5 lugares em Nova York para ter experiências musicais sem iguais
Um apartamento no Harlem, uma sala de concertos com vista para o Central Park, um teatro com show de calouros e, claro, um bar com jazz de primeiríssima
Se tem uma coisa que eu amo nessa vida é música. Melhor ainda se for ao vivo. Devo essa devoção ao meu pai, Alcides, músico profissional de quem infelizmente não herdei o talento para tocar, mas que me ensinou a admirar e respeitar essa arte e quem a produz.
Lembro que, quando meu pai veio me visitar pela primeira vez em Nova York, ele me fez levá-lo em uma verdadeira peregrinação pelos melhores bares de jazz da cidade, onde teve a oportunidade de ver de perto muitos de seus grandes ídolos.
Foi dele também que veio o incentivo quando, no meu primeiro ano vivendo aqui, soube de um show do B.B. King em um lugar pequeno, em um restaurante que levava o seu nome. Em dúvida se iria ou não ao show, meu sábio pai me disse ao telefone: “filha, ele é o rei do blues, tem quase 90 anos e vai tocar do lado da sua casa. Vai agora comprar seu ingresso”. Fiquei feliz por seguir seu conselho quando, cerca de dois anos depois, B.B. King faleceu e eu ainda guardava na memória a lembrança daquele que foi um de seus últimos shows.
Esse é o tipo de coisa que é possível por aqui: ver alguns dos maiores talentos do mundo em apresentações inesquecíveis. Mas, mesmo que não seja um B.B. King da vida, você ainda tem a chance de viver experiências especiais que vão fazer seu coração bater em outro ritmo. E aqui estão algumas delas.
1. Jazz at the Lincoln Center
O projeto Jazz at Lincoln Center foi criado pelo Lincoln Center, mas não fica no famoso conjunto de prédios, e sim a poucas quadras dali, no Time Warner Center, o shopping em frente à Columbus Circle.
A direção artística e liderança da Jazz at Lincoln Center Orchestra fica a cargo de ninguém mais ninguém menos que o grande trompetista Wynton Marsalis.
O Jazz at Lincoln Center tem três salas de espetáculos no 6º andar do prédio: Rose Theater, The Appel Room e Dizzy’s Club. As duas últimas têm uma vista estonteante da Columbus Circle e do Central Park. Tão linda que você não sabe se presta atenção na música ou na vista. Na verdade, a combinação das duas é que torna o momento perfeito.
Endereço: 3 Columbus Circle, 12th floor; site
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2. Parlor Jazz at Marjorie Eliot’s
Uma das experiências mais peculiares que você pode viver aqui acontece na intimidade de uma sala de estar de um apartamento no Harlem, no Parlor Jazz at Marjorie Eliot’s.
A primeira vez que Marjorie Eliot abriu as portas de seu apartamento no bairro de Washington Heights foi em 1992 e, de lá para cá, as tardes de domingo nunca mais foram as mesmas. Não é preciso ingresso, nem reserva – Marjorie recebe todos com alegria, carinho e muita música boa.
A sala onde acontece o show é lotada de cadeiras, que são ocupadas no sistema first come, first served (quem chegar primeiro, senta). Quando todos os assentos são tomados, os visitantes passam a ocupar o corredor, a cozinha, a entrada do apartamento e cada pequeno espaço possível. E a anfitriã capricha na recepção, oferecendo bebidas e lanchinhos aos seus convidados. Veja fotos do dia que eu fui.
Marjorie, ao piano, é acompanhada por seu filho Rudel Drears, um saxofonista, além de um baixista e um trompetista. No interlúdio musical de duas horas, eles apresentam jazz famosos dos anos 1950 e 1960, algumas improvisações e até textos e poemas. A diva do jazz realiza este ritual semanal em celebração à memória de seus filhos, Philip e Michael, em uma homenagem carregada de amor, generosidade e talento.
Os shows rolam todos os domingos, das 15h30 às 17h30. A entrada é grátis, mas doações são aceitas e bem-vindas. Uma dica: chegue cedo porque, apesar da Marjorie só abrir o apartamento 15 minutos antes do início do show, a fila na porta do prédio é grande e começa a se formar cedo. Toda vez que vou lá, me pergunto como os vizinhos não reclamam do tumulto.
