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Colômbia: praias, cidades coloniais, capital cool, povo gentil

Saiba como é a Colômbia, país que está só a um punhado de milhas de distância

Por Betina Neves
Atualizado em 25 jun 2019, 15h55 - Publicado em 21 mar 2013, 15h24
O Museu Botero, em Bogotá, é um passeio obrigatório (Museu Botero/Divulgação)
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Até meados da década de 1990, a Colômbia era um espaço interditado no mapa da América do Sul. Dominada pelo narcotráfico e acometida por sequestros de civis em série, ela só tinha interesse turístico para quem gostava de visitar países em conflito. Depois de uma empenhada e vitoriosa luta contra a violência, o cenário mudou drasticamente. Hoje, com o turismo a todo vapor (o número de visitantes internacionais tem aumentado em mais de 100 mil por ano desde 2008), a Colômbia brilha com sua paisagem natural multifacetada, suas cidades modernas, suas vilas coloniais e sua cultura fervilhante – tudo com muita segurança. Veja, a seguir, 23 razões para conhecer e entrar no clima do país vizinho e brindar com ele sua empolgante reviravolta.

Avianca

Com poltronas com telas individuais e comida bem razoável, a Avianca-Taca (fusão da principal companhia colombiana com a Taca, originária de Honduras) tem voos diretos para Bogotá saindo de Brasília, São Paulo e Rio. De lá, a empresa e suas comissárias de ponchos garbosos levam a 23 destinos no país. A Avianca Brasil, embora seja do mesmo grupo, não tem plano de milhagem comum.

Barranquilla

Terra da Shakira e da cerveja mais popular do país, a Aguila, Barranquilla é em 2013 a Capital Americana da Cultura e terá exposições e festivais de arte, cinema, música e teatro durante o ano. A cidade sedia também o interessante Museo do Caribe, projetado sob supervisão do brasileiro Marcello Dantas, o mesmo do Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. E tem um Carnaval que os colombianos dizem só perder em animação para o do Rio.

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Boa mesa

Sim, há arepas (tortilhas feitas de farinha de milho) e patacones (banana-da-terra fita) a toda hora, em toda parte. Mas não só. Rica e autêntica, a gastronomia local não desaponta gourmets exigentes. E a mais notável evolução gastronômica dos últimos anos se deu em Cartagena, que vem recebendo novos sabores, chefs de renome e restaurantes conceituados – para nossa alegria, todos com muitos pratos na casa dos R$ 40. A última inauguração de peso foi o Marea, dos chefs Mark e Jorge Rausch, que são celebridades locais. “A cidade já é muito excitante, mas a gastronomia ainda vai dar muito o que falar aqui”, diz Rausch. O Marea compete pela atenção dos turistas com o veterano La Vitrola, ainda considerado um dos melhores de Cartagena, que tem vibe de Havana pré-revolucionária, com música cubana ao vivo e bons pratos com futos do mar. Seguem na disputa o Oh! La La, de pegada francesa, e o La Perla, para a tão em voga comida peruana.

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Bogotá, a hipster

Bogotá passou em pouco tempo de um campo de provas do narcotráfico a uma capital cool, boêmia, vivaz. Andina, a 2 600 metros de altitude, não tem uma beleza convencional nem se revela num primeiro momento. Com 8 milhões de habitantes e temperaturas médias de 14 graus o ano todo, pede um pouco de paciência e intrepidez do viajante. Mas recompensas não tardam a aparecer. Como, entre outras, as bibliotecas, os museus e as igrejas de La Candelaria, o Centro Histórico; os bares agitados da Zona Rosa; os restaurantes classudos da Zona G; a calmaria do parque Simon Bolívar. A cultura aflora em bairros como Macarena, na área central. “É um canto único da cidade”, me disse César Giraldo em seu ateliê, onde vende artigos de couro. Ele está em Macarena desde 2000 e acompanhou a chegada de galerias de arte, cafés como o La Choco Latera e restaurantes espalhados por quatro quadras. Para circular, táxis são baratos e o sistema de ônibus-metrô TransMilênio, similar ao de Curitiba, é eficiente.

Bogotá, a hipster II

Hipster que é hipster anda de bicicleta. E, em Bogotá, plana e agradável, a moda pegou. As CicloRutas – ciclovias mesmo, e não aquelas pistas improvisadas com cones – começaram a ser construídas em 1998 e hoje somam 392 quilômetros. Somado a isso, aos domingos as principais avenidas da cidade são fechadas das 7 às 14 horas e ficam só para as bikes.

