Aquele podcast que estava planejado havia tempos esperando a hora certa, o produtor certo, os equipamentos perfeitos? Foi pro ar. Os planos de abrir uma confeitaria num cantinho especial de Lisboa? Abriu na cozinha de casa mesmo. Os palcos da vida? Viraram a sala de estar. Até livro já nasceu na quarentena – e sobre ela! Isolados há mais de seis semanas em Portugal, brasileiros das mais diferentes áreas tiraram projetos da gaveta e fizeram acontecer com histórias surpreendentes e inspiradoras! Conheça algumas delas:
Juliana Penteado em: a cozinha que virou confeitaria
Frequentadora assídua de cursos de culinária desde os 12 anos de idade, Ju se formou em nutrição, mas logo voltou a pilotar fogões, sua grande paixão. Depois de estudar por um ano na escola Le Cordon Bleu, em Londres, e de se aventurar por cozinhas de restaurantes franceses, a paulistana veio parar em Lisboa, onde comandou a área de sobremesas de um grande restaurante por mais de um ano. A quarentena chegou quando ela estava prestes a conseguir realizar o sonho de abrir uma confeitaria própria – já tinha visitado alguns espaços, estava mergulhada num processo de mentoria de negócios e até a identidade visual já estava pronta. Ju não teve dúvidas: resolveu lançar a Baru Pastry, onde produz doces e biscoitos que mais parecem obras de arte, durante o confinamento. Começou a divulgar nas redes sociais, comprou embalagens pela internet e mandou imprimir etiquetas e cartões. “Corto a cartolina que vai na embalagem, cozinho, embalo, escrevo cartões, planejo as entregas, faço planilhas… Não durmo há cinco semanas, mas estou amando!”, diz ela, que já recebeu cerca de 250 pedidos diretos e tem como diferencial o uso de óleos essenciais nas suas receitas. “É muito reconfortante levar amor e carinho para as pessoas no meio da pandemia, eu virei uma espécie de mensageira.”
Ruth Manus em: o diário que virou livro
Colunista da revista Glamour e do jornal português Observador, a advogada e doutoranda, autora de livros como Um Dia Ainda Vamos Rir de Tudo Isso e Mulheres Não São Chatas, Mulheres Estão Exaustas, ambos da Editora Sextante, começou a quarentena contando histórias em seu perfil @ruthmanuscritos, onde reúne quase 10 mil seguidores no Instagram. O projeto, batizado “Senta Que Lá Vem História”, começou no dia 22 de março e segue com uma frequência praticamente diária – em cada episódio ao vivo, exibido pelo IGTV, Ruth lê trechos de livros (seus e de outros escritores como Valter Hugo Mãe, Luís Fernando Veríssimo e Carlos Drummond de Andrade, entre outros). Alguns episódios já foram assistidos por quase 5 mil espectadores. “Queria contribuir de alguma forma com a ocupação das pessoas nesse período”, disse ela no episódio de estreia. O que ninguém poderia supor é que, ao mesmo tempo, Ruth escrevia. Sobre receitas da avó, sobre a louça na pia, sobre a rachadura na parede. Sobre saudades, angústias, dias bons e outros nem tanto assim. Passados 40 dias de diário, ela enxergou ali um livro – e lançou, de maneira independente e digital, 40 Pequenos Desabafos de Quem Não Nasceu para Quarentenas, que pode ser baixado na Amazon. “Teve texto que eu escrevi chorando como se não houvesse amanhã. E houve.”, escreve ela na nota final.
Bena Lobo em: a sala que virou palco pro mundo
O músico carioca, filho do cantor Edu Lobo, mora em Lisboa há exatos quatro anos. Desde o decreto do estado de emergência, ele tem feito shows para os quatro cantos do mundo, diretamente da sala de sua casa (já fez até para os fãs no Japão). Algumas vezes em projetos solo, outras vezes fazendo participações especiais em festivais tanto do Brasil quanto de Portugal, uma coisa é certa: ele não passa uma semana sem se apresentar em lives. A novidade do momento é uma música que ele fez sobre a quarentena em parceria com a cantora Zélia Duncan – mantendo as devidas distâncias, claro. Depois de enviar a melodia, a amiga e parceira devolveu, 10 dias depois, com a letra de A Vida Vai Mudar: “Olhei nos olhos do amor; Não estava lá; Parei na beira do mundo; Só pra respirar; Quantos passos pra bem longe de você vou dar?; Quantas formas pra me aproximar?” são versos que hoje fazem parte de todas as suas apresentações. Para assisti-las, basta ficar de olho no perfil do músico no Instagram, onde ele anuncia com antecedência. As apresentações costumam ser aos finais de semana. “Além da música fazer bem para as pessoas, faz para mim também”, diz ele. “Eu me doo muito, é um movimento muito legal.”
Leo Spencer em: o improviso de um super podcast
Junto com sua mulher, Rachel, o ex-executivo do mercado financeiro largou tudo para realizar um grande sonho: dar a volta ao mundo de carro, nos idos de 2013. Nascia assim o blog Viajo, Logo Existo, que tem hoje 624 mil seguidores no Facebook e 194 mil no Instagram. De lá para cá, a dupla explorou mais de 120 países e nunca mais parou. Baseada em Portugal desde fevereiro deste ano, viu de repente uma sequência de viagens virar fumaça – entre os destinos que visitaria em breve estão Jalapão e Argentina. Foi então que, preso entre quatro paredes, o casal resolveu finalmente se dedicar ao podcast que tanto postergava. “A princípio, queríamos que fosse com uma qualidade excelente, com equipamentos excelentes, com um produtor excelente… e nunca saía. Então resolvemos baixar as expectativas e aproveitar a oportunidade”, diz Leo. Toda semana, às quintas-feiras, às 5h da manhã do Brasil (9h de Portugal), um novo episódio é lançado – veja aqui. Já há três no ar, com temas tão curiosos quanto “Qual foi a pior noite das nossas viagens?” ou “Os viajantes estão enlouquecendo de ficar em casa?”. “Temos episódios com mais de mil downloads, feitos de 39 países diferentes”, comemora Leo.
Susana Albiero em: retalhos que viraram máscaras
Susie é designer e idealizadora do projeto O Meu Monstrinho, que nasceu em 2011 com o objetivo de dar forma – e cor! – aos medos das pessoas. Com um estoque de tecidos com as mais variadas estampas parado, ela começou a receber informalmente pedidos de amigos para fazer máscaras de proteção para poderem sair de casa. A brincadeira acabou virando trabalho. A paranaense, moradora de Lisboa há 18 anos, se juntou a outra designer, Catarina Telles Almeida, e, juntas, elas fizeram testes, elaboraram um catálogo e começaram esta semana a colocar as mãos na massa. Já há 50 máscaras encomendadas e as máquinas de costura não param! Os pedidos precisam ser feitos com antecedência e podem ser retirados pessoalmente ou enviados pelo correio. “São máscaras sociais, de uso pontual, não certificadas”, Susie faz questão de dizer, enquanto explica que cada unidade vem com dois filtros de TNT e custa € 10 (adulto) e € 9 (criança).