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Rafael Tonon colaborou com Anthony Bourdain no site Explore Parts Unknown e coordena o Mestrado em Comunicação Gastronômica do Basque Culinary Center, no País Basco. Autor do livro 'As Revoluções da Comida', vive hoje entre Portugal e Abu Dhabi – e viaja o mundo para comer
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Portugal: tabernas tradicionais para conhecer em Trás-os-Montes

Na região mais rural do nordeste do país, restaurantes fora do radar servem comida simples, bem feita e farta. Veja algumas para ter na rota

Por Rafael Tonon
Atualizado em 26 jan 2023, 11h43 - Publicado em 26 jan 2023, 10h05

Apesar da sua pequena dimensão territorial, Portugal é um país imenso. Em paisagens, em cultura e, principalmente, em gastronomia. Mas muito além dos restaurantes modernos de Lisboa (cada vez mais cosmopolita, como relatou a minha vizinha de coluna Rachel Verano), daqueles localizados em hotéis chiques do Algarve ou das francesinhas (indiquei minhas favoritas aqui) e pratos substanciosos que fizeram a fama do Porto, há cozinhas interessantes muito além de onde costumam ir os turistas.

Um exemplo é Trás-os-Montes, a província montanhosa do nordeste do país onde o tempo parece ter parado há muito e onde a vida caminha a um ritmo diferente. É ali que estão algumas das aldeias menos povoadas do país, onde muitas vezes a população de gado costuma ser maior que a de gente.

Em meio a casas feitas de pedras em pequenas vilas onde a rotina perpassa o cuidado com o campo, chama atenção a qualidade dos alimentos produzidos ali: o milho, o mel de urze (um pequeno arbusto silvestre), o azeite, as batatas de altitude e a pecuária das vacas de raça Barrosã (reconhecida por sua Denominação de Origem Protegida) ou do porco Bísaro. Não à toa, a região das Alturas do Barroso foi recentemente distinguida como Patrimônio Agrícola Mundial pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e passou a ser a primeira região do país (e uma das primeiras na Europa) a conseguir alcançar tal feito.

Assim, uma esticada até municípios e vilas como Boticas, Chaves, Vilarinho Seco, Ribeira da Pena e Vila Pouca de Aguiar podem render excelentes surpresas à mesa. Muitos dos restaurantes ali, chamados de taberna, servem comida simples, bem feita e farta, feita na lenha em panelas de ferro. Há dois anos, o projeto Tabernas do Alto Tâmega, com promoção do Turismo de Portugal e concepção da produtora gastronômica Teresa Vivas, tratou de colocar esses estabelecimentos no mapa, criando um roteiro para incluir muitas delas no radar dos portugueses – e dos turistas.

Com curadoria do chef transmontano Vítor Adão (à frente do Plano, em Lisboa), a rota das tabernas é quase um mapa do tesouro onde no final estão joias como postas de carne macias acompanhadas de batatas fritas iguais da casa da avó, presuntos e alheiras feitas artesanalmente em fumeiros mantidos na parte de fora das casas ou queijo com doce de abóbora para a sobremesa. Mas como aqui as descobertas só fazem sentido se partilhadas, fiz uma lista com três desses lugares que merecem estar na sua rota na próxima ida ao Norte de Portugal.

Taberna Ti João

Rua do Lameirão, 1 – Boticas 

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É uma casa aconchegante onde antes funcionava uma venda de vinhos. O cardápio é cheio de boas opções. A refeição pode começar com os fígados de vaca ou um canapé de torradas de pão frito com lombinhos de porco Bísaro em vinha d’alhos. Mas o melhor são mesmo os pratos principais, como a posta de vitela Barrosã acompanhada de repolho cozido e esmagada de batata ou o delicioso arroz de costelinha de porco com carqueja, bem temperado com vinho. Não deixe provar a rabanada da casa: o pão é molhado em leite com mel antes de ir pra frigideira. Sai de lá dourado e com a crosta crocante. 

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Casa de Vilar

Estrada Nacional 311, 5 – Vilar 

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É um típico restaurante “de estrada” que pode passar despercebido para quem vem acelerando. Não há menu, a garçonete fala o que tem no dia e cada um escolhe o que quer – os pratos são individuais. Há pouca variedade, mas está lá a bisteca de vaca criada em Lameiros, o arroz, a batata frita e eventualmente algum tipo de bacalhau. Se for no inverno, ainda há a sorte de poder provar algum cogumelo silvestre puxado na manteiga. O vinho é da casa, ainda que se possa pedir algum outro rótulo. De sobremesa há um belo pudim caseiro, não muito doce e de textura cremosa.

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Casa do Pedro

Largo da Capela, Vilarinho Seco 

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O nome não é força de expressão. É ali que o sr. Pedro viveu com a dona Ana servindo pratos típicos na casa de pedra que se mantém por mais de 300 anos. Com a morte dela, os filhos, Alda e Pedro, ajudam o pai na cozinha e no serviço – e também na horta e na lida com os animais. Pedro tem um fumeiro onde produz o presunto (mantido por três meses na defumação) e a própria alheira. Mas o carro-chefe da casa é mesmo o cozido barrosão, o cozido à portuguesa à moda da região, usando os embutidos, todos feitos ali, é claro. 

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