Como é a visita ao Museu do Ipiranga um ano após a reabertura
Os ingressos, a tecnologia, a acessibilidade, o revisionismo histórico e o reencontro da minha avó com o museu depois de quase 70 anos da primeira visita
Passado exatamente um ano da sua reabertura, o Museu do Ipiranga continua concorrido. Para visitá-lo durante o final de semana, é preciso garantir o ingresso com cerca de três semanas de antecedência através do Sympla ou comprar na bilheteria física, que vende ingressos antecipados e para o mesmo dia a partir das 9h (é comum que eles se esgotem rapidamente aos sábados e domingos).
Depois de ter sido gratuita durante os dez primeiro meses da reinauguração, a entrada passou a ser cobrada em junho: a inteira custa R$ 30 e a meia, R$ 15. Os horários de visitação são marcados: você escolhe no momento da compra, dependendo do que estiver disponível, e há uma tolerância de quinze minutos de atraso.
Como o plano era levar a Dona Miriam, minha avó de 81 anos, preferi garantir os nossos ingressos pela internet para poupá-la de ficar esperando em filas. Consegui bilhetes para um sábado às 15h — e lá fomos nós!
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PARQUE DA INDEPENDÊNCIA
A lembrança mais antiga que eu tenho do Museu do Ipiranga é de uma excursão escolar, provavelmente em 2007. Já a minha avó se lembra de ter estado lá pela primeira vez aos 13 anos, ou seja, em 1955. Mas, para nós duas, a sensação foi de estar vendo pela primeira vez toda a imponência do edifício histórico e de seu jardim, que juntos compõem o chamado Parque da Independência.
Pode ser que a gente tivesse mesmo esquecido como era bonito aquele lugar, que ficou nove anos fechado. Mas pode ser também que tenha sido o efeito da reforma: o prédio amarelo brilha como novo, a grama está verdinha e bem cuidada e as fontes de água estão limpas e em funcionamento. Havia até algumas crianças brincando de se molhar nos chafarizes naquele dia ensolarado. Dava gosto de ver!
Paramos para tirar fotos, acabamos nos distraindo e quando fui ver já estávamos atrasadas para entrar no museu. Por isso, a minha dica número um é reservar uma horinha antes ou depois da visita ao museu para percorrer os jardins sem pressa. Ou até mesmo voltar lá outro dia, só para essa finalidade: o espaço rende uma gostosa caminhada.
MUSEU DO IPIRANGA
Apertamos o passo para chegar à bilheteria, que fica em uma área de 6.800m² recém-construída no subsolo. A situação lá dentro estava caótica, com um monte de gente fazendo fila para conseguir um ingresso remanescente. Como eu tinha reservado pela internet, não tivemos que esperar nem um minuto. Foi só apresentar o QR Code e entrar.
A primeira parada é em uma sala que explica, usando projeções nas paredes, como o museu foi dividido nessa nova fase. Os 450 mil objetos e documentos que compõem o acervo foram repartidos em 11 exposições que estão mais modernas, em dois sentidos.
Primeiro, porque ganharam recursos multimídia que fornecem explicações sobre as peças. Segundo, porque essas explicações passaram por um revisão histórica e agora convidam os visitantes a refletir sobre contrapontos que muitas vezes ficaram de fora dos livros didáticos. Em suma, põem à prova algumas “verdades” que você aprendeu na escola sobre o Brasil.
Ao mesmo tempo, o projeto também focou em deixar o Museu do Ipiranga mais acessível. As escadas rolantes e elevadores que conectam os cinco andares do edifício atendem pessoas com deficiência física — e também idosos como a minha avó. Há ainda explicações em formato de vídeo em libras, placas escritas em braile e recursos táteis como réplicas de quadros e de esculturas.
EXPOSIÇÕES
No andar térreo, a ala leste recebe a exposição “Para entender o museu”, que diz respeito à própria história do edifício-monumento, sua construção e transformação ao longo do tempo. O destaque ali é uma enorme maquete de como o prédio foi concebido originalmente. Spoiler: era para ele ter sido ainda maior.
Na ala oeste, que abriga a “Passados Imaginados”, o foco é na história de São Paulo: há pinturas e uma maquete que representam a cidade há 150 anos. Achei divertido tentar localizar monumentos que já existiam naquela época, como o Pateo do Collegio, e mais ainda visualizar como alguns bairros se transformaram por completo de lá para cá.
