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Você consegue descansar nas férias?

Sinais de que as férias chegaram: o plano era ir ao mercadinho, mas a rede estava muito gostosa; a ideia era ler um livro, mas a soneca interrompeu

Por Maria Bitarello
2 jun 2024, 20h00
duas pessoas deitadas em uma rede
 (Spring Fed Images/Unsplash)
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Tirar férias é uma arte. O descanso pelo descanso. Férias não são as viagens pra visitar família, por exemplo; tampouco são as turísticas com tempo contadinho, com listas de afazeres e passeios, picos a desbravar e pratos a provar. Não há sossego – há, algumas vezes, aventura; em outras, absorção ininterrupta de novidades, aprendizado. E isso cansa até. Férias são outra coisa.

Como vivemos a vida regidos por relógios e calendários, é natural que, em nossos primeiros dias de folga, tentemos uma abordagem utilitarista do lazer: hoje, trilha ao pico no morro; amanhã, passeio de barco pelo rio. Só depois de uns dias, se seu coração estiver no lugar certo e o cenário for favorável, as férias irão, de fato, ocorrer.

Quando, de repente, abundar céu pra olhar e horas do dia pra viver. Aos poucos, a única e mísera tarefa da tarde – digamos, ir ao mercadinho comprar papel higiênico – é deixada de lado. Porque a rede está muito gostosa. Fui ler um livro, tirei uma soneca. Tudo fica pra amanhã.

Com o passar dos dias, o guarda-roupa se repete, os pernilongos incomodam menos, os silêncios se tornam cada vez mais longos e confortáveis; o sono, sublime. O tempo linear vai deixando de existir. E, de repente, o relógio e o calendário já não importam. Dorme-se e acorda-se quando dá na telha. Sobra energia e horas no dia, tudo que nos falta na cidade. E, na hora de voltar pra casa, nos primeiros dias, aquela correria toda assusta. Pra quê, gente?

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Daí, as semanas passam e a máquina engole a todos. Total ou parcialmente. Eu resisto, mas, ainda assim, fica a certeza de que, nas próximas férias, dessas bem boas, vou ter que aprender, de novo, a me aquietar lá dentro pra viver plenamente aqui fora.

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