Pets não podem viajar em voos em codeshare. Não podem?
Operação conjunta de aéreas durante a pandemia traz complicações e dúvidas sobre serviços especiais como embarque de menores desacompanhados
Quando, em novembro, comprei uma passagem para visitar minha mãe no interior de São Paulo no Natal, não sabia que o número de casos subiria tanto (embora pudesse imaginar, pelas aglomerações), nem me dei conta de que o voo, comprado na Decolar como Latam, seria operado pela Azul. É o chamado codeshare, prática de compartilhamento de rotas que foi adotada pelas duas aéreas agora na pandemia para otimizar suas operações.
Para o cliente, na maioria das vezes, pouco importa se o voo é de uma empresa ou outra – mais importante é manter o dia e o horário da viagem. Mas descobri por acaso que não é bem assim e divido o perrengue com vocês para que consigam evitar a dor de cabeça que tive.
Na semana da viagem, fui atrás de reservar o transporte do Zowski, esse fofo aí da foto (sim, uma avaliação tendenciosa). Com seus 4 kg, ele costuma viajar na cabine, um serviço especial oferecido pelas companhias.
A saga começou dois dias antes do embarque. Pedi ajuda da minha mãe para ligar pra Latam (já que eu, em viagem pela VT, não teria como ficar uma hora no telefone – espera padrão para conseguir um atendimento ultimamente). Ela deu todos os dados do dog e recebeu a instrução de ligar no dia seguinte para confirmar o transporte do pet.
Na sexta (o voo já era sábado cedinho!), ela ligou para confirmar, mas recebeu a orientação de ligar para a Azul, que de fato faria o voo. Na outra empresa, o atendente deu uma informação surpreendente: como cada aérea tem regras próprias de transporte de animais, os voos em codeshare não permitem comprar esse serviço.
De transporte confirmado para serviço impossível. Ali, achei que havia topado com uma pauta e entrei em contato com a assessoria de imprensa da Latam e da Azul. As duas empresas confirmaram, em nota à VT, que, para evitar discrepâncias de regras, os voos vendidos por uma, mas operados por outra, não tinham esse tipo de serviço. Nem outros serviços especiais, como transporte de pets no porão e embarque de menores desacompanhados.
De repente, a visita de Zowski à vovó tinha subido no telhado. Mas o que fazer? Aceitar o recado do universo pra não viajar na pandemia (digamos que o apelo era grande)? A passagem, porém, não era reembolsável e decidi arriscar indo até o aeroporto.
Com o cachorro devidamente instalado na caixinha, entrei na imensa fila do embarque da Azul no Santos Dumont (um cenário completamente diferente do que vi no fantasmagórico Galeão, indo para o Panamá na sexta anterior). Quando consegui falar com um atendente, perguntei: “tenho que embarcar um cachorro e comprei uma passagem originalmente da Latam. O que faço?” A resposta foi simples: “só ficar na fila”.
Foi o que fiz. Chegando ao guichê, ninguém mencionou a história do codeshare. A encrenca foi outra: me esqueci do atestado de saúde do bicho (que, diga-se, tem mais vacinas do que eu!). Contornei ligando para a veterinária e, por módicos R$ 300, recebi por WhatsApp a imagem de um pedaço de papel corroborando o que a caderneta de vacinação, que estava comigo, já dizia. E paguei a taxa de embarque de R$ 250 para cada perna da viagem. Segundo a Azul, não é possível garantir, porém, que seja assim sempre, porque os voos em codeshare não preveem esse serviço.
Muitas ligações, confusões e R$ 800 depois (R$ 300 por minha culpa, fato), embarcamos rumo a Viracopos. Sem nem um latido, embaixo da poltrona da frente, Zowski poderia bem passar por uma nécessaire grandinha. Mas deu mais trabalho que um bebê de colo, que não paga lugar nem precisa comprovar vacinação!
Aviso aos viajantes
Se você precisa de algum serviço especial, como transporte de pet ou embarque de menor desacompanhado, a recomendação é comprar o bilhete no site da empresa que fará, de fato, o voo. Assim, não há risco de as exigências serem diferentes e o embarque ser negado. Além disso, muitas vezes, já é possível solicitar o serviço já na hora da compra.
Mas, se você vai precisar desse tipo de atendimento e não se deu conta do codeshare na hora de compra, a orientação é entrar em contato com a companhia aérea com antecedência. Mas, para evitar qualquer dor de cabeça, pode ser mais eficiente pedir reembolso do bilhete e comprar um novo diretamente da empresa que opera o voo. Isso, claro, se tiver comprado tarifa cheia. Se for uma promoção, pode ter de arcar com o prejuízo.
Esclarecimentos da Latam
Os acordos de codeshare têm condições e restrições em função das características das operações das próprias empresas. No caso do codeshare entre Latam e Azul, por exemplo, não é permitido o embarque de animais, na cabine e/ou porão. O serviço está disponível somente quando se adquire as passagens aéreas diretamente na Latam para voos operados pela própria empresa.
O acordo também não permite o serviço de menor desacompanhado. Já a remarcação de passagem aérea de um voo operado em codeshare segue a política da companhia com quem o cliente comprou o bilhete.
O acordo permite o embarque em voos de codeshare de passageiros com necessidade de assistência especial, desde que esse pedido seja feito no momento da reserva para o operador.
Esclarecimentos da Azul
Azul e LATAM não preveem esse serviço em voos codeshare pela impossibilidade de uma perfeita coordenação entre seus sistemas de vendas e mesmo nas conexões, já que as empresas têm regras e procedimentos diferentes para esse transporte.
A Azul orienta que o serviço em questão deve sempre ser solicitado com antecedência, e não na chegada ao aeroporto, já que existem limitações ao mesmo. Dessa forma, o cliente já tem todas as informações prévias e não é pego de surpresa ao chegar no aeroporto.