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Eu mereço

Spa Week, promoções na internet e 300 endereços na cidade incorporam os spas à vida dos paulistanos. A VT experimentou quatro serviços para descrever as sensações e relaxar a reportagem, já que ninguém é de ferro

Por Viagem e Turismo
Atualizado em 16 dez 2016, 08h45 - Publicado em 5 mar 2012, 13h12

Realizada duas vezes por ano, a Spa Week chega à sua sexta edição entre os dias 14 e 28 de abril com tratamentos a R$ 70, oportunidade para mimar o corpo sem maltratar o bolso. “A preocupação com bem-estar está em voga entre os moradores das grandes cidades, mesmo os da classe média”, afirma Gustavo Albanesi, presidente da Associação Brasileira de Clínicas e spas. Apesar das terapias terem se tornado hit até dos sites de compras coletivas, engana-se quem pensa que o segmento abandonou sua casta original, como prova a inauguração do bacanudo Kennzur, na República do Líbano, há cinco meses. “Nos hotéis de luxo, por exemplo, esse tipo de serviço virou pré-requisito”, diz Albanesi. Para se entregar de corpo e alma ao tema, a equipe da VT experimentou macas, vivências e tratamentos de quatro spas de alto padrão da cidade, como você confere a seguir.

Experiência de aconchego

Por GABRIELA AGUERRE

Com um iPad na mão e um sorriso no rosto, a atendente me pergunta como está minha energia, se tenho dormido bem, se tenho repulsa a algum aroma, e qual. Uns toques na tela depois, ela dá o veredicto: “você precisa de um aconchego”. Aconchego, no caso, é um dos oito resultados possíveis que vão determinar a música, a cor do ambiente e o fluido com o qual serão feitas as massagens no Day Spa (R$ 666) que eu escolhi. Estou tomando um chá vermelho, pergunto do que é, aprendo que é um blend, palavra usada também para descrever a fragrância do meu perfil, um misto de cítricos e florais.

Meus pés estão imersos numa bacia de água quente e sais. A terapeuta massageia um e outro com vigor. Começo a esquecer de mim mesma. A seleção de adágios sai do iPod embutido na parede. Tiro o roupão e me entrego à “vivência encantamento”, que, na língua do spa Kennzur (Avenida República do Líbano, 577, 2348-1200), significa uma massagem de cabeça e face. Tão gostosa que dava vontade de retribuir, como um abraço.

Tudo pronto para o banho.

Já estou trajada com um biquíni descartável bacaninha. A hidro borbulha a mesma essência do aconchego. Recebo massagens nos ombros. Teria adormecido não fosse o ruído forte dos jatos.

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Então partimos para a “vivência desintoxicação”, mais conhecida como drenagem linfática. Lençolzinho, toalha aquecida, fluidos vão passeando por meu corpo como num balé à meia-luz. Já fazia três horas que estava entregue. Para finalizar, no jardim, servem-me um cacho de uvas sem sementes, dois pêssegos e uma jarra de água de coco gelada.

Do solarium, que visito por curiosidade, veem-se a pista de cooper e o Lago do Ibirapuera, como se o parque fosse uma continuidade do spa. Penso no conto A Continuidade dos Parques, de Cortázar. Mas minha mente se fixa em pensamentos de miss. Me flagro pensando na paz mundial. Seria bom que mais gente pudesse se dar um dia, ou um aconchego, como este de presente.

Lost in translation

Por PAULO VIEIRA

O quarto andar do cinco-estrelas Tivoli Mofarrej parece uma entidade à parte no arranha-céu. Ali está o Elements Spa (Alameda Santos, 1437, 3146-6420), franquia da escola tailandesa de massagens Banyan Tree, onde tudo é feito para transportar o cliente para fora do tempo e do espaço – e do hotel. A gentileza e a cerimônia são cultivadas com tanto afinco, imagino, quanto o conhecimento das técnicas. Não me admiraria se fosse treinada como gueixa a recepcionista de voz baixa e um sorriso tão doce que soa natural.