Botero, o cara

Um dos artistas vivos mais famosos da América Latina, Fernando Botero já teve obras leiloadas por quase R$ 2 milhões. Suas figuras gordas, ou “volumosas”, como ele prefere, estão no Museo Botero, em Bogotá, entre elas sua versão rechonchuda da Mona Lisa. Em Medellín, terra natal do artista, a Plaza Botero guarda 23 enormes esculturas de bronze, logo ao lado do Museo de Antioquia, que tem três salas dedicadas a ele.

Catedral de Sal

Programa obrigatório para quem vai a Bogotá, a Catedral de Sal é originalmente uma mina de sal de Zipaquirá, 48 quilômetros ao norte da capital. Escavada no interior de uma montanha, a igreja subterrânea tem crucifixos e imagens talhados nos blocos salinos.

“Con mucho gusto”

“A la orden” e “con mucho gusto”, dizem sempre os colombianos, até com exagero. E eles são assim: receptivos e com um espanhol facinho de entender. Dei com gente sinceramente gentil que não se importava em parar o que estava fazendo para me ajudar. “Que te parece Colombia?”, sempre queriam saber. “Buenísima”, eu dizia.

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Compras

Não, não dá para chamar a Colômbia de Estados Unidos nesse particular, mas, creia, ela não está muito longe. Em Bogotá há barganhas como uma loja da M.A.C. com preços “americanos” (a base líquida sai por R$ 79; como comparação, em São Paulo ela custa R$ 144). Vale também conhecer a enorme rede La Riviera, com perfumes e cosméticos, a Berskha, marca mais jovem e barata da mesma rede da espanhola Zara, além das unidades colombianas das grifes Diesel, Nike e Swatch. Cartagena também tem seu lote de lojas, algumas de designers locais, como Malvi Castañeda, de roupas, e Mercedes Salazar, de bijuterias. Se estender até San Andrés, saiba que a ilha é livre de impostos e tem duty frees com eletrônicos, bebidas, cosméticos, tênis e roupas.

Cartagena, la linda

Na longa orla de Bocagrande, a parte mais nova de Cartagena, tapumes de obras de hotéis como Sheraton e Hyatt mostram que o turismo aposta muitas fichas nessa região da cidade. Mas o melhor não está lá, e sim em sua zona histórica, dentro das muralhas construídas no século 16 pelos espanhóis. O conjunto arquitetônico colonial faz a gente querer ficar dias flanando pelas ruelas e explorar o interior das casas antigas com pátios recônditos que hoje guardam hotéis-butique, cafés charmosos, lojinhas e uma porção admirável de restaurantes. Tudo isso vem muito a calhar, pois a praia ali está longe de provocar palpitações. O cenário é tão adorável que me senti estimulada a contratar um passeio de carruagem para voltar ao meu hotel depois de um jantar, já tarde da noite. Mas poderia ter voltado a pé, como fiz muitas vezes; as ruas iluminadas e as praças cheias de gente prenunciam que nada pode dar errado naquela cidade cartão-postal.

Cumbia, salsa, reggaeton e muito mais

“Dois passos para a frente, dois para trás. Agora gira!”, mandou Gustavo Gomez, um colombiano baixinho e atarracado de Cáli, cidade que se autodenomina capital da salsa. Gustavo rodopiava pelo salão de olho em desajeitadas como eu, que não conseguiam acompanhar o rebolado próprio do ritmo. Ainda que se ouça muito merengue, reggaeton e outros estilos musicais calientes do Caribe, é a salsa que mais incita os colombianos a bailar. Já o vallenato é uma criação local que lembra o sertanejo e o forró; ouvi incontáveis motoristas de táxi entoando a plenos pulmões suas letras melosas. Particularmente, eu recomendo a bandinha da moda Bomba Estéreo, que faz um misto de reggae, música eletrônica e cumbia, ritmo urbano que mistura música latina, indígena e negra.

