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Como o Festival de Lanternas não foi nada do que eu esperava

A paisagem onírica que enfeita o fundo de tela dos computadores existe, mas ela vem com a realidade

Por Victor Gouvêa
18 Maio 2017, 13h36
A Tailândia em comunhão - só que não. (Tanachot/iStock)
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Acho que a primeira lembrança do Festival de Lanternas de Chiang Mai, na Tailândia, foi o fundo de tela do Windows 2000. Aquele molecote se encantou com os minibalões iluminando o céu, e decidiu que um dia seria ele a tocar fogo em um à beira do Rio Ping. Corta para 2016.

Sabe, aquele deve ter sido um fundo de tela popular. Revoadas de turistas embarcavam comigo no trem que leva nove horas de Bangkok a Chiang Mai. Na estação de chegada, o preço do tuk-tuk para cruzar a cidade, que deveria custar uma pata de frango no mercado, já valia um jantar completo em troca de alguns quarteirões.

No segundo dia, quando o sol vai embora é que a magia acontece. Turistas do mundo todo tomam as ruas em direção à Ponte Nawarat, de onde as lanternas são soltas, e a coisa fica engraçada. Como acontece na micareta do Chiclete em Salvador, com um calor de 31 graus à noite, as leis da física são desafiadas e corpos passam a ocupar o mesmo lugar.

Se você pensa que a ponte é fechada para carros, se enganou. Tudo ocorre em meio a motos e tuk-tuks – até uma ambulância passou. E aí, no meio desse caos, todo mundo quer a mesma coisa: acender a maldita lanterna e soltar. E gravar vídeo. E tirar selfie. O sentido original de gratidão a Buda já foi pelos ares junto com as primeiras lanternas.

Ouço uma brasileira berrar pro marido: “Solta logo isso daí, Jorge!” (suprimi um palavrão ou dois). Jorge, por sua vez, com a camisa empapuçada de suor, lutava com o isqueiro e um espanhol bêbado para alçar sua lanterna aos céus.

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Passa um tio vendendo sorvete, e todos estamos ali tão unidos que me lembro da música do Chico em que ele confunde as pernas com as da amada. A única diferença é que eu não amava ninguém naquela multidão, bem pelo contrário.

De repente, olho pro alto e, abstraindo ou inebriado pelo monóxido de carbono das motos, vejo as lanternas subindo calmamente, como se fossem centenas de águas-vivas bailando em um mar de escuridão. Não sei ao certo se uma lágrima ou uma gota de suor escorreu pelo rosto naquele momento. É mesmo bonito de doer.

 

Victor Gouvêa
(Victor Gouvêa/Divulgação)

 

 

 

Victor Gouvêa é jornalista e viu por si mesmo que a muvuca de Maya Bay, a praia do filme do DiCaprio, não é coisa de cinema

Texto publicado na edição 256 da revista Viagem e Turismo (fevereiro/2017)

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