Os primeiros registros da pesca do bacalhau em Portugal datam do século 14, mas foi no 15 que o país tomou gosto pelo peixe – e, desde então, o chamado “fiel amigo” nunca mais abandonou as mesas lusas. Era de Aveiro, uma cidadezinha encantadora a meio caminho entre Coimbra e o Porto (leia mais neste post aqui), que partiam os barcos pesqueiros em direção às águas geladas do Atlântico. E era lá que ele era também seco e salgado, uma tradição que durou séculos.
Instalado em um antigo e tradicional armazém de sal, a cozinha do restaurante Salpoente é uma ode ao mais apreciado peixe da Terrinha.
Das mãos do chef Duarte Eira, “importado” da região de Trás-os-Montes, saem receitas delicadas, suaves e, ao mesmo tempo, harmônicas e surpreendentes.
Nas longas horas que passamos em sua companhia, desfilaram pela mesa delícias como o tartar de novilho com alga nori e uma saladinha com salsa de clorofila, para começar…
… e uma impecável açorda de ovas de bacalhau com tenros camarõezinhos, cebolas fritas, azeitona desidratada e uma impecável gema.
Encerradas as entradas, o prato principal foi um bacalhau em crosta de farinha negra (casquinha crocante, sequinha e carne macia que se desfazia ao toque), acompanhado de uma vieira dourada, “ar” de bacalhau e molho de curry. Precisar nem precisava, mas vinha também uma panelinha de arroz do mar com gambas, mexilhões e algas.
O grand finale teve como tema o limão: um suspiro recheado com uma tortinha cremosa da fruta, com espuma, sorbet e molho, além de flores e manjericão.
A carta de vinhos é extensa e – raridade em Portugal – inclui uma longa seleção de rótulos estrangeiros. Mas os holofotes estão todos voltados para as joias nacionais. É pedir um Douro branco geladinho para acompanhar a orgia e deixar as horas correrem sem medo de ser feliz.