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Gabo

Gabriel García Márquez, o Gabo, é uma sumidade local. Dá nome a salas de museus, centros culturais, passeios turísticos. Mas é em Cartagena, onde o escritor vive, que sua presença é mais sentida. Ali estão a mansão construída por ele, a antiga sede do jornal El Universal, onde começou sua carreira, além de muitos cenários de suas histórias. Levei Do Amor e Outros Demônios a tiracolo e vi o antigo Convento de Santa Clara – hoje o luxuoso hotel Sofitel Santa Clara –, onde se passa o romance entre Sierva María e Cayetano Delaura, e perambulei por Getsemaní, o bairro fora das muralhas, pensando em O Amor nos Tempos do Cólera. Torci em vão por um encontro real com o autor, que, dizem, frequenta os bares dali.

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Islas del Rosario

O tempo de estada nas ilhas depende da dose de Caribe que você procura. Se for só para sanar a vontade de praia bonita que Cartagena deixou, faça apenas um bate e volta de barco (são 45 minutos até o arquipélago) e mergulhe no mar transparente com corais coloridos. Mas há hotéis simples com praias exclusivas de brinde, caso você queira dar um tempo para o paraíso se revelar.

Museus de ouro

Na Colômbia, museus dedicados ao ouro são quase tão comuns quanto as praças com o nome do libertador Simón Bolívar. No século 16, a abundância do metal no país alimentou a cobiça e o interesse dos colonizadores espanhóis. Os povos indígenas que lá viviam usavam o metal em diversos artefatos, e a melhor coleção deles está no grandioso Museo del Oro, em Bogotá. O museu tem 34 mil peças de ouro, mais da metade de todo o acervo.

Manizales, Armênia e o Triângulo do Café

Graças a uma dedicada e decidida estratégia de marketing que remonta aos anos 1960, o café se tornou parte importante da identidade da Colômbia e é considerado top. O país é o quinto produtor mundial, e a principal região cafeeira do país, o chamado Triângulo do Café – cujas principais cidades são Armênia, Pereira e Manizales –, a cerca de uma hora de voo de Bogotá, é também muito turística. Estive na La Morelia, uma das muitas fazendas que oferecem tour pela produção do café. “Tem de sorver, sentir e cuspir”, me explicaram os baristas do lugar durante uma degustação. Levei então à boca o líquido cheiroso e amargo (não ousei pedir açúcar) e ensaiei um veredicto. Se a região ainda se ressente de uma melhor estrutura turística, tem hotéis de charme chegando, como a Hacienda Bambusa, com decoração que não faria feio em Trancoso, e restaurante de primeira. E fica perto da Terraza San Alberto, onde a degustação de café é uma experiência sublime: em um terraço cravado no alto da montanha.

Medellín

Talvez o símbolo mais emblemático da vitória colombiana contra a violência, a segunda maior cidade do país, com 3,5 milhões de habitantes, não é mais associada a cartel, cocaína, Pablo Escobar. Desde o começo dos anos 1990, Medellín vê uma verdadeira transformação em seu espaço público, com generosos investimentos em infraestrutura, educação, transporte e principalmente arquitetura, com novos e modernos prédios. Nos anos 1990, a taxa de homicídios, 381 para cada 100 mil habitantes, estava no pico; hoje são 60 para cada 100 mil habitantes – ainda alta se comparada à média brasileira, 26,2. Parques, bibliotecas, hotéis, museus e um sistema de metrô (o único do país) mudaram a paisagem. E há uma busca constante por soluções inovadoras para mobilidade urbana, como o Metro Cable, um teleférico integrado ao metrô, e uma pioneira escada rolante ao ar livre de 130 metros, que ajudam a transportar a população das favelas e dos bairros periféricos até as zonas centrais.

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Passarinhada

Francis Hime e Chico Buarque, que compuseram Passaredo (Foge, asa-branca / Vai, patativa), talvez dessem alguma continuação à música caso vivessem na Colômbia. O país tem o maior número de pássaros catalogados do mundo – cerca de 1 870 espécies, pouco mais que o Brasil. O auge do birdwatching é na Sierra Nevada de Santa Marta, onde vivem 36 espécies endêmicas colombianas.

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Rosas, rosas, rosas

Um país que tem em sua pauta de exportação o item “flores” é no mínimo simpático – e seguramente florido. A Colômbia é grande produtora de flores, especialmente rosas, rosas vigorosas, formosas, mimosas, todas tão rosas, como cantaria Dorival Caymmi se as visse. Mas há mais. Para onde quer que se olhe, cravos, hortênsias e copos-de-leite dão um charme sutil às sacadas das casas, às mesas dos restaurantes, aos cabelos das moças.

