A imigração chinesa na Europa não é nenhuma novidade, mas o fato é que, na minha primeira vida em Lisboa, entre 2005 e 2008, quase não se notava a presença dos orientais por aqui. Quando se comparava com a Espanha então, onde eu ia com frequência, podia-se dizer que era praticamente nula.
Qual não foi a minha surpresa nesta volta quando me dei conta de que eles estão por todos os lados – e inclusive em maior número dos que os brasileiros e russos quando se trata da concessão do Golden Visa, o visto de investimento em Portugal.
O resultado imediato disso foi a proliferação de restaurantes, supermercados e lojas chineses pela cidade. E um vício delicioso em pak choi (a couve chinesa), pimentas, buns e noodles mil, agora disponíveis até nas gôndolas dos maiores supermercados.
Já faz muito tempo que o restaurante Mandarim, no Casino do Estoril, é tido como um dos melhores da região de Lisboa. Seu cardápio cantonês é executado com esmero (e cobrado à altura). Mas agora chegou a melhor parte da festa: os chineses delícia, para refeições corriqueiras, estão ai, ao alcance de todos, em todas as regiões da cidade.
Ao que interessa. Todo esse meu blá está aqui por uma única razão: a Tasquinha Dim Sum. Mais precisamente um balcão com não mais que uns seis bancos altos de madeira no último box do Mercado de São Bento, pertinho da Assembleia. Tudo o que sai dali desmancha na boca. Na última vez que estive lá perguntei ao Bernardo, o único funcionário da noite, se ele já tinha servido tanta coisa para apenas três pessoas. Ao que ele respondeu categoricamente: “nunca.” Vou então contar tudo o que provei.
Começamos com guiozas cozidos de camarões, caranguejo e carne de porco. Passamos para bolinhas de camarão e porco com gengibre e castanha de água. Seguimos para bolinhos de camarões e vieiras. Depois guiozas novamente, de couve chinesa com shitake. Um bowl de arroz para acompanhar. Molhinho de soja com gengibre e pimenta. Um segundo round com tudo de novo. E os três preferidos para arrematar.
Unanimidade: a massa sempre fininha e o recheio saboroso, sem excesso de temperos. A cerveja sempre gelada desce redondo. O clima de boteco fecha com chave de ouro.
Não espere comida gourmet nem nada muito requintado. Minha paixão pela Tasquinha é o conjunto das coisas: o ar despretensioso, o astral Portugal meets China, a informalidade e, claro, as delícias cozidas e ao vapor que vão aterrissando em cestinhas de madeira na nossa frente. Tudo isso por um preço pra lá de convidativo (gasta-se de € 10 a € 15, no máximo, por pessoa, com bebidas).
Nota de rodapé: preciso dizer que a Tasquinha Dim Sum não é de chineses. A dona e cozinheira é portuguesa, mas aprendeu a arte com mestres. De toda forma, é inegável associar o sucesso deste lugar tão improvável à cena chinesa na cidade, que eu simplesmente adoro.