Na porção central do andar térreo e do primeiro andar fica a exposição “Uma história do Brasil“, que corresponde justamente com as áreas mais icônicas do Museu do Ipiranga: o saguão de entrada, a escadaria e o salão nobre. O espaço é decorado com pinturas e esculturas de bandeirantes, colonizadores e pessoas ligadas à Independência, além de globos de vidro que guardam as águas dos rios do Brasil. Também é ali que está o famoso quadro Independência ou morte!, de Pedro Américo, agora acompanhado de telas que explicam que a cena não foi tão glamurosa quanto a tela tenta representar.
Até aqui, a visita estava atendendo todas as expectativas. O prédio em si está belíssimo, com cara de novo, depois de ter passado por limpeza, pintura e recuperação dos detalhes ornamentais. O acervo trazia informações interessantíssimas sobre o contexto histórico da Independência do Brasil e de seu símbolo máximo, que é o próprio Museu do Ipiranga. A coisa me pareceu um pouco menos interessante nas duas exposições seguintes, que ficam nas alas leste e oeste do primeiro andar, chamadas respectivamente de “Mundos do Trabalho” e “Casas e Coisas”.
Ali estão expostas ferramentas, objetos de trabalho, utensílios e eletrodomésticos que fizeram parte da vida dos paulistas nos últimos 150 anos. Esse olhar para o passado mais cotidiano também é interessante, mas acho que uma parte de mim esperava encontrar mais objetos da época de Dom Pedro I do que da época da minha avó. Ela mesma questionou: “será que eu estou tão velha assim para as coisas que eu usava já estarem num museu?”. Demos risada do momento autoanálise e a partir de então focamos em buscar objetos que fizeram parte do cotidiano dela em algum momento da vida, o que também foi divertido.
O museu continua nessa mesma pegada mais cotidiana no segundo andar, com a exposição “Conversar: Brinquedos” na ala leste. Mas depois a história de um Brasil ainda mais antigo volta a aparecer em “Catalogar: Moedas e Medalhas”, “Comunicar: Louças” e “Coletar: Imagens e Objetos”, essa última com quadros e documentos. Aqui a minha avó já começava a demonstrar sinais de cansaço — e eu também, para ser sincera. Anda-se muito dentro do museu, mesmo com os elevadores e as escadas rolantes dando uma poupada nas pernas entre um andar e outro.
Mas fomos até o fim e conhecemos também a exposição “Territórios em Disputa“, que fica em uma espécie de mezanino e aborda através de mapas e painéis explicativos os conflitos por território que aconteceram entre indígenas, portugueses, espanhóis, franceses e holandeses durante a colonização do Brasil. A visita se encerra no terceiro e último andar, onde há o novo mirante e a exposição “A cidade vista de cima” com fotos aéreas do museu e seu entorno.
Colocando tudo na balança, o saldo do dia foi bastante positivo. É bom demais ver tão bem cuidado um monumento que faz parte da história do Brasil e de diferentes gerações de paulistanos. Como a minha e a da Dona Miriam, que garantiu a sua fotinho com o famoso jardim ao fundo.
COMO CHEGAR
O Museu do Ipiranga fica na Zona Sul de São Paulo. Nós optamos por ir de carro e encontramos vários estacionamentos nos arredores. Chegar ali de transporte público não é difícil, mas também não é fácil. Tanto a Estação Ipiranga da Linha 10-Turquesa da CPTM quanto a Estação Santos-Imigrantes da Linha 2-Verde do metrô ficam a 1,5 km e 2km, respectivamente, do museu. Para fazer esse trajeto restante, é preciso caminhar por uns 25 minutos, chamar um Uber ou então pegar um dos ônibus que param na porta (364A-10, 514T-10 e 519M-10 para quem chega de CPTM e 477P-10 e 4491-10 para quem chega de metrô).
SERVIÇO
O Museu do Ipiranga funciona de terça-feira a domingo, das 9h às 17h (última entrada às 16h). Os ingressos podem ser adquiridos pelo Sympla ou na bilheteria física, a partir das 9h. Eles custam R$ 30 a inteira e R$ 15 a meia.
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