Salada de frutas

Colômbia e suas frutas estão no imaginário de quem leu Gabriel García Márquez e suas histórias ambientadas em cidades nas quais atuava a United Fruit Company, a multinacional americana que tomava conta da produção colombiana de frutas (e de boa parte da América Central). A UFC é passado, mas o país continua um lugar e tanto para exercitar as papilas gustativas com frutas para nós pouco familiares. Pequena seleção pessoal: a) granadilha, da família do maracujá; b) lulo, típico da região dos Andes, ácido como a laranja; c) feijoa, que lembra a goiaba. Os colombianos ainda usam amoras- silvestres, as moras, em sucos e sobremesas, como o obleas, um sanduíche lambuzento de biscoito waffle misturado com doce de leite.

Salento e Valle del Cocora

Confesso: não entendi o porquê de Salento ter virado o reduto de mochileiros estrangeiros que é. A 30 quilômetros de Armênia, no Triângulo do Café, a cidadezinha tem gringos que parecem não estar nem aí para o ouro negro colombiano. As ruas lotadas de lojinhas de artesanato e pequenos restaurantes que servem a típica bandeja paisa (uma mistureba deliciosa de feijão, linguiça, torresmo, arroz, abacate, arepas, ovos, presunto, alface e tomate) são também cheias de estrangeiros que vão ao Parque Nacional Valle del Cocora. Nele estão as palmas de cera, palmeiras que são as árvores nacionais da Colômbia, finas e compridíssimas: podem chegar a 60 metros de altura. Há muitas trilhas, cascatas e até uma fazenda repleta de beija-flores.

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Santa Marta, Taganga e Tayrona

Mais antiga cidade do país, Santa Marta, a três horas de Cartagena, é mais uma que trocou o narcotráfico pelo turismo. Principalmente porque guarda o Parque Nacional Natural Tayrona, uma imensidão verde com localização improvável entre o Mar do Caribe e os picos de neve eterna da Sierra Nevada. Da entrada do parque, montada num pangaré – a receita antiestresse por excelência –, cheguei à praia de Cabo San Juan del Guía, onde fui conhecer minhas acomodações: um redário no alto da montanha. Nem os mosquitos nem o vento me impediram de dormir como um bebê. Acordei quase junto com o Sol, incrédula com a vista delirante, e parti por trilhas que recompensavam cada passo com uma praia deserta. Você pode também pousar no Ecohabs, o único hotel dentro do parque, ou na vila de Taganga, de onde saem barcos que levam às praias. Mas eu jamais dispensaria aquela noite, olhos nos olhos com Tayrona.

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San Andrés

Mais próxima da costa da Nicarágua do que da própria Colômbia (e a cerca de US$ 500, se você comprar a passagem em Bogotá), a ilha em formato de cavalo-marinho é a principal do arquipélago colombiano, rodeado por cayos e ilhotas com mar multicolorido. San Andrés concentra em suas minicidades resorts all-inclusive sem frescuras, lojas duty free e histórias de piratas – dizem que o corsário galês Henry Morgan escondia seu tesouro ali. Mas, sem dúvida, o lugar onde estar é dentro d’água, nadando com tartarugas e peixes de todos os tamanhos que vivem na terceira maior barreira de corais do mundo, situada ali. O tour obrigatório é ir até Rose Cay (na foto), que tem mar transparente cheio de arraias, para depois deitar nas areias branquíssimas do Parque Regional Johnny Cay.

Villa de Leyva

A graça em Villa de Leyva, 170 quilômetros ao norte de Bogotá, é justamente o prosaico. É acompanhar a rotina da adorável vila fundada em 1572, onde vivem 18 mil habitantes. As ruas são de pedra, com falhas que enganam o andar da gente. As casinhas de arquitetura colonial espanhola do século 16 são lindamente conservadas, com janelas e varandas invariavelmente floridas. Outro mérito de Leyva é estar aos pés dos Andes: vi de longe, em um passeio a cavalo, a sombra que a imponente cordilheira faz sobre a vila. À noite, a boa é caminhar pelas ruas iluminadas, sentar sob o luar numa das mesas da Casa de Quintero e coroar com uma taça de vinho, vendo o movimento esmorecer na Plaza Mayor.

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