O mais nova-iorquino dos estilos musicais chegou aos 50 anos. O hip hop nasceu durante uma festa de volta às aulas no Bronx, reunindo cinco elementos: DJ (ou disc jockey, que comanda as pick ups – vou ser muito ultrapassada se disser vitrola?), o MC (o mestre de cerimônia, que apresenta o evento), breakdancing, graffiti e cultura. O sucesso foi tão grande que ganhou o mundo. E esse fenômeno não poderia passar batido. A prova disso é que em 2023 não apenas o Bronx, mas todos os 5 distritos da cidade, os chamados boroughs, celebram o legado do rap e do que vem por aí.
A programação de festas, eventos, shows e tributos é tão intensa que é difícil acompanhar tudo, mas não posso deixar de mencionar alguns que ainda vão ficar mais um tempo em cartaz (o principal deles é a grande exposição sobre Jay-Z na Brooklyn Central Library, sobre a qual eu conto mais para o fim do texto).
O festival “I Love NY Summer of Hip Hop” inclui shows, exposições de arte, as battles (as famosas batalhas que podem ser tanto de rimas quanto de dança, onde os grupos se enfrentam para ver quem faz melhor), as silent discos (a febre de se usar fones de ouvido e cada pessoa “cria” a própria balada) e oficinas criativas. A série de eventos, que vai até o fim de agosto, foi organizada em parceria com organizações culturais em todo o estado, incluindo Lincoln Center for the Performing Arts e o Radio City Music Hall. A programação completa pode ser encontrada aqui.
Veja outros eventos imperdíveis:
The Universal Hip Hop Museum
A exposição [R]Evolution of Hip Hop é um mergulho na era de ouro do gênero musical dos anos de 1986 a 1990, em uma viagem interativa pela história por meio de artefatos, multimídia, inteligência artificial e realidades virtual e aumentada. Em exibição até o final de agosto no The Universal Hip Hop Museum, no Bronx.
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Hall des Lumières
A exposição imersiva “Hip Hop Til Infinity”, no Hall des Lumières, oferece uma viagem no tempo, tanto para o passado, no início do hip-hop, quanto para o futuro. Os visitantes são transportados pelas diferentes épocas e lugares onde o gênero musical brilhou, desde as pistas de skate até os palcos e o metaverso. Um banho de informação e tecnologia. Vai até 17 de setembro.
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Queens Public Library
A Queens Public Library fez parceria com mais de 30 organizações em todo o país para comemorar a ocasião com uma série de eventos chamada “Collections of Culture: 50 Years of Hip Hop Inside Libraries, Museums and Archives” (Coleções de Cultura: 50 Anos de Hip Hop em Bibliotecas, Museus e Arquivos). Além disso, a biblioteca preserva o legado do hip hop no Queens por meio de uma coleção de peças como fotografias, periódicos, fitas de áudio e de vídeo, escritos, notícias, folhetos e histórias orais de pessoas envolvidas com o gênero, desde suas origens até hoje.
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Somewhere Nowhere
O lounge Somewhere Nowhere, no terraço do hotel Renaissance Chelsea, celebra o hip hop nas noites de sexta-feira com o evento Trusted Mic, com música ao vivo da minha banda preferida em Nova York, The Rakiem Walker Project Band (quem me acompanha há mais tempo lembra de quando eu ia vê-los no Red Rooster, no Harlem). Sempre aparece algum artista incrível para dar canja, uma ótima vibe.
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Museum of the Moving Image
O Museum of the Moving Image, em Astoria, presta sua homenagem com “Real Rap: Hip-Hop Star Power on Screen”, uma série de filmes com artistas de hip hop, incluindo Queen Latifah, Tupac e Ice Cube e os títulos incluem O Dono da Rua (Baby Boy, 2001), Jogada Certa (Just Wright, 2010), Sem Medo no Coração (Poetic Justice, 1993), Uma Turma do Barulho (Barbershop, 2002), Rua das Ilusões (8 Mile, 2002), Fantasmas de Marte (Ghosts of Mars, 2001), entre outros. Além das exibições, “Real Rap” conta com palestrantes convidados, painéis e festas. A programação segue até 21 de outubro.
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The Seaport
A fotógrafa Janette Beckman tornou-se conhecida por seu trabalho nos anos 1980 com o hip hop e por documentar a cultura urbana. Suas fotos estão reunidas na exposição “Hip Hop at 50”, nas vitrines na esquina da Fulton com a Front Street no Seaport, até 31 de outubro.
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Brooklyn Central Library
Sem dúvida, um dos eventos mais incensados é a exposição sobre Jay-Z, chamada “The Book of HOV”, na Brooklyn Central Library. A exibição acontece na unidade central da biblioteca pública do Brooklyn que foi fundada em 1896 e hoje é uma das maiores do país, com mais de 850 mil moradores associados que a frequentam regularmente.
A Brooklyn Library tem um papel social importantíssimo pelo fato de haver uma disparidade econômica muito grande no distrito onde vivem 2,7 milhões de pessoas (o Brooklyn, amigos, é muito mais do que Williamsburg). Ali vive a maior concentração de pessoas negras da cidade e um dos programas capitaneados pela biblioteca é o “Equidade, Inclusão e Anti-Racismo”, que veio para combater todas as formas de violência contra negros, indígenas e minorias. Por meio de seu Conselho de Diversidade e treinamento de seus funcionários, promove autores e artistas de minorias e organiza fóruns de discussões sobre o tema.
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Voltando à exposição, “The Book of HOV” celebra a vida e obra de Shawn “Jay-Z” Carter, uma das figuras mais influentes do Brooklyn, que moldou e redefiniu não apenas o hip hop, mas a música e a cultura em escala global. Confesso que só entendi a importância dele depois de me mudar para Nova York. Até então, para mim Jay-Z era apenas o marido da Beyoncé. Até descobrir que, ao menos no Brooklyn, Beyoncé é que é a esposa do Jay-Z…
A mostra, distribuída por dois pisos da biblioteca, reúne imagens e objetos nunca antes vistos, como masters de gravação originais, fotos inéditas, roupas usadas em shows, prêmios, vídeos e peças raras como fitas cassete, CDs, credenciais de shows, em suma, um mergulho íntimo na sua trajetória saindo dos projects (moradias oferecidas pelo governo a residentes de baixa renda) do Brooklyn para a fama mundial. Ali é mostrado pela primeira vez a faceta não apenas de músico, mas também de empresário e filantropo. Os mais de 300 livros de diversos assuntos que estão em exibição são do acervo pessoal do artista e foram doados para a biblioteca. A instituição aproveitou o evento para lançar uma série de 13 cartões de acesso colecionáveis para quem é membro da instituição inspirados na exposição, cada um representando um álbum de Jay-Z.
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E o mais bacana é que a exposição acontece dentro da biblioteca em funcionamento, então é a chance de vivenciar um pouco de Nova York para além dos espaços que são majoritariamente ocupados por turistas. Ali você verá um pouco da vida acontecendo. A exposição “The Book of HOV” fica em cartaz até outubro de 2023 e a entrada é grátis.
Mas a comemoração dos 50 anos do hip hop não acaba tão cedo: em 2024 será aberto um museu inteiramente dedicado ao gênero, “The Universal Hip Hop Museum”, em Bronx Point. Afinal, essa história continuará sendo escrita e, claro, cantada.
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