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A presidenta trabalhava enquanto eu “tirava férias”

No dia em que Dilma saiu pra trampar, eu não trampei. Quer dizer, meio que trampei, mas foi bem sussa. Aliás, era assim que me chamavam, “Mister Sussa”

Por Da Redação
Atualizado em 29 set 2021, 16h59 - Publicado em 10 out 2016, 11h11

No dia em que Dilma saiu pra trampar – bom, suponho que ela trampava todo dia, mas naquela noite nós dormimos no mesmo endereço, eu fiquei e ela saiu pra trampar -, o destino nos colocou no luxuoso Hotel The Dolder Grand, no alto de Adlisberg Hill, em Zurique, na Suíça.

No dia em que Dilma saiu pra trampar, eu saboreava o filé da vida de jornalista de turismo: após esquiar nos Alpes, meu roteiro terminava em um quarto com banheira, oito (!) duchas, conhaque Hennessy, chaise-longue e uma cama com vista escandalosa da cidade. Fora da suíte, circulei boquiaberto por aquele palacete recheado de obras de arte, avaliadas em mais de US$ 50 milhões: um Dalí e uma série completa de Camille Pissarro no The Restaurant, dois-estrelas Michelin devidamente aprovado por este plebeu (quaaaase batuquei com os talheres); um imenso mural de Andy Warhol no lobby; esculturas de Henry Moore, Keith Haring…

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No dia em que Dilma saiu pra trampar, eu soube só ali que estávamos no mesmo hotel e, confesso, tive uma crise de turista deslumbrado, queria um selfie com a presidenta, ela de tailleur, eu de roupão, mas a chefa não apareceu, porque havia saído pra trampar. Após dar satisfações sobre as obras da Copa na sede da Fifa (ai…), ela foi a Davos encarar as desconfianças econômicas sobre o Brasil.

No dia em que Dilma saiu pra trampar, às 9 horas eu tomei um lauto café; às 10, fiz um tour pelas joias artísticas do Dolder; às 13, lagartixei no spa, onde recebi uma massagem à luz de velas; às 14, banho cromoterápico; às 14h30, escalda-pés sobre seixos rolados; às 15, banho de imersão na piscina coberta; e, às 16 horas, hidro ao ar livre na steambath, que exalava um vapor vigoroso no zero grau do inverno suíço. Água quentinha até o peito, eu esquadrinhava os telhados de Zurique observado por um bronze de Botero, quando a neve começou a cair, só para emprestar poesia. Não que eu seja dado a frescuras, mas naquele momento me senti um representante da classe trabalhadora dividindo o manjar da classe política, enquanto a maior integrante dela saía pra trampar.

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No dia em que Dilma saiu pra trampar, eu não trampei. Quer dizer, meio que trampei, mas foi bem sussa. Aliás, era assim que eles me chamavam no hotel, “Mister Sussa” (Souza).

Fernando Souza é da classe trabalhadora (foto: Jonas Tucci/Abril)

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Texto publicado na edição 225 da revista Viagem e Turismo (julho/2014)

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