fino, mas afinal era vinagre – veja como foi a experiência

Por Paulo Vieira
Atualizado em 8 jan 2018, 17h03 - Publicado em 11 abr 2017, 15h31
Cachos de uvas em foco dentro de um vinhedo, com dezenas de árvores atrás. : como foi a péssima experiência de fazer o tour pela vinícola Villa Francioni, em São Joaquim (SC)
Sorte das uvas não terem ouvidos (Ramón Vasconcellos/Viagem e Turismo)
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Martinho Lutero disse que a “cerveja é feita pelo homem; o vinho, por Deus”. O papa João XXIII, que “homens são como vinho – uns viram vinagre, mas os melhores ganham com a idade”. Não faltam provérbios para cantar o vinho nem conversa fiada para embalar degustações que as muitas vinícolas fazem mundo afora: visitá-las vem se tornando um importante feature turístico.

Há gente que faça isso muito bem: a dramaturgia algo canastrã da Concha y Toro na hora de se abrir o Casillero del Diablo, em Santiago, e o escuro corredor que se abre para o jardim luminoso da Casa Valduga, na Serra Gaúcha, dificilmente são esquecidos. Mas há gente que faça isso muito mal. Como a Villa Francioni, que, paradoxalmente, produz excelentes vinhos com as chamadas uvas de altitude em São Joaquim, no sul de Santa Catarina.

O prédio, que tira proveito da gravidade no processo de produção da bebida, a beleza das videiras e a boa fama do vinho levam a acreditar que o tour que se seguirá é biscoito fino. Mas a visita, matadíssima, está mais para o vinagre de João XXIII. É difícil dizer o que é pior:

a) o fato de a taça não ser trocada na prova de três tintos;

b) a música sertaneja que toca sem cerimônia antes, durante e depois da visitação;

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c) a conversa francamente ignorante do guia, que joga pérolas como “ascensão do vinho no paladar” (seria absorção?) ou, num exemplo de harmonização heterodoxo, que ele, o guia, é “aderente à comida japonesa”.

As três razões poderiam eventualmente revelar mais o mau humor do visitante do que a imperícia do visitado, mas é mesmo muito difícil não se incomodar com o desleixo com que o tour é conduzido, sem qualquer resquício de solenidade, exceto a pior delas: o suposto falar difícil – e errado – de quem não entende nada.

Menos mal que haviam me dito que os 30 reais da visitação poderiam ser convertidos em vinho. Mas, como desgraça pouca é bobagem, havia nova política em curso. “Faz tempo que mudou”, disse outro funcionário. “Foi na semana passada.” A vida é muito curta para ouvir conversa ruim, mesmo que seja sobre vinho bom.

 

Esse texto foi publicado na edição 257 da revista Viagem e Turismo (março/2017)

 

Foto do autor do texto, Paulo Vieira
(Luchin Negrin/Viagem e Turismo)

 

Paulo Vieira é jornalista, editor do site Jornalistas Que Correm e é capaz de correr milhas para fugir de lero-lero.

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