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O casting ajuda. Quem me aplicou a back massage (R$ 192) foi Rio, uma indonésia de 26 anos com bom inglês de acento oriental que muito contribuía para referendar a imagem Madame Butterfly da minha mente. Dos 60 minutos da sessão, 30 são dedicados a um aquecimento. Rio acomoda meus pés sobre a banqueta, me oferece incenso, me estimula a reavaliar a escolha pelo de bergamota, sugere que eu tome meu lugar na maca.

Eu poderia me estender sobre o menu do Elements, mas tendo a achar que nos spas urbanos e de resorts o mais importante é o lado indulgence. Se minhas costas permaneceram tensas, nenhum demérito de Rio. Ela estava lá para que eu vivesse aquele teatro contra o relógio, e não que saísse curado dos meus bicos de papagaio. Rio se despede e me deixa numa sala com uma chávena de chá e fatias de abacaxi e melão. É um momento tremendamente solitário e tremendamente triste.

Paravertebrais

Por FERNANDO SOUZA

Com longa história em drenagem linfática, o Spa Hara (Avenida Europa, 140, 3067-5555) já atendeu gente como Hebe Camargo, Ellen Roche e Val Marchiori, rélou! As mulheres a-tóóó-ram esse tratamento, mas eu ignorei a redução de medidas e preferi agendar a massagem terapêutica (R$ 206). Assim que cheguei à recepção iluminada por pesados lustres de cristal, senti-me em um reduto de madames. No pátio cercado por palmeiras, sete pequenos bangalôs recriam um ambiente asiático, em contraste com o concreto extramuros. Um deque encobre todo o lago de carpas. Michela Funayama, a fisioterapeuta, me esperava no bangalô. Minuto depois eu já estava deitado de bruços na maca quentinha, com o rosto encaixado no suporte, encarando um buraco no deque. Efeito das primeiras ficções na planta do pé, sorri para a carpa que passava. Michela apertou, amassou, circulou.

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Com os polegares, rimou maravilha com panturrilha. Chegou às coxas e escalou as costas como se um bicho caminhasse por dentro da pele. Encontrou um ponto de tensão nas “paravertebrais”, ela me diria depois. Da próxima vez que eu ouvir: “vai ser no bangalô com a Michela”, vou elevar minhas expectativas.

À Provence

Por JÚLIA GOUVEIA

Não preciso de muitos argumentos (nenhum, na verdade) para ser convencida a aceitar uma massagem. Mas escolhi especificamente o Spa L’Occitane (Rua Bela Cintra, 2023, 3088-9008) por um motivo bem mulherzinha: quem não é fã dos cosméticos da marca? Os óleos de lavanda, o perfume de baunilha, os cremes de verbena… o spa, que fica dentro da flagshipstore da rede, segue a filosofia de bem-estar associado à natureza da matriz, na Provence, no sul da França. Para personalizar minha massagem, preenchi uma ficha em que apontei o grau de pressão desejado, a presença de alguma dor, meus cuidados com a pele. Ao chegar a uma das seis salas, à meia-luz, a terapeuta Alice começou o ritual de boas-vindas: com uma água morninha, ela lavou meus pés com sais de banho. Dos três tipos de tratamento, optei pelo relaxante (R$ 180, 60 minutos), mas fui enfática: “Bota pressão aí, Alice!” Logo o aroma do óleo de lavanda invadiu o ambiente, e a maca, de tão macia, virou um convite à soneca. De repente senti que Alice encontrara um nódulo de tensão no pescoço. Obstinada, ela apertou, amassou, esfregou. Ao fim da sessão, uma surpresa: clientes das 11 às 15 horas ganham salada e suco da padaria PÃO, vizinha ao spa. Adorei, mas não me incomodaria de levar umas amostrinhas da L’Occitane.

Leia mais:

Março de 2012 – Edição 197

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Spa, doce spa

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