Portugal: de pior país do mundo a melhor da Europa
As medidas que funcionaram para conter a pandemia no país desde janeiro – e o que podemos aprender com isso
Não existe milagre. Para conter a pandemia e o descontrole nos números, todos os experimentos no mundo já provaram: é preciso confinar e evitar o contato entre as pessoas, ponto. Portugal saiu de uma fase ultra crítica em janeiro, quando liderou todos os piores cenários mundiais, tinha os hospitais lotados e as estatísticas diárias eram um desalento que parecia não ter fim, para se transformar no país com o melhor cenário na Europa, título que ocupa agora. Como? Fechando. Sem meias medidas, sem meias palavras e com controle rigoroso.
Não cabe a mim – e muito menos a este blog, em uma plataforma de viagens – entrar em méritos econômicos ou políticos. Me limito, portanto, a relatar o que aconteceu por aqui e que conseguiu, de fato, reverter o quadro. O resto é para os especialistas. Sendo este blog de turismo, vou me restringir a esta seara: como ficou o setor quando atingimos o pico da pandemia? O que podia funcionar e o que não podia? Quais eram as limitações?
Para começar, é preciso dizer que o estado de emergência (decretado em janeiro e renovado a cada 15 dias) decretou o dever civil de ficar em casa. Ou seja, só era permitido sair para atividades consideradas essenciais. O home office virou obrigatório, o comércio fechou, houve toque de recolher. Mas como ficaram os hotéis, os restaurantes, as atividades de lazer? Aos fatos:
Restaurantes: fechados, só funcionando em regime de delivery e take-away.
Isso fez não apenas com que os apps de entrega bombassem, mas com que os restaurantes criassem métodos próprios de entrega e soluções criativas, como workshops de cozinha online. Surgiu até mesmo um app de entrega de comidas exclusivo para restaurantes gourmet, o Volup. As mesas ao ar livre voltam a poder funcionar no dia 5 de abril, com limite máximo de 4 pessoas.
Hotéis: facultativo.
Muitos optaram por fechar, mas muitos ficaram abertos, funcionando como alternativa à quarentena em casa, mas com medidas especiais: restaurantes fechados, alimentação só no quarto e uso de espaços comuns (como a piscina) em esquema de rodízio, com um quarto por vez, por exemplo.
Fronteiras: controladas.
Voos proibidos para alguns destinos (como o Brasil e a Inglaterra), viagens de lazer proibidas, fronteiras terrestres fechadas por um bom tempo.
Parques, jardins, praças, praias: com restrições.
De maneira geral, podiam ser frequentados apenas para exercícios físicos e para quem morava nos arredores (sem permissão de permanência). Os calçadões das praias ficaram fechados por semanas e só recentemente voltaram a abrir para a prática de exercícios físicos.
Museus, galerias de arte e monumentos: fechados.
Só voltam a abrir no dia 5 de abril.
Cafés e lanchonetes: abertos para venda apenas de comida – e na porta.
No início podiam vender bebida também, mas o cafezinho começou a gerar aglomerações e foi logo cortado.
Circulação: limitada e controlada.
Nos finais de semana, entre 20h de sexta e 5h de segunda, ficou proibido o deslocamento entre concelhos (não há equivalência no Brasil – a definição mais palpável, a meu ver, é região metropolitana). Nesta semana que antecede a Páscoa está proibido desde a sexta, dia 26 de março, até a segunda, dia 5 de abril. O policiamento é pesado. Quem desrespeitar, pode pagar multas de até € 1.000 (e ainda assim ter que voltar pra casa).
Vale lembrar que as baladas estão fechadas desde março do ano passado, que os bares também não voltaram a abrir, que os festivais de música foram cancelados (inclusive muitos que estavam remarcados para este ano já passaram para 2022, caso do Rock’n Rio, por exemplo) e que mesmo agora, com o plano do desconfinamento, a reabertura vai ser gradual, dependendo da realidade de cada região. O processo começou lentamente no dia 15 de março, mas os restaurantes, por exemplo, só podem voltar a abrir no dia 19 de abril – ainda assim, com restrição de pessoas e horários. O controle de casos será rigoroso – e as medidas de abertura podem ser suspensas sempre que a situação piorar. O estado de emergência pode durar o ano inteiro, assim como a obrigação do home office. Enquanto a vacinação na Europa estiver a passos de tartaruga, o cenário não deve mudar.