Endereço: 555 Edgecombe Avenue – Apartamento 3F; tel. +1 212-781-6595; facebook
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3. Marie’s Crisis Cafe
Se você é fã de Broadway, não pode deixar de conhecer o Marie’s Crisis Cafe. Esse famoso bar no West Village é o lugar certo para os amantes de teatro musical. O bar fica em um pequeno porão onde os visitantes se aglomeram em torno de um piano para cantar músicas de trilhas sonoras de espetáculos da Broadway.
Os pianistas são super talentosos e prontos para atender os pedidos do público, que canta todos os clássicos a plenos pulmões. É divertidíssimo mesmo para quem, como eu, conhece apenas uma ou outra canção. Preste bem atenção ao seu redor, pois é muito comum a presença de celebridades, principalmente da comunidade da Broadway.
Agora, um pouco de história: o pequeno porão supostamente serviu como um antro de prostituição na década de 1850 e um bar gay na década de 1890. No entanto, foi décadas antes, em 1809, que nesse mesmo prédio morreu Thomas Paine, o escritor político e revolucionário, famoso pela obra Senso Comum, que teve profunda influência nos movimentos pela independência dos Estados Unidos. O nome do bar faz referência à obra American Crisis, escrito por Paine, e também à antiga proprietária do edifício, Marie DuMont.
E quem avisa amigo é: não peça músicas que não sejam de teatro musical. Você será solenemente ignorado.
Endereço: 59, Grove Street; site
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4. Show de calouros no Apollo Theater
Muito se fala sobre o famoso Apollo Theater do Harlem e a fama se justifica. Esse foi o primeiro local a permitir que os artistas negros se apresentassem em uma época em que a maioria dos afroamericanos era proibida até de entrar nos teatros. Fundado em 1913, desempenhou um papel importante no surgimento do jazz, swing, bebop, R&B, gospel, blues e soul – todos os gêneros musicais essencialmente americanos.
Em seu palco já se apresentaram lendas como Louis Armstrong, Billie Holiday e Duke Ellington. Sem falar que celebridades como Ella Fitzgerald, James Brown, Sammy Davis Jr., Stevie Wonder, Sarah Vaughan, Jackson 5 e muitos outros começaram ali suas carreiras. Nesse mesmo palco, Biggie Smalls apresentou pela primeira vez um jovem artista, um tal de Jay-Z.
A Amateur Night (a noite dos amadores ou, como diria Chacrinha, o show de calouros) no Apollo é um dos eventos mais amados dos Estados Unidos desde 1934. É uma competição de talentos que acontece toda quarta-feira e onde já concorreram Lauryn Hill, Dionne Warwick, Luther Vandross e até Michael Jackson, em um verdadeiro celeiro de novos astros e estrelas.
As audições amadoras estão abertas a cantores, dançarinos, comediantes, rappers, músicos e artistas de variedades. Os selecionados na audição tem a chance de se apresentar e concorrer ao grande prêmio de até US$ 20 mil.
Imagine assistir a uma noite dessas e, anos depois, ver aquele calouro virar um grande sucesso mundial? Como a história prova, isso não é nada difícil de acontecer no Apollo Theater.
Endereço: 253 W 125th St, Harlem; site
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5. The Village Vanguard
Curtir uma noite em um bar de jazz é um programa absolutamente indispensável em Nova York. E que tal se for no mais lendário deles?
Inaugurado em 1935, The Village Vanguard detém o título do clube de jazz mais antigo em operação na cidade. Com capacidade para apenas 132 clientes, o clube é famoso por sua acústica e seu clima intimista. Seu palco já recebeu lendas do jazz, como Lester Young, Ben Webster, Gerry Mulligan, Thelonious Monk, Miles Davis e John Coltrane.
A banda da casa, a Vanguard Jazz Orchestra, foi criada em 1966 e suas apresentações foram um sucesso tão grande que continuam até hoje, toda segunda-feira à noite. Também há música ao vivo todas as noites às 20h e 22h. Você não vai acreditar no que acontece naquela pequena e apertada sala triangular. Mais do que curtir boa música, você fará uma real imersão na história do jazz.
Endereço: 178 7th Avenue